Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Diana Pequeno e Dércio Marques - Jornal do Disco (1980)

Em sua edição nº 16 (abril de 1980) a revista SomTrês trazia no Jornal do Disco, que vinha encartado na publicação, uma matéria sobre casais formados por cantores e músicos. Foram destacados os casais Elis Regina e César Camargo Mariano, Rita Lee e Roberto de Carvalho, Ivan Lins e Lucinha Lins, Cascatinha e Inhana, Fafá de Belém e Raul Mascarenhas, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Jane e Herondi e Diana Pequeno e Dércio Marques. Como se vê, foram destacados representantes de diferentes áreas - MPB, rock, sertanejo de raiz, instrumental, brega, etc. No caso de Diana e Dércio, que eu escolhi para destacar nessa postagem, eles representavam uma MPB de raízes rurais, seguindo uma linha que ficou rotulada na época como 'new caatinga", que envolvia outros artistas como Carlos Pitta, Dorothy Marques, Irene Portela, além, é claro, de Elomar Figueira de Mello, uma espécie de porta-voz do movimento. Diana continua na ativa, após um período de afastamento. Dércio, infelizmente, faleceu em 2012, deixando um trabalho consistente, que merece ser melhor divulgado e avaliado. A matéria, que não é assinada, trazia em seu título "Diana e Dércio: importante é não esquecer a estrada":
"A baiana Diana Pequeno - uma morena de cabelos longos e crespos, olhos escuros e sobrancelhas grossas - estudava engenharia e sociologia na Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Curtia muito o grupo de músicos com quem apresentava um repertório de Violeta Parra, Fagner e Ednardo, na escola e no interior da Bahia, sempre como amadores.
O mineiro e filho de uruguaios, Dércio Marques, 32 anos, um estradeiro inquieto por formação, músico voltado para os sons da terra e do interior latino-americano, desembarcou em Salvador para fazer um show junto com sua irmã Dorothy Marques.
'Ele foi me caçar lá', conta Diana, 22 anos, lembrando o show, que assistiu em 1977, quando descobriu mais a música latino-americana e se apaixonou pelo som da caatinga que o compositor Elomar, amigo de Dércio, mostrou para os dois em Vitória da Conquista. Depois de uma viagem pelo sertão, a carreira e a vida de Diana e Dércio se interligaram. 'Uma ligação espiritual', define o compositor, cantor, arranjador e produtor, que acredita existir 'o mesmo diapasão-terra de Atahualpa Yupanqui e Violeta Parra na música de Diana Pequeno'.
Em novembro de 1978, depois de seis meses de negociação, Diana assinou contrato com a RCA, que andava em busca de novos valores. Garantiu para si uma cláusula que lhe reservava independência artística na gravação dos discos. Isso, além de lhe permitir que 'minha imagem fosse eu mesma', propiciou a continuidade do relacionamento com Dércio.
O inquietante viajante, sempre à procura da música da terra, acabou permanecendo dois anos em São Paulo, seis meses dos quais produzindo o LP de Diana Pequeno, Eterno Como Areia, o segundo da cantora. 'Não havia ninguém que pudesse produzir a minha música, uma espécie de neofolclore, a não ser  o Dércio', diz Diana. Ela tem certeza que se dependesse da gravadora, não seria  Dércio o produtor e o disco seria bastante diferente.
A cláusula contratual faz Dércio comentar; 'Um gesto, muita vezes, é maior que uma revolução. Meu sentimento de liberdade é maior que qualquer coisa. Não sei se conseguiria trabalhar se não fosse assim.'
Atualmente, eles moram num sobradinho de uma vila no Paraíso, em São Paulo. Repleta de adornos indígenas e de países latino-americanos, a casa é simples e vive desorganizada, como eles próprios comentam: 'Não paramos muito aqui, comemos na rua, quase sempre em restaurantes vegetarianos', afirma Dércio.
As maiores preocupações do casal - que estranha muito ser chamado de casal - estão ligadas às carreiras. Diana procura músicos para seus próximos shows e não pretende mais ser acompanhada por Dércio que, depois de dois LPs, já tem seu trabalho individual definido. Aguarda o festival da Globo, onde vai defender uma música de Chico Maranhão, 'De Verdade" (*), o meso compositor do frevo 'Gabriela', sucesso dos festivais da década de 60. Além disso, cuida da divulgação do novo LP, apresentando-se no Fantástico e levando seus discos para tocar na rádios, num trabalho já menos árduo que o anterior, quando comprava suas próprias gravações para distribuição.
Dércio, por sua vez, vai defender 'Canto de Amarração' no festival da Globo e produzir um LP em homenagem a seu irmão, Darlan, falecido recentemente. Vai gravar, também, uma montagem de disco e teatro independente, chamada 'Alto da Caatingueira', trabalhando com Elomar. Depois disso, quer voltar a viajar. 'Se a minha carreira estiver bem, eu não vou junto. Não dá para estruturar minhas coisas em função da vida dele', garante Diana, que faz questão de mostrar a concepção independente que tem na vida a dois. "

(*) o nome correto da música é "Diverdade"

2 comentários:

  1. Época mágica, em que esperávamos ansiosos na recém chegada FM por novos lançamentos destes músicos únicos e começávamos a contar as moedas para comprar o LP (que por sinal não eram baratos). Diana representa a deusa também caçadora de corações de jovens ávidos com um horizonte azul amplo e infinito. Eta geração que acreditava!

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  2. Época de novas e boas cantoras, final dos anos 70 mais de 50 cantoras lançadas.

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