Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Rock Brasileiro, do Início até a Década de 70 - Revista Especial Rock Vol. 2 (1978) - 2ª Parte

"E assim era para a maioria dos músicos pop. Arnaldo Baptista refere-se ao que foram os Mutantes com muita nostalgia: 'Os Mutantes foram um grupo muito bom e muito importante para a música pop. Certamente será uma lacuna difícil de se preencher. Rita tomou seu caminho, eu estou me preparando para algumas excursões, e Sérgio continua firme com a ideologia dos Mutantes. Uma pena a separação.'
Mas nem tudo é pessimismo no cenário pop brasileiro. O Terço, mudando sua linha musical, com a incorporação de novos músicos, vê com otimismo o futuro do grupo: 'Vamos fazer o que chamamos som urbano, música da cidade, o que não deixa de ser rock. O problema todo é que fazemos um som brasileiro que se caracteriza e identifica com o rock. Mas quando o pessoal vê a gente com uma guitarra na mão, já pensa logo em rock pesado, o que limita o trabalho e a criação do grupo.'
Raul Seixas
Assim também acontece com o Made In Brazil, cujo líder Oswaldo explica: 'O Made não se definiria como sendo punk, mas isso não nos afeta. Nossa preocupação é com o ritmo, letra fácil de ser assimilada e principalmente que seja boa para  a moçada dançar Já perdemos nossas influências, só conservamos o ritmo, a cadência. Afinal, somos brasileiros, e o Brasil é diferente de qualquer lugar do mundo.'
Talvez seja Raul Seixas, entre todos os músicos, o que melhor se utiliza das letras para mandar sua mensagem; 'aprendi, com o tempo, que tenho que estar com um pé na terra outro no céu. Faço um embrulho bonito do que eu quero dizer. A música é uma embalagem do que sei fazer. Poderia ter sido escritor, mas canalizei tudo para o rock.'.
Enfim, os pobres grupos brasileiros nunca puderam sair de um submundo artístico por falta de um apoio publicitário, de verbas e até criatividade. Nomes como Sindicato, A Chave, Bixo da Seda, A Bolha, Urubu Roxo e tantos outros viveram apenas meses de alegria e sucesso. Restam apenas Rita Lee e Tutti Frutti, Joelho de Porco (estes impulsionados pela máquina global), O Terço e Mutantes."
Lendo a matéria, podemos ver que o texto é bem resumido, já que a própria revista não tem muitas páginas, e outros assuntos são levantados. Em apenas duas páginas, com bastantes ilustrações, realmente não se poderia fazer uma matéria mais abrangente, mostrando outras facetas do rock nacional. Faltaram, por exemplo, citações aos Secos & Molhados, um grupo que revolucionou não só o rock, como também a MPB de uma forma geral, fazendo um sucesso estrondoso entre 1973 e 1974 com seus dois LPS de estúdio. Outro ícone de nosso rock, e que expandiu outra tendência para o nosso rock também não foi citado, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, que lançou o rock rural. Também os Novos Baianos e sua fusão de rock, samba e chorinho não são citados, assim como tantas outras bandas e artistas que hoje são reconhecidos e lembrados em qualquer referência que se pretenda mais abrangente da história do nosso rock, como Casa das Máquinas, A Barca do Sol, Veludo, Ave Sangria, etc.
Bixo da Seda
Mesmo assim, achei interessante reproduzir a matéria por ela ser de época, de uma fase em que o rock brasileiro atravessava um período um tanto difícil em termos de mídia, já que na época (1978) o grande sucesso comercial era a disco music, e por isso as gravadoras se preocupavam mais em promover lançamentos mais voltados para esse segmento.
O final do texto cita alguns poucos grupos, que segundo o autor,ainda sobreviviam, dando a entender que o nosso rock passava por um período de ostracismo e falta de renovação. É interessante observar que diante de um quadro desanimador revelado pela matéria, uma nova geração já ensaiava uma renovação no panorama do nosso rock, e que viria a acontecer alguns anos depois. A geração dos anos 80, formada por garotos ainda amadores e atentos a tudo que se produzia em termos de rock internacional, estavam prestes a entrar em cena mais amadurecidos e com novas propostas, e à sua maneira ganhar a mídia, despertar o interesse das gravadoras, e criar uma geração de ouvintes, que ainda estava começando a ouvir música, e buscando identificações, transformar o rock nacional em um estrondoso sucesso comercial.

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