Desde adolescente eu tenho o hábito de comprar e colecionar revistas sobre música. Quem acompanha esse blog já deve ter visto várias postagens sobre revistas musicais de várias tendências e estilos. Muitas dessas publicações são de vida efêmera, algumas só tendo um ou dois números publicados. Normalmente essas revistas a que me refiro eram produzidas em editoras pequenas, com distribuição precária. Algumas dessas publicações vinham cobrir uma lacuna no mercado editorial, enfocando temas pouco explorados, muitas vezes por não terem um grande apelo comercial.
Um desses casos é o da revista Hobo, uma publicação bimestral que chegou às bancas em 1996, e que era especializada em blues. A pequena Abraxas Editora era responsável pela publicação, e a revista durou apenas dois números - pelo menos esses foram os dois únicos números que encontrei nas bancas. No segundo número há inclusive uma carta que enviei à editora elogiando a iniciativa:
O número 1 trazia em seu editorial:
"Segundo o Webster's Dictionary 'hobo' quer dizer trabalhador imigrante ou, numa outra acepção, vagabundo. A imagem do hobo, o viajante errante e sem destino, com o rosto marcado pelas histórias que viveu em seu caminho, é também a imagem de um gênero musical que vem influenciando toda a música do mundo ocidental, desde o princípio deste século: o blues.
A intenção desta revista é trazer para o público brasileiro algumas impressões da grande viagem empreendida pelo blues - desde as origens, até hoje - através do trabalho de alguns de seus maiores intérpretes e criadores, espalhados pelo mundo afora. (...)"
Com textos baseados em pesquisas sobre as origens e a história do blues, trazendo boas fotos, o primeiro número, entre outras coisas, conta a história do mitológico Robert Johnson, e toda a lenda que envolve sua história. Fala também em outras figuras históricas dos primórdios do blues, como H.C. Speir, Johnny Shines e Sonny Boy Williamson. Outra matéria da revista é com um dos maiores bluesmen brasileros, Andre Christovam. Um conto do escritor Erskine Calwell também faz parte do volume. Um relato sobre as origens do Rhythm and Blues, e uma explicação sobre esse rótulo musical e suas variantes é também uma matéria interessante. A revista termina com quadrinhos, trazendo uma mostra do antológico livro Blues, do lendário quadrinista underground americano Robert Crumb.
O segundo número de Hobo veio mais volumoso - 86 páginas (o primeiro tinha 50). Assim como no número anterior, a revista conta histórias ligadas às origens do blues, como "Histórias de negros e de blues", 'Blue ladie's blues", que fala da presença feminina na história do blues: Mamie Smith, Ma Rainey (que é destacada na capa), Bessie Smith e Memphis Minnie. Traz também uma entrevista com a cantora brasileira Rosa Maria Colin. A revista destaca ainda o festival Nescafé & Blues que aconteceria naquele ano, e que traria nomes como Blue Jeans, John Hammond & Duke Robillard, Sérgio Dias, Johnnie Johnson, Charles Brown e Los Lobos, dentre outras atrações. Novamente uma amostra do livro de quadrinhos Blues, de Robert Crumb é publicada, assim como mais um conto tendo o blues como tema. A revista termina com uma matéria sobre o Soul, e dando continuação a matéria em destaque na edição - "Blue ladie's blues", um destaque para Etta James. Uma sessão sobre lançamentos de discos do gênero também faz parte da revista, que infelizmente, talvez não tenha chegado a uma terceira edição.
Boa Márcio! A revista realmente só teve duas edições. Abraço.
ResponderExcluirObrigado, Marcos, pela confirmação
ResponderExcluirhttps://issuu.com/donyaugusto/docs/hobo1
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