Em 1967 a cidade de San Francisco, na Califórnia, era a meca do movimento hippie. Naquele ano aconteceu um fenômeno que ficaria conhecido como o "Verão do Amor". Já no início daquele ano, os hippies que se concentravam na cidade chamaram a atenção para a força do movimento ao convocarem uma "Reunião de Tribos" no Golden Gate Park para o chamado World's First Human Be-In. O professor universitário e pesquisador de drogas sintéticas, como o LSD, Thimothy Leary e o poeta beat e ativista Allen Ginsberg ganhavam o status de gurus de uma nova era. Um jornalista na época descreveu esse encontro como "vinte mil ciganos brancos, cantando, dançando, cobertos de flores, colares e pulseiras de contas".
A partir daí previu-se que cem mil flower children (como também eram conhecidos os hippies) invadiriam a cidade em junho para o "Verão do Amor". Na verdade, os cem mil jovens previstos não chegaram na cidade no mesmo dia, mas circularam lá no decorrer daquele verão, causando um grave problema para as autoridades de San Francisco. Os hippies reivindicavam casa, comida e assistência médica, mas as autoridades não viam com bons olhos aquela invasão. Mesmo assim, a comissão de parques concedeu várias áreas da região de Haigh-Ashbury para que eles se alojassem com seus sacos de dormir.
Porém, como tudo que vira modismo acaba perdendo sua autenticidade, muitos dos jovens que faziam parte daquela multidão não se enquadravam na filosofia do movimento, e estavam ali somente para ver de perto toda aquela agitação, e se sentirem um deles, e ficariam conhecidos como "hippies de butique". Os hippies autênticos procuraram se refugiar nas comunas rurais da região, fugindo daquela badalação.
A revista americana Time, que sempre se preocupou em registrar fenômenos sociais e comportamentais dedicou uma matéria de capa em 7 de julho de 1967, em que dizia:
"Um sociólogo os chama de 'proletário freudiano'. Outro observador os vê como 'expatriados vivendo em nossas praias, mas além de nossa sociedade'. O historiador Arnold Toynbee os descreve como 'um sinal vermelho para o american way of life. Para o bispo James Pike, da Califórnia, eles evocam os primeiros cristãos: 'Há algo no temperamento e na qualidade destas pessoas, uma suavidade, uma calma, um interesse - algo bom.'
Para seus pais profundamente preocupados por todo o país, eles mais parecem párias sociais perigosamente iludidos, candidatos a uma boa surra e a um curso intensivo de moral e civismo - se apenas voltassem para casa para receber as duas coisas.
Qualquer que seja o seu significado ou o seu objetivo, os hippies emergiram no cenário norte-americano nos últimos 18 meses como uma subcultura totalmente nova, uma bizarra permutação do ethos da classe média americana a partir do qual evoluíram."
Em outro trecho da matéria, a revista destaca:
"Um senso crescente de utopismo domina a filosofia hippie. Ela tem pouco em comum com a autoritária cidade-estado descrita na República de Platão, ou com a Utopia de Sir Thomas More, que era uma ativa comunidade agrícola onde todo mundo trabalhava seis horas por dia. A inspiração hippie vem da Arcádia: é pastoral e primordial, enfatizando a unidade com a natureza física e psíquica. Northrop Frye, da Universidade de Toronto, professor de inglês e discípulo do filósofo das comunicações Marshall McLuhan, vê os hippies como herdeiros do 'proscrito e furtivo ideal social conhecido como o País de Cocanha, uma terra de conto de fadas em que todos os desejos podem ser instantaneamente gratificados.' "
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