Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Jaguar Fala Sobre o Pasquim - 1979

O jornal Pasquim foi criado em 1969, e nos anos da ditadura foi o principal órgão de resistência e crítica ao regime, o que, obviamente valeu a seus editores e colaboradores uma boa dose de repressão e prisões. Mesmo assim o jornal resistiu, e atravessou todo o período da ditadura militar, mesmo tendo que passar por enormes percalços. Se por um lado o jornal sofreu todo tipo de censura e perseguição, por outro, incomodou bastante os militares.
O jornal, que era semanal, em seu nº 521 (22 a 28/6/79) trazia uma edição especial de 80 páginas, comemorando os 10 anos de existência e resistência, trazendo colaborações de gente como Antônio Callado, Ferreira Gullar, João Saldanha, Luiz Carlos Maciel, Millôr Fernandes e Paulo Francis, dentre outros. Em seu texto de apresentação, o cartunista Jaguar, um dos fundadores e editores do jornal falava sobre os dez anos e a trajetória do Pasquim:
" 26 de junho de 69. Primeiro número do Pasquim. Levamos dois meses discutindo o nome do jornal. 'De qualquer maneira vão nos chamar de pasquim, assim a gente corta a deles', sugeri. Ficou Pasquim.
Outra longa discussão foi para determinar a tiragem. Fui voto vencido, achei que 20 mil era um absurdo, ia encalhar quase tudo. A edição esgotou. Já no número 20 comemoramos os 100 mil exemplares semanais, na nossa redação na rua do Rezende. Pouco tempo depois atingimos os 200 mil.
Crescemos tão depressa que quando a repressão quis acabar conosco não deu pé. Primeiro foi a escalada da censura. Começou sendo feita na redação, depois passou para a sede da Polícia Federal, na rua da Assembleia, depois em Brasília.
Seis anos de sufoco. E quando fomos liberados, justamente no número 300, pimba! apreenderam a edição. Tremendo prejuízo, como das outras vezes que isso nos aconteceu. Todos sabem que foi por causa do editorial do Millôr, mas os motivos alegados eram: a palavra 'porrada' num quadrinho dos Chopnics (de Ivan Lessa e minha) e uma dica de Millôr dizendo que Jakie O. nasceu de bum-bum pra lua. Com o recolhimento da edição ainda fomos brindados com mais um processo
Jaguar 
A prisão de 10 dos 12 fazedores do Pasquim, quinze meses depois de lançado o primeiro número, também não deu certo (para a repressão). Só Millôr e Henfil escaparam. O jornal continuou saindo. Washington Post e Le Monde espinafraram a arbitrariedade e a tão falada imagem no exterior ficou um pouquinho mais suja...
Entrou gente, saiu gente. Um jornal de alta rotatividade. seguimos nos calcanhares a marcha deste 'país que vai para a frente'. Para a frente de quê? Por favor, não me perguntem.
Quando o Pasquim foi lançado só existia meia-dúzia de desenhistas de humor no Brasil. Não havia na época a menor abertura para o aparecimento de outros, o mercado estava fechado. Nestes anos já lançamos dezenas de desenhistas, a maioria vive, ou sobrevive, profissionalmente do cartum.
Edição histórica com Leila Diniz

Fotografamos e dicamos dezenas de mulheres lindas e maravilhosas. Entrevistamos um monte de gente. Foram 10 anos de teimosia, 10 anos de briga, 10 anos de oposição. O que - como dizia Groucho Marx - dá a soma de 30 anos.
Tivemos pelo menos o mérito de tirar o paletó a gravata do linguajar jornalístico. Botamos em pé o ovo de Colombo da linguagem falada. O beletrismo jornalístico sifu, espero que para sempre, com seus 'outrossins' e 'destartes' (exceto nos editoriais do Globo). O fato é que os leitores desde o começo nos deram força e nunca nos deixaram na mão, pouco ligando para as espinafrações que levam na seção de cartas.
Millôr, no número 1, nos deu o seguinte aviso: 'se essa revista for mesmo independente, não dura três meses. Se durar três meses não é independente'. "

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