A música Rock'n Raul, de Caetano Veloso causou polêmica. Muita gente achou que Caetano estava criticando a postura rocker e americanizada de Raul no verso "Uma vontade fela da puta de ser americano". A música, além disso, e por causa de outro verso, acabou acirrando um bate-boca pela imprensa entre Caetano e Lobão, que continua até hoje, apesar de momentos de trégua. A respeito de Rock'n Raul, Caetano comentou no volume 8 da coleção Caetano 70 Anos, que sai semanalmente nas bancas de revistas:
"Uma vez, um cara na Bahia, um rapaz jovem, me chamou e quase me agrediu fisicamente. Ele me puxou, meio agressivo: 'Pô, por que você foi falar de Raul? Quem é você pra esculhambar com Raul na letra da música?' Eu respondi: 'Mas eu nunca esculhambei com Raul, eu adoro Raul!' E ele ficou lá, brigando pra burro por causa dessa música'.
Agora saiu algo no Jornal do Brasil - que não existe mais no mundo real, só no virtual. Mas alguém escreveu defendendo o Raul contra a suposta 'condenação cultural' dele, feita por mim nessa canção, quando na verdade é uma ode à grande figura histórica do rock no Brasil! O problema é porque eu falo da 'vontade feladaputa de ser americano', como se isso fosse irreal ou pejorativo, ou se eu estivesse acusando Raul de algo ruim. É 100% real e bem na linguagem dele..."
Para confirmar as palavras de Caetano, transcrevo alguns trechos de uma matéria sobre Raul Seixas, publicada no Jornal de Música nº 26, de novembro de 1976, em que o músico e jornalista Gabriel O'Meara fala de Raul como músico, e traz como título justamente "Raul, O Músico: Queria Ser Americano":
"O estilo de guitarra de Raul é extraído de um antigo mestre do rock'n roll, Scotty Moore. Scotty foi o guitarrista de Elvis Presley em suas primeiras gravações. Raul não domina o instrumento a ponto de poder tocar os solos agressivos de Scotty, que são tão imitados por gente como Jerry Garcia e Jimmy Page. Mas aquele ritmo shang-a-lang tão típico dos discos antigos de Elvis está sempre presente nas gravações de Raul(...)
Raul tem obsessão em ser americano, e uma certa frustração por não ser, então ele tenta se aproximar o mais possível das coisas americanas. Sua mulher atual e sua ex-esposa são americanas, sua coleção de discos é 99% americana."
À respeito de uma suposta rixa entre os dois baianos, Caetano, na mesma entrevista , esclarece que ela nunca houve. É bem verdade, que na época em que os dois se iniciavam na música em Salvador, viviam em lados opostos: Caetano, Gil, Tom Zé, Gal, Bethânia e outros músicos eram influenciados pela Bossa Nova, e não se misturavam com o pessoal do rock, do qual Raul fazia parte. Enquanto os futuros tropicalistas consideravam os roqueiros um tanto alienados e músicos medíocres, a galera do rock tachava o outro grupo de chatos e metidos a intelectuais. Mas anos mais tarde o próprio Raul teceu elogios ao caráter anárquico do Tropicalismo, que também exerceu influência em seu trabalho, basta ouvir o disco coletivo "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez". Sobre sua relação com Raul, Caetano fala:
"Depois do Tropicalismo, quando eu voltei de Londres, ele era produtor e tinha feito aquele disco coletivo. Ele me chamou na casa dele, era casado com uma americana. Eu fui lá numa boa, almoçamos e tal. Ele gostava muito de mim porque a gente tinha muita identificação, afinal a gente era careta. Nem ele, nem eu tomávamos drogas, nem bebíamos, nem fumávamos, nem fazíamos nada. A gente fumava cigarro careta, mas ninguém tomava droga nenhuma. E também porque a gente tinha 48 quilos, éramos os dois muito magros. Raul era muito amigo, muito amigável, sempre. Depois foi pirando, mas continuou meu amigo."
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