terça-feira, 1 de junho de 2010
Chico, Mutantes e a Censura
Há algumas postagens atrás falei do livro Entrevistas Bondinho, extraídas no início dos anos 70. Como se trata de um livro de entrevistas, que não exige uma leitura contínua, venho lendo aos poucos, quando me sobra algum tempo, normalmente no horário entre o final do almoço e a hora de sair pro trabalho. Já li algumas entrevistas, como as de Chico Buarque, e Mutantes, dentre outras. A de Chico revela um compositor em seu auge criativo. Tinha acabado de lançar Construção, hoje considerado um dos melhores discos já lançados no Brasil. Chico tinha na época 26 anos, e se mostrava um tanto frustrado e revoltado pela perseguição que os órgãos de censura do governo militar exerciam sobre sua obra. O compacto com Apesar de Você, por exemplo, acabava de ser proibido e recolhido das lojas. Abaixo em um trecho da entrevista lhe é perguntado sobre "músicas oficiais", ou seja, músicas feitas para exaltar os feitos da ditadura, como por exemplo, Pra Frente, Brasil, da dupla Don e Ravel.
- Você acha que é possível saírem músicas oficiais maravilhosas só porque são tecnicamente bem feitas?
- Não sei. Eu acho que há vários compositores, eu não sou tecnicamente bom compositor, acho que sou bom compositor porque sei fazer minhas músicas... Mas há compositores tecnicamente bons que poderiam fazer música em qualquer sentido. Poderiam ser ótimos jingleístas, formidáveis. Esses que estão aí são muito ruins. Don e Ravel são horríveis, e são primários, entende? São compositores de colégio, parece aquelas músicas de formatura.Um porra desses Don e Ravel são péssimos músicos, péssimos caráter, péssimos em tudo.
Em outra entrevista, os Mutantes falam do disco Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, e do problema que tiveram para liberar uma das músicas.
- Vocês tiveram algum problema com esse último disco?
- Arnaldo: Tem uma música que se chama O Cabeludo Patriota que os caras acharam que é uma gozação com alguma coisa e tal, e nós tivemos que mudar para A Hora e a Vez do Cabelo Nascer. E nós tivemos que mudar um pouco a letra também. Era assim: "Meu cabelo é verde e dourado violeta e transparente/Minha cara é purpurina/Minha barba é azul anil".
É o retrato de uma época, quando a censura e a repressão marcavam sob pressão.
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