Palavras Domesticadas

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terça-feira, 18 de maio de 2010

Na companhia dos vinis


O mercado de música mudou radicalmente nessa primeira década do séc. XXI. Para se adequar aos avanços tecnológicos, que cada vez mais vem tornando o disco em seu aspecto físico (aquele que a gente segura, manipula)algo obsoleto. Aliás, a própria palavra "disco" hoje traz em seu conceito uma ideia um tanto saudosista.
Quando, no final da década de 80, o cd começou a ganhar espaço nas prateleiras das lojas, era algo ainda distante do consumidor comum,de classe média. A partir da metade dos anos 90, esse formato foi ganhando cada vez mais espaço, e consequentemente, os discos de vinil foram desaparecendo do mercado, e os lançamentos, que até então vinham nos dois formatos,passaram a vir só em cd. Para ser mais preciso, um terceiro formato, que era a fita k-7, também foi abolido.
Lembro de quando um amigo, também colecionador de vinis, me falou que os lps seriam brevemente abolidos do mercado, eu contestei, mais como um instinto de defesa de um amante dos vinis, do que propriamente de alguém que observava as mudanças que aconteciam.
Eu vi na época em que o cd entrou no mercado, pessoas se desfazendo de seus lps, os achando defasados, e com qualidade inferior de áudio. Até o fator espaço era argumentado para se realizar essa troca radical, pelo fato dos cds serem muito mais fáceis de se armazenar. Isso foi algo que nunca, em nenhum momento passou por minha cabeça, pois naqueles bolachões estava um pouco de minha história, dos cinemas que deixei de ir para economizar, dos momentos de alegria que tive ao encontrar determinado disco, das audições emocionadas que fiz de vários daqueles álbuns, do tempo que levava observando as artes da capas e lendo os encartes.
Li recentemente uma entrevista de Moby, músico moderno, que surgiu em plena era dos arquivos multimídia e todas as adaptações do mercado. Em um trecho da entrevista, lhe é perguntado:
- O fato de as pessoas ligarem cada vez menos para o conceito de álbum completo o aborrece?
- Sim, porque quando eu estava crescendo, os discos eram meus melhores amigos. Eu voltava da escola e todos os dias ficava pensando que disco ia escutar. Sentava, colocava o vinil e ficava olhando a arte, lendo cada linha. O álbum é uma forma de entrar no mundo de outra pessoa por mais ou menos uma hora. Entendo que o mundo da música mudou, mas eu ainda tento fazer discos completos, esperando que alguém vá escutá-los.

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