Mais livros chegando. Isso é bom, embora eu não esteja conseguindo acompanhar o ritmo, ou seja, colocar a leitura em dia. O último que recebi, chegou ontem: Entrevistas Bondinho. Trata-se da reunião de várias entrevistas feitas pela revista alternativa Bondinho, durante o ano de 1972. São 34 entrevistas de gente como Tom Zé, Chico Buarque, os Mutantes, Rogério Duprat, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Zé Rodrix, Novos Baianos, Jorge Mautner, e muitos outros. Ouvi muito falar sobre essa publicação que circulava nos anos 70, mas nunca tive acesso, e agora através desse livro, posso ler as entrevistas, e saber um pouco mais da época, e o movimento cultural que acontecia. Apesar de já ter lido bastante sobre a Bondinho, não conhecia a sua história. A primeira edição foi em outubro de 1970, e inicialmente era um guia de informações sobre a cidade de São Paulo, e era distribuído pela rede de supermercados Pão de Açúcar. Após um ano circulando nessas condições, a revista se tornou independente, e passou a circular em bancas de jornal, distribuída em outras cidades, e modificou sua linha editorial. Não era fácil se manter uma publicação cultural naquele início dos anos 70, com a ditadura militar e a censura sempre presentes, impedindo o direito à liberdade de expressão. Mesmo assim a Bondinho, assim como outros órgãos independentes da chamada “imprensa nanica”, conseguiu sobreviver, chegando a publicar 13 números como publicação independente. Com essa edição, publicada pela editora Azougue, podemos ter acesso às entrevistas feitas na época, e conhecermos mais um pouco do que era feito, e termos uma ideia de como era sobreviver de arte num período tão difícil, marcado por uma repressão sem limites. A imprensa underground, ou “udigrudi”, como era conhecida na época, representava um polo de resistência contra o regime ditatorial, por isso muitas delas tiveram vida curta. O órgão de imprensa mais conhecido na época era o jornal O Pasquim, até teve uma vida longa, mas foi duramente perseguido, tendo vários de seus editores presos e perseguidos pelo regime. Recentemente inclusive, Jaguar, um dos diretores do jornal recebeu uma indenização de um milhão de reais, de um demorado processo que moveu contra a União, pelas inúmeras perseguições que sofreu dos órgãos repressores oficiais. Outras publicações, como Verbo Encantado, Flor do Mal, Navilouca, Presença, Rolling Stone (primeiro formato, de 72) e a própria Bondinho traçam um panorama do que era produzir cultura e contracultura numa época em que fugir da cultura oficial era uma ato marginal. Entrevistas Bondinho já está na fila de leitura, e brevemente comentarei o que li.
sábado, 1 de maio de 2010
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Caro Márcio,
ResponderExcluirSou um investigador que cruza antropologia, teatro e política sobre um grupo de teatro universitário português, o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra). O encenador Victor Garcia, parece-me, tem uma entrevista nessa revista que é impossível encontrar aqui em Portugal. Seria pedir de mais a si se é possível fotografar essa entrevista e me enviar? Ficaria muito agradecido. (ricardoseica@gmail.com)