Palavras Domesticadas

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terça-feira, 14 de março de 2017

The Who - Um Grito de Rebeldia na Vanguarda do Rock Inglês (1975)

A banda inglesa The Who faz parte da história do rock de uma forma decisiva. Sem dúvida, uma das melhores bandas surgidas na fase áurea do rock - anos 60/70, o The Who é anunciado como uma das atrações do próximo Rock In Rio. É lógico que não se pode comparar a banda atual com a formação original, com os falecidos Keith Moon e John Entwistle, uma das mais poderosas cozinhas de uma banda de rock. Mas não se pode deixar de levar em conta que Pete Townshend e Roger Daltrey, guitarra e voz dessa verdadeira instituição do rock estarão no palco, mesmo com o peso da idade e sem a companhia de seus parceiros dos áureos tempos. Mas não se pode ignorar o peso que representa o nome The Who, e resta torcer para que a dupla original e os dois substitutos ainda mantenham acesa a chama de uma das bandas mais eletrizantes de todos os tempos.
A matéria que transcrevo abaixo é da fase áurea da banda, publicada em maio de 1975, pela revista Pop, com texto de Valdir Zwestsch:
"No início de sua carreira, no começo dos anos 60, o conjunto inglês The Who era conhecido principalmente pelo potente volume de som, pela energia inesgotável dos músicos e pela violência destrutiva de seus shows. Invariavelmente, o baterista Keith Moon quebrava as baquetas, o cantor Roger Daltrey inutilizava de quatro a cinco microfones por noite e  o guitarrista Pete Townshend encerrava o espetáculo batendo furiosamente com sua guitarra sobre caixas de som e amplificadores até destruí-la completamente. Como num ritual, alguns pedaços do instrumento eram jogados ao público. Os outros, Pete recolhia cuidadosamente e pendurava na parede de seu apartamento, como troféus de uma batalha.
Pete Townshend
Essa violência, que levava os ouvintes ao delírio, não era gratuita. Na verdade, era uma manifestação quase sempre espontânea do inquieto gênio criador de Pete Townshend, o líder e autor das canções do grupo. E refletia uma sólida compreensão do momento em que eles viviam.
Mas violência, ritmo, técnica e barulho não bastam para fazer de músicos um grande grupo de rock. Por trás disso deve haver, principalmente, muita sensibilidade. E aí está o grande trunfo do Who: o conjunto, em termos musicais, está acima de qualquer suspeita.
Pete Townshend é um dos maiores compositores da música pop contemporânea. Com imaginação fértil e inesgotável, com inteligência extraordinariamente analítica e com aguda percepção dos dramas humanos, Pete consegue, em suas letras, uma dosagem equilibrada de rudeza e ternura que mexe nas entranhas de cada um dos ouvintes. Seu tema preferido é o ser humano, que ele retrata através de personagens marginalizados pela sociedade. Logo após vem o interesse pela tecnologia e o terror/fascínio que exercer sobre as pessoas.
Roger Daltrey
Mas, o mais importante, é que Pete consegue colocar essa visão intelectual sobre a música sem jamais comprometer sua espontaneidade. Assim, com a participação vigorosa das personalidades dos outros três elementos - o vocalista Roger Daltrey, o baterista Keith Moon e o baixista John Entwistle - , o Who mostra uma música viva, que mexe com o corpo e com  a cabeça.
O Who deu o primeiro grande exemplo disso em 1968, quando lançou Tommy, primeira ópera-rock da história, considerada até hoje como uma das grandes obras-primas da música popular. Em Tommy, Pete e o Who contam a história de um garoto cego, surdo e mudo que só consegue liberar os sentidos quando joga flipperama. Na verdade, a história de Tommy é praticamente a história de todos os jovens ingleses dos anos 60. E valeu para o Who, além de muito dinheiro, da gravação de um álbum com a Sinfônica de Londres e de um filme de Ken Russel (lançado recentemente nos Estados Unidos e Europa), a consagração definitiva.
John Entwistle
No ano passado, o grupo voltou a atacar com outra ópera-rock escrita por Pete: Quadrophenia. A ideia não foi muito bem recebida pela crítica e pelo público: 'Seria uma tentativa vulgar de repetir a fórmula de Tommy?' Mas, quando o disco foi lançado, todo mundo teve que reconhecer: Quadrophenia, contando a história de Jimmy, um cara que cresceu ao som do rock dos anos 60, era outra obra-prima indiscutível.
Assim, foi mais uma vez provada a genialidade de Pete Townshend e a vitalidade do Who, grupo que sobrevive há mais de uma década com os mesmos elementos. No começo do ano, todos os quatro estavam envolvidos em projetos individuais. Mas aguardavam com ansiedade o momento em que Pete terminasse de escrever novas músicas, para chamá-los a um estúdio de gravação. De onde deverá sair uma nova obra-prima. "



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