sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Artur da Távola fala de Elvis - Parte 1
Dois dias após a morte de Elvis Presley, acontecida em 16/08/77, o jornalista e escritor Artur da Távola, codinome de Paulo Alberto Monteiro de Barros, escreveu uma bela crônica sobre o rei do rock. Artur da Távola, que na época era cronista de O Globo, depois entrou na política e se elegeu senador. Morreu há alguns anos, e deixou uma bela obra literária. Por se tratar de uma crônica longa, vou dividi-la em duas partes.
"Elvis Presley é mais um exemplo de algo que merece a meditação da gente: todo antecipador, depois da vigência daquilo que antecipou, se torna antigo e consevador dentro do que ele mesmo revolucionou.
A velocidade da realidade é tão grande que o homem nunca percebe a celeridade com que as coisas mudam a seu lado. A tendência do homem, dos países, dos movimentos políticos, das revoluções, etc, é sempre a de conservarem intactos os elementos que os causaram ou motivaram, o que é paralisante exatamente daquilo que movimentou e agitou estabilidades anteriores.
Mas fiquemos com Elvis, tema bem menos polêmico:
A volta dele há poucos anos, depois de ter sido considerado um marco, um nome, um figurão das passadas glórias, mais um da onda nostálgica etc, revela o quanto o artista antecipatório fica (ou parece como) conservador quando aquilo que ele antecipou passa a ser norma na sociedade.
Explico om que estou querendo dizer: quando Elvis, na década de 50, apareceu com um rock de branco que misturava algo das baladas caipiras norte-americanas com algo da música negra (lembremo-nos que ele é do sul dos Estados Unidos), ele estava, em primeiro lugar, antecipando, com essa fusão, uma evolução da sociedade norte-americana na direção da integração racial, uma necessidade do país. E o que o rock de Elvis fundiu antes veio a se intensificar depois, graças, até, a medidas governamentais e rigorosa legislação contra a odiosidade racial incompatível com o alto nível civilizatório da nação norte-americana.
Mas em segundo lugar o comportamento cênico de Elvis estava simbolizando uma liberação sexual e uma desrepressão do corpo que, também elas, viriam revolucionar a história do comportamento humano no século 20, principalmente depois que a pílula retirou da comunhão sexual o risco (seria a glória em vez de risco?)da procriação.
O simbólico sempre antecipa. O que o inconsciente humano expressa através de símbolos é aquilo que que já percebeu, já pressentiu, mas ainda não conseguiu conceituar, definir, catalogar, racionalizar, ordenar."
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