Volta e meia eu falo em Aldir Blanc aqui neste espaço. Gosto de falar das pessoas que admiro, por isso Aldir, o "ourives do palavreado", como bem definiu Caymmi, é um dos personagens que mais cito aqui, até como uma forma de valorizar meu blog.
Dentre as características que mais admiro em Aldir, uma é a diversidade de sua poética. Alguns de seus mais famosos versos são carregados de uma profunda densidade, uma poesia rebuscada, carregada de metáforas muitas vezes até difíceis de serem interpretadas. Posso citar como exemplo Caça à Raposa, Corsário, Falso Brilhante e tantas outras. Por outro lado, em outras letras Aldir usa um linguajar popular, a fala do povo, carregada de erros propositais de português e concordância à la Adoniram Barbosa, numa linguagem simples, totalmente em contraponto com o exemplo anterior. Posso citar, por exemplo, Kid Cavaquinho (Ói que foi só pegar no cavaquinho/Pra nego bater/Mas se eu contar o que que pode um cavaquinho/Os home não vai crer...).Existe uma gravação de Emílio Santiago para essa música em que ele teve a infeliz ideia de corrigir o português(...Mas se eu contar o que que pode um cavaquinho/Os homens não vão crer). Para quem conhecia a letra original, chegou a doer no ouvido.
Outro exemplo, dentre tantos outros, desse estilo de letra praticado por Aldir, é Negão nas Parada, parceria com Guinga, que o próprio Aldir interpreta muito bem em seu disco comemorativo a seus 50 anos. O título, com seu erro de concordância, já dá pistas do estilo da letra, que abaixo reproduzo, com a escrita conforme foi publicada pelo autor:
Eu vou pro Estácio, negão,
Parece fácil, nénão...
No tempo do lotação
já era rúim, hoje então...
Mas só no Estácio, negão,
batuca o meu coração.
Parece papo, nénão:
naquele chão é que se cria
a picardia, a fidalguia...
Eu vou pro Estácio, negão
Que de metrô? Nã-nã-não!
Joguei, fiquei sem tostão,
eu vou movido a limão,
Aí, no Estácio, mermão,
acerto a tal transação,
Tu fica frio, negão,
qu'esses cabôco é tudo lôco e hoje eu tô um pôco rôco
Eu tô levando a seda de primeira na algibeira pro canudo
eu tô que tô, pô!
E o recheio é da boliviana,
das Guianas, do Himalaia, tás com tudo, ô
O Dunga vai te dar a cobertura.
Esse é bandido joia e cana dura,
chegado num pagode com morena, sangue bom,
é meu bróder
Eu vou pro Estácio, negão.
Tô parecendo avião,
Fiz por você. Condição:
eu não repito mais, não,
Tô cheio que nem balão,
num gosto de confusão,
Chegando aí, coração,
tu solta o meu e pega o teu,
pois quem sou eu?,
valha-me,Deus
Ceceu me disse que Eunice, se te visse na rua,
chamava logo a Entorpecente e te sentava a pua.
Mas se Eunice persistisse nesse erro primário,
Paulo Amarelo aparecia sem cobrar honorário...
Tô de saída, negão,
O Estácio é fácil? Nénão...
No tempo do lotação
já era rúim, hoje então...
Valeu!!!
ResponderExcluirAcho essa uma pérola. E tava ruim de entender completamente o vernáculo...rsrsrsr.
Veja se consegue completar com o texto que é falado ao final da canção.
Grande abraço.
Valeu pela presença, Felipe. Realmente Negão nas Parada é uma pérola do Aldir. consegui a letra através de um livro que traz letras e textos de Aldir. A parte falada no final da gravação eu não tenho. Só ouvindo e prestando atenção ao palavreado. Um abraço
ResponderExcluirE cara, pelo menos ele canta: ...tu vem trazendo a seda de primeira...
ExcluirIsso,tem essa letra assim aqui:
Excluirhttp://vumo-maraba.blogspot.com/2010/08/da-um-tempo-ai-amizade.html
Obrigado, Eduardo
ResponderExcluirque obra
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