Toninho Horta, que durante muito atuou como músico acompanhante, e compositor que fornecia belas canções para amigos gravarem, caso de Milton Nascimento e Nana Caymmi, por exemplo, sentia que estava na hora de lançar um trabalho próprio, como cantor, compositor e músico. Mas os tempos eram outros, bem diferente de hoje, quando os recursos e possibilidades de se lançar um disco e jogar no mercado são mais fáceis. O trabalho de Toninho não seduzia as gravadoras, e ele não tinha recursos para bancar um trabalho do jeito que queria. Por isso as gravações e o lançamento de Terra dos Pássaros, seu primeiro e ótimo disco, só foram possíveis com a ajuda de amigos próximos. O Jornal de Música nº 34, de setembro de 77 traz uma matéria sobre o disco de Toninho, assinada por Antônio Carlos Miguel:
"Toninho Horta acabou de gravar seu primeiro disco-solo: neste LP que será chamado de Terra dos Pássaros (o nome vem de um antigo modelo da Gibson, a guitarra Birdland) ele se lança integralmente como compositor, cantor e instrumentista, fazendo o que sempre quis: '... eu sempre sonhei em gravar um disco meu...'. Não houve interferência de pessoas estranhas ao trabalho, já que esta foi uma produção independente, financiada por Toninho e seu parceiro e velho amigo Ronaldo Bastos. No entanto, para que este projeto se realize completamente, ainda falta uma gravadora se interessar pelo trabalho e comprar a fita que em final de setembro acabou de ser gravada e mixada no estúdio Vice-Versa, em São Paulo: algumas gravadoras se mostraram interessadas mas não há ainda nada de concreto.
As bases do disco, segundo Toninho, foram gravadas o ano passado nos Estados Unidos. Ele se encontrava lá participando da gravação de alguns discos (Milton, Promises of the Sun, de Aito e o de Flora) quando surgiu a possibilidade de realizar algumas gravações suas. Participaram dessas sessões Novelli, Airto, Robertinho, Laudir de Oliveira, Raul de Souza, Hugo Fattoruso e Jorge Fattoruso (dois uruguaios, ex-integrantes do grupo Shakers, que já tem uma boa carreira na América). As gravações foram inicialmente feitas no estúdio Shangri-la, e mais tarde no Village, onde tinha sido gravado o disco Native Dancer (Milton e Wayne Shorter):
- Pintou um contrato com o dono do Village, que se interessou por uma fita minha, a gente fez uma uma permuta, ele dava o estúdio e em troca ficava com uma fita para transar mais tarde um disco comigo. Eu só iria gravar, tô a fim de ficar no Brasil mesmo, mas pode acontecer de tudo... Bem, o esquema do Village é o seguinte: eles têm uma companhia de produção, nessa companhia são produzidos discos para serem vendidos às gravadoras, eles são independentes, é nesse estúdio que são feitos os discos mais pesados, o Dylan, o Clapton são alguns dos que gravam lá.
Toninho deixou com esse produtor 3 músicas que também fazem parte do disco que será editado aqui. Diana (T. Horta- F. Brant), Viver de Amor (T. Horta-R. Bastos) e Dona Olímpia (T. Horta- F. Brant); estas duas últimas apesar de terem letras são instrumentais e visam mais diretamente ao mercado americano.
Quando Toninho Horta voltou para o Brasil o trabalho solo esteve interrompido durante a gravação de de Geraes e da Página do Relâmpago Elétrico, disco de Beto Guedes. O passo seguinte foi procurar uma gravadora interessada em financiar as gravações que faltavam para a complementação do disco. Como não apareceu ninguém ele e Ronaldo resolveram continuar por conta própria, no mesmo esquema iniciado nos EUA; para isso alugaram o Vice-Versa, em São Paulo:
- Sai caro pra gente, mesmo sem pagar os músicos que têm tocado por amizade, a gente gasta com o aluguel do estúdio e paga a passagem e estada de todo o pessoal. O padrão de som está ótimo, no mesmo nível das gravações nos Estados Unidos, o técnico de som é Renato Viola, um cara muito sensível, e o lance é que o Vice-Versa é particular, não é ligado a gravadoras.
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