Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Bob Dylan Lança Real Live (Revista Roll - 1985)


 Em 1985 Bob Dylan lançava seu 26º disco, e o quarto ao vivo, "Real Live". Em destaque no cenário do rock desde os anos 60, Dylan anos 80 continuava firme e forte, com vigor e força, lançando um disco ao vivo. A revista Roll nº 18 trazia uma matéria sobre o lançamento em texto assinado por Marcos Pedrosa. Ele faz críticas quanto ao resultado final do disco, e as versões ao vivo, sempre bastante modificadas por Dylan, fato comum em seus shows. O jornalista, mesmo assim destaca bons momentos do disco, mas não cita aquela que é para mim, a melhor faixa do disco, 'Tombstone Blues', que conta com a participação de Carlos Santana na guitarra, cuja banda atuou na abertura dos shows de Dylan na turnê. A gravação traz um Santana fora de seus estilo habitual, numa levada bem rock'nroll, no ótimo arranjo da música que originalmente traz uma batida country. Segue abaixo a matéria:

"Sumido dos palcos desde 81, Bob Dylan resolveu armar no meio do ano passado um show que cobrisse o continente. Formou então uma banda com o ex-Stone Mick Taylor, com o ex-Faces Ian MacLagen, e mais o baixista Greg Sutton e o baterista Colin Allen. Convidou ainda Carlos Santana e sua banda para abrirem as apresentações e partiu em excursão. Durante a série de concertos, algumas figuras conhecidas acabaram subindo ao palco para tocarem com Dylan - o que transformou a tour em verdadeiro acontecimento. Uma delas foi Bono Vox, vocalista do grupo irlandês U2 e uma das figuras de maior destaque dentro do cenário musical hoje, e a outra foi ninguém menos que Chrissie Hynde, dos Pretenders. Muito falada em toda a imprensa, a excursão teve grande repercussão e as últimas apresentações da tour em New Castle, Londres e Dublin acabaram sendo devidamente registradas. O resultado chega agora, com a edição do LP 'Real Live', que traz uma seleção das músicas tocadas por Dylan nesses shows.

Dylan, como já é costume seu em discos ao vivo, revisita suas  músicas. Mudam os andamentos, modificam-se alguns trechos das letras para revigorar e dar sangue novo ao conhecido, e as músicas continuam com sua beleza original. Além disso, como Dylan, em suas letras, procurou sempre explorar a ambiguidade de seus sentimentos e as contradições de suas experiências, seus versos sobrevivem intactos e insensíveis ao tempo. Só nas músicas dos discos 'Slow Train Coming' e 'Saved', que foram completamente esquecidas nos shows dessa excursão europeia, foi que se viu um Dylan preso a questões de ortodoxia religiosa, que ele mesmo acabaria descartando posteriormente. Mas apesar da beleza das músicas de Dylan, 'Real Live' não é um grande disco, e a bem da verdade são raríssimas as ocasiões em que se consegue um resultado interessante em gravações de shows. Tudo soa mais como uma jogada comercial do que como uma tentativa de se fazer algo de realmente importante. O disco ao vivo, no geral só tem valor quando fruto de uma ideia integrada, que apresente um show totalmente bolado para esse fim. Porque, do contrário, dificilmente consegue impressionar o ouvinte. Assim 'Tangles Up In Blue', 'It aint't Me Baby' ou ainda 'Highway 61 Revisited' podem até interessar ao aficcionado, que vai delirar com as pequenas mudanças que Dylan fez nas  músicas. Mas para o público em geral as músicas vão passar completamente desapercebidas, mesmo que em 'It ain't Me Baby', por exemplo, a plateia crie um clima de frisson ao cantar com Dylan alguns trechos da música. O que se conclui disso tudo é que o grande momento mesmo foi aquele que aparece na contracapa do disco, num lugar que pode ter sido Itália ou Espanha. O que valeu foi o show."


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