Em 1982 Djavan lançava um de seus discos mais bem produzidos e de maior vendagem: Luz. Na ocasião a revista Música nº 64 trazia uma matéria sobre o lançamento:
"Ele não votou porque estava entre Salvador e Maceió no dia 15 de novembro. Da boemia, não gosta - 'já bastam os tempos de crooner em boates cariocas' - e, dois meses antes de gravar seu LP, isola-se de tudo aquilo que possa desviar a atenção do trabalho. Seu parceiro predileto? Ele mesmo, Djavan, a melhor cabeça musical que pintou no Brasil nos últimos dez anos. Um feeling único, indivisível, incomparável. Dono de uma magia para jogar com as palavras e uma capacidade de transmitir imagens fortes e ideias inusitadas, Djavan consegue sempre um resultado poético de altíssimo nível e encontra soluções musicais delicadas, difíceis e cheias de nuances, exatamente como sua poesia.
Dizer que há dois anos ele era conhecido e admirado apenas por um círculo restrito, é contar o óbvio. Constatar que ele conseguiu conquistar posições depois que Caetano declarou-se fascinado com sua música é gravemente revelador. Leva-nos a perguntar: quantos outros Djavans deixamos ou deixaremos de acolher por falta de um endossante de peso? Ainda bem que esse alagoano cheio de garra e meiguice não desanimou e enfrentou a braba concorrência, acreditando no valor de sua musicalidade, no encanto de sua voz.
Essa certeza de brilhar, Djavan sempre teve. E nem o surpreendeu ter a participação mais do que especial do mestre Stevie Wonder em seu último disco. Ele acha que a música brasileira tem qualidade e universalidade suficientes para ser respeitada no mundo inteiro. Mas quando chegou em Los Angeles, não imaginava tanta receptividade de músicos importantes e, muito menos, que eles conhecessem seus trabalhos anteriores.
O clima de camaradagem que reinou durante a gravação está estampado nas fotos do encarte de 'Luz', nas declarações entusiásticas dos instrumentistas norte-americanos, no entrosamento desses músicos com a Sururu de Capote, a super-banda que acompanha Djavan há quatro anos. E, mais ainda, no resultado final da viagem: o disco, lançamento dos mais importantes do ano.
'Samurai', o belíssimo diálogo entre a gaita de Stevie Wonder e a voz e versos de Djavan, é apenas um exemplo da grandeza do LP. Cheio de canções raras, inspiradas, emolduradas por arranjos exatos e sensíveis, 'Luz' destaca-se em meio à parafernália tecnológica que infesta a maioria dos discos nacionais.
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