Palavras Domesticadas

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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

David Bowie Lança The Next Day (O Globo - 2013)


 David Bowie é um nome fundamental na história do rock. Falar de Bowie é falar de uma das personalidades mais marcantes das artes do séc. XX e do início do novo século. Nunca deixou de  criar, de experimentar e de ser ousado ao longo de sua carreira. Ao morrer, aos 69 anos em 2016 Bowie encerrou um ciclo de criação e talento sem precedentes. Em 2013, já um artista maduro, mas ainda criativo e buscando novas formas de expressão. Em sua edição de 03/03,2013 o jornal O Globo traz uma matéria sobre o lançamento, assinada por Carlos Albuquerque:

Já de  cara, 'The Next Day' provoca. Na capa do seu novo disco, o primeiro após uma década de incômodo silêncio, David Bowie quebra expectativas e simplesmente desaparece, deixando um quadrado branco no lugar da arte original do disco.... 'Heroes', de 1977, parte da aclamada trilogia feita em Berlim, ao lado de 'Low', lançado no mesmo ano, e de 'Lodger', de 1979. E onde estava o título daquele disco, inseriu o seu nome. É só a primeira parte de seu aparente enigma, no qual Bowie (ou Ziggy ou Major Tom ou Thin White Duke ou Alladin Sane) subverte as suas próprias imagens e o seu próprio passado, na flor dos seus 66 anos.

Ouvir repetidamente o disco - em streaming, desde sexta-feira passada, na loja digital iTunes e oficialmente à venda a partir da próxima sexta-feira - é como desvendar cada uma das suas camadas, recheadas de citações. Como lembrou Alexis Petridis, do jornal britânico 'The Guardian', é um desafio que a maior parte dos seus contemporâneos já não consegue propor. 'Gostaríamos que eles se mantivessem nos seus seus maiores sucessos', disse o crítico, um dos primeiros a ter acesso ao disco.

A faixa 'Where Are We Now?' é exemplar. Uma melancólica balada,, oferecida para download no começo de janeiro, no mesmo dia em que a chegada do álbum foi surpreendentemente anunciada - finalizando rumores de aposentadoria - ela traz na letra, incluindo marcos como a Potsdamer Platz, uma das principais praças da cidade. Diferentemente da referida trilogia, porém, 'The Next Day' foi todo gravado em Nova York, ao lado do produtor Tony Visconti, antigo parceiro do cantor, com quem fez os discos 'Diamond Dogs', de 1974, e 'Young Americans', de 1975. É como se Bowie desafiasse a geração shuffle a exercitar sua hiperatividade e buscar no seu oráculo, o Google, a solução dessas charadas - ou se perdesse em uma teia de (des)informações.
Na faixa-título, aberta por um riff de guitarra que dá a impressão de ir rumo ao glam-rock de 'Rebel Rebel', hit de 1974, até desviar para um atalho mais funkeado, Bowie brinca com os boatos sobre sua morte (o grupo americano Flaming Lips chegou a gravar, em 2011, uma música chamada 'Is David Bowie Dying?'): 'Aqui estou eu, não exatamente morrendo'.
'Valentine's Day' tem guitarra e violão de outro parceiro, Earl Slick, que excursionou com Bowie em 1983, na turnê do disco 'Let's Dance', substituindo o saudoso Stevie Ray Vaughan. Mas apesar do título, a faixa não traz referências ao Dia dos Namorados. É, na verdade, uma amarga e irônica reflexão de uma vítima de bullyng contra seus antigos desafetos de colégio. O formato, porém, é pop.

Nas batidas quebradas de 'If You Can See Me', Bowie refaz a rota de seus experimentos com o drum and bass nos anos 1990, ao mesmo tempo em que a letra, do ponto de vista de um invasor, faz referências a tempos e práticas medievais ('Vou tomar suas terras/ Dilacerar suas bestas').

Em meio a esse incessante zigue-zague de referências e pontos de vista, a vibrante 'The Stars (Are Out Tonight)' é, talvez, o ponto central do disco. Na música, ele reflete sobre o culto às celebridades, enquanto contracena, no vídeo, com a atriz Tilda Swinton, justamente a pessoa que o divertido site Tilda Stardust garante ser seu mais perfeito reflexo."



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