Em fevereiro de 1977 a revista Pop nº 52 trazia uma matéria com George Harrison, que no ano anterior havia lançado o disco Thirthy-Three & 1/3. Numa introdução à matéria, a revista trazia o seguinte texto: "Depois de uma terrível fase de azar, quando se separou da mulher e foi processado por duas vezes, pela Justiça norte-americana, tudo está melhorando para o ex-Beatle George Harrison. Com um novo LP nas paradas do mundo inteiro, chamado 33 1/3 George diz que, finalmente, conseguiu a paz para trabalhar."
A matéria, na íntegra, vem transcrita abaixo:
"Com o lançamento de Thythy Three & 1/3 (Trinta e Três e Um Terço), seu mais recente LP, o ex-Beatle George Harrison inicia uma nova fase em sua conturbada carreira de superstar do rock. De dois anos para cá, George enfrentou uma das mais violentas marés de azar de que já se tem notícia no show-business musical. Para começar, foi abandonado por sua mulher Patty Boyd Harrison, que no dia seguinte viajou para o Brasil com Eric Clapton. Depois, ele foi levado à corte de Justiça americana por duas vezes seguidas, a primeira para responder a um processo de plágio pela música My Sweet Lord e a segunda sob acusação de quebra de contrato com sua antiga gravadora. Tantos grilos naturalmente acabaram refletidos no trabalho de George, fazendo com que ele lançasse o mais fraco de todos os seus LPs, o inexpressivo Extra Texture. Agora, no entanto, resolvidos os grilos e confusões, George Harrison está novamente com as turbinas ligadíssimas, como prova o recente 33 1/3. Fazendo um trabalho muito mais solto, livre e divertido. George conseguiu se reencontrar com o incrível talento e criatividade que sempre foram a marca registrada ao quarteto de Liverpool. Além disso, George está reativando a gravadora que fundou em 1974, a Dark Horse Records. Criada para registrar os trabalhos de George e de seus amigos (como Ravi Shankar e o grupo Splinter), a Dark Horse quase se dissolveu em meio aos problemas de seu proprietário. Agora, depois de reativar a Dark Horse através de um contrato de distribuição com a Warner Brothers, George promete fazer da gravadora um verdadeiro clube de talentos, principalmente aqueles que procuram uma oportunidade de mostrar seu trabalho.
Certamente, Trinta e Três e Um Terço é um dos nomes mais estranhos que um LP de música pop já recebeu. Mas George teve vários motivos para escolher o título:
- Em primeiro lugar, 33 1/3 era a minha idade na época em que iniciei as gravações do LP (junho de 76). Depois, 33 1/3 é também a velocidade da rotação de um disco no prato da vitrola. E, finalmente, acho 33 1/3 um número muito simpático. Tem uma certa magia, a incrível magia das frações indivisíveis. No tempo dos Beatles, costumávamos pensar durante horas a fio nos títulos de nossos LPs, principalmente durante as turnês. Lembro-me bem que, quando bolamos o título do LP Revolver, ficamos muito satisfeitos, porque dava a ideia de um disco girando, girando sem parar. Toda vez que terminávamos de gravar um LP, a função começava: milhares de títulos eram sugeridos, alguns simplesmente ridículos. Não sei como nunca tivemos a ideia de colocar o nome 33 1/3 em um de nossos LPs...
- A ideia principal, contida em todas as letras do LP e, principalmente na faixa It's What You Value, pode ser resumida assim: 'o que é importante para uma pessoa, pode não ser importante para outra'. A afirmação pode parecer óbvia. No entanto,, se você der uma olhada no mundo de hoje, vai constatar que as pessoas estão esquecendo esse princípio fundamental de fraternidade. O que não tem importância para você, não lhe pertence realmente, não deve ficar em suas mãos. Afinal, o que você não precisa pode significar a sobrevivência de outras pessoas, certo?
Outra evidência de que 33 1/3 inaugura uma nova fase na carreira do ex-Beatle é o modo como o disco foi gravado. Enquanto seus álbuns anteriores consumiram três meses de estúdio, 33 1/3 foi gravado em apenas vinte dias. George explica:
- Quando entrei no estúdio, para gravar 33 1/3, já estava com o disco quase pronto na cabeça. Várias músicas eram apenas ideias iniciais, que se completaram em poucos minutos, sem nenhum problema. Outras músicas haviam sido compostas anteriormente, e foram arranjadas num estalo de dedos. Quando entro no estúdio, gravo muito mais músicas que o necessário. Às vezes você grava uma música e fica ótimo, mas quando começa a colocar outros instrumentos em cima da base, a coisa muda de figura. Assim, a seleção das faixas que vão compor o disco é feita naturalmente. Os próprios truques de estúdio se encarregam da seleção final. 33 1/3 é um produto típico de minha fase atual, de muita alegria de viver."
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