Palavras Domesticadas

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sábado, 23 de janeiro de 2021

Os 50 Anos de Paul McCartney (1992)


 Em 18/06/92 Paul McCartney completava 50 anos. Toda vez que um grande ídolo completa uma data redonda e simbólica, como 50 anos, ela é sempre lembrada e festejada. Com Paul, figura emblemática e símbolo da juventude dos anos 60 e 70, quando fez parte dos Beatles, e seguiu depois uma bem sucedida carreira-solo, não poderia ser diferente. O jornal O Globo, quatro dias antes, em sua edição de 14/06/92, trazia uma matéria sobre a efeméride, assinada por Antônio Carlos Miguel, e intitulada "Um herói ou um vilão?":

"Nessa quinta-feira, dia 18, o mais bem sucedido dos Beatles completa 50 anos. Trinta anos depois de eles terem assinado com a EMI e lançado o compacto de estreia, 'Love Me Do'; 25 anos depois da chegada às lojas do álbum 'Sgt. Pepper's' e 22 anos depois de anunciar seu afastamento do grupo, Paul McCartney ainda divide opiniões dos órfãos dos fab four.

Enquanto John ficou com a fama de criativo e revolucionário, Paul tem sido normalmente pintado como o mais comercial e  conservador do grupo. Essa é uma leitura simplista e maniqueísta, mas de certa forma referendada pelos primeiros trabalhos solos de ambos. Ainda mais naquele radical período, no início dos anos 70.

Desculpem o humor negro, mas se quisermos achar um aspecto positivo na morte de John Lennon foi o de manter a aura mítica dos Beatles. Nada mais melancólico do que as nostálgicas e caça-níqueis reuniões que dinossauros do rock costumam protagonizar. E disso os Beatles estão livres. Mesmo que por linhas tortas, em meio a brigas por dinheiro, LSD em excesso, ciumeiras de 'yokos e lindas' o prematuro fim do quarteto incrementou a lenda. Mas, a partir de 1970, John, Ringo, Paul e George passaram a ter que enfrentar a desconfortável comparação com o passado beatle.

Hoje é unânime a ideia de que o melódico e romântico Paul encontrava no ácido e agressivo John o contrapeso exato. No entanto, os papéis dos dois muitas vezes se misturaram. O álbum 'Sgt Pepper's', um marco divisor na música  popular, nasceu principalmente das inquietações de Paul. Numa entrevista para a 'Rolling Stone', em 1986, McCartney deu sua versão: 'John vivia com a mulher e o filho e eu era solteiro em Londres. Vivendo por minha conta, indo ao teatro, procurando as novidades da vanguarda, filmando em super-8, conhecendo Allen Ginsberg... Curtia a música de Stockhausen e fiz algumas gravações domésticas muito loucas. Fui eu quem introduziu John em muitas dessas coisas e também o apresentei a Yoko Ono'.

Nas suas carreiras individuais, também Paul foi quem mais gravou e, apesar de irregulares, em seus álbuns estão os momentos mais fiéis aos Beatles.

No final do ano passado, ele lançou o pretensioso 'Liverpool Oratorio', sua primeira incursão na área erudita - que grande parte da crítica pede que seja também a última. Mas não perdeu sua paixão pelo rock and roll dos anos 50. Como provou o álbum de covers 'Schooba CCCP/The Russian Album' - editado entre nós em 1991 e gravado inicialmente para o mercado da ex-União Soviética. Se os Beatles estão definitivamente incorporados à história, aos 50 anos, Paul McCartney ainda não pendurou as chuteiras.
A assessoria de imprensa de Paul McCartney, em Dean Street, no Soho de Londres, alega desconhecer onde, como ou se os ex-beatle vai comemorar seus 50 anos. Mas a mídia britânica promoverá um verdadeiro festival McCartney para celebrar a vida e a obra do músico.
No próximo fim-de-semana, a TV britânica programou os já clássicos filmes 'Help' e 'Os Reis do Iê-Iê-Iê'. No domingo, será mostrado um documentário do produtor George Martin celebrando os 25 anos da gravação de 'Sgt Pepper's'. Na quinta-feira, a BBC Radio fará um 'dia Paul McCartney', executando todas as canções que chegaram ao top ten. E o expert em Beatles, Brian Matthew, também mergulhará nos arquivos de som da BBC para revelar fitas obscuras de Paul e dos Beatles. Mas, numa indicação de que a idade pesa, o programa 'Redescovering Yesterday' será apresentado na Radio 2 - de público mais adulto - e não na Radio 1, o reduto do rock.
Também será editada uma biografia oficial, 'Paul Macca McCartney', escrita por Ross Benson."



 


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