Nos anos 80 circulava uma boa revista sobre rock, chamada Rock Stars. Era uma revista de formato pequeno, que falava de rock, lançamentos, resenhas de discos, notícias e seções fixas, dentre elas, uma especializada em Rolling Stones, chamada Satisfaction. Em sua edição nº 8, de 1984, a revista traz uma matéria com o controverso ex-membro do Stones, Brian Jones. Discordo de alguns trechos da matéria, principalmente quando há insinuações infelizes que Mick Jagger pode ter dado graças a Deus pelo desaparecimento de Jones, por ser também de temperamento forte e se sentir incomodado por uma espécie de disputa pela liderança da banda. Primeiro, que Brian Jones antes de morrer já não fazia parte dos Stones, portanto, não fazia mais sombra a Mick no quesito liderança. Segundo, mesmo se houve divergências pessoais, sentir alívio pela morte do ex-companheiro seria um grande exagero. Segue a matéria:
"Brian Jones deixou o planeta Terra há 15 anos, no dia 3 de julho de 1969. Ele foi encontrado numa piscina, em circunstâncias que até hoje não foram muito bem esclarecidas. Houve até alguns magazines estrangeiros que questionaram a possibilidade de ele ter sido assassinado. Ora, que motivos teriam para assassiná-lo, por exemplo, seus colegas de conjunto?
Os motivos são poucos, mas não são muito fortes. Um deles é que o Brian Jones era um osso duro de doer. Em outras palavras, um sujeito genioso que insistia muito sobre aquilo que queria e acreditava. E uma das coisas que muito queria e acreditava era a boa música. Pouco antes de morrer, andava dedicando-se ao aprendizado de outros instrumentos (ele foi o único Stone que apareceu tocando uma cítara, coisa que nunca atraiu seus colegas). Notem que o Mick Jagger demorou vinte anos para aparecer em público co uma guitarra. Se ele tivesse feito isso há quinze anos, teria poupado uma série de manobras ao conjunto.
O fato prático é que, válida a correlação, ou não, depois do desaparecimento de Brian Jones, os Rolling Stones tomaram um rumo mais pop. Até a imagem mudou. De repente, o visual psicodélico cafajestoso, que muitos advogam ter sido anterior ao que os Beatles usavam, foi substituído por terninhos glitter, colants coloridos e (pelo menos em certa época) batons. O único membro que parece ter resistido foi Keith Richards, mas é como diz o provérbio, uma andorinha não faz o que todos verão.Analisando friamente, quem deve ter dado graças a Deus pelo desaparecimento de Jones foi o Mick Jagger. Ele também é dotado de uma personalidade muito forte e não estava a fim de ser incomodado por ninguém. Por outro lado, Jagger é um dos maiores responsáveis pelo desbunde dos Rolling Stones. Podemos ter uma ideia do que ele acha atualmente do rock, se levarmos em conta o que ele disse no ano passado numa entrevista que foi ao ar pela rede Manchete brasileira. Foram palavras suas: - 'Acredito que o rock está para a música, assim como as ilustrações em literatura estão para a pintura em geral.'
Pense bem; qual o papel das ilustrações que aparecem numa literatura? Se você quiser optar por uma resposta trivialmente óbvia, basta apenas dizer: - 'São ilustrações.' Caso queira ser um pouco mais eufemístico, poderá mencionar que têm o papel secundário de ampliar a compreensão, ocupa um lugar bem próximo no contexto geral do século XX. Terceiro lugar, é graças ao rock que Mick Jagger é Mick Jagger.
Antes de encerrarmos nossa apreciação sobre a era pós-jonesiana dos Stones, precisamos dar uma esticada d'olhos sobre o LP Undercover, em particular sobre as letras. À primeira vista, sensacional. Sensibilidade com os menos favorecidos (parece até coisa de religioso), denúncias da violência e da miséria do mundo, posicionamento em favor da América Latina. Tudo bem, mas quem vai acreditar nisso? Nessas horas é difícil deixar de lembrar daquela paródia que o Frank Zappa fez sobre os Beatles com um disco chamado We Are Only It For The Money ('estamos nessa somente pela grana').
Sinceramente, os Stones podem continuar sendo a maior banda de rock do mundo, mas se o Brian estivesse vivo, hoje, provavelmente estaria esclerosado, ou então acabaria por morrer de desgosto."
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