Em 1982 Gnzaguinha já era um compositor e cantor consagrado na MPB. Suas músicas eram gravadas por diferentes intérpretes e seus discos eram aguardados com expectativa. Assim foi com Caminhos do Coração, álbum que estava sendo lançado na época, e que ganhou uma matéria com entrevista na revista Música nº 63, em texto assinado por Tetê Ribeiro:
"Quando Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior - o Gonzaguinha, apareceu como compositor, em 1968, no I Festival Universitário da Música Popular com 'Pobreza por Pobreza', e no ano seguinte classificava-se em primeiro lugar com a música 'O Trem', as pessoas não poderiam imaginar que um dia aquele jovem franzino e introvertido seria uma das figuras mais respeitadas e que já começava a solidificar seu espaço na história da MPB.
A cada disco, a cada show, Gonzaguinha - além do seu crescimento como pessoa e intérprete - confirma a coerência e o conteúdo de sua obra, construída com muito chão-pó-poeira. Ao longo desses anos, Gonzaguinha, filho de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que nasceu no bairro do Estácio, na barra pesada do Rio de Janeiro -, sempre foi uma figura polêmica e controvertida, amada por uns, contestada por outros.
G: Minha relação é trabalho-vida, eu não separo um do outro, porque se eu faço um trabalho e o exponho aos mais variados entendimentos, é minha vida que está ali.'
M: Em 15 anos de carreira e 10 discos, o que você modificaria no seu trabalho?
G: 'Cada vez que se trabalha ou que se realiza um trabalho, está se vivendo todos os trabalhos, os quais são uma vida. Não existiram momentos ou trabalhos mais fortes. Ou mais forte será. Quanto à modificação, eu gostaria de gravar novamente os meus primeiros discos; justamente para ver a prática do hoje ou do ontem. Acho que não teria muito sentido colocar músicas daquela época hoje, tudo é espaço-tempo.'
M: A objetividade é algo muito mais forte nas suas músicas, porém muitas pessoas a questionam. Como você encara isso?
G: 'A clareza e a objetividade são uma necessidade; acho que de repente as pessoas acham que objetividade incomoda. A música 'Quarto de Hotel' fala da solidão de uma pessoa, porém nem sempre quando você está só significa que a pessoa esteja se sentindo só, ou vice-versa. Eu acho ótimo esse tipo de questionamento porque de repente eu percebo que meu trabalho está passando uma mensagem pras pessoas, está tocando as pessoas.'
M: Você não tem muitas parcerias, por quê?
G: 'Acho que é uma questão de oportunidade, porém já fiz algumas músicas com meu pai e Miltinho; e compor sozinho é uma prática que pra mim não é difícil.'
M: Como você vê o reconhecimento tardio do trabalho de pessoas como João do Vale, seu pai e o falecido Jackson do Pandeiro?
G: Toda vez que uma pessoa morre - no caso Jackson do Pandeiro - prestamos grandes homenagens, se bem que o trabalho do Jackson já é reconhecido. Meu pai é uma pessoa que está sempre atuante, mesmo sendo marginalizado. Infelizmente, esses coisas ainda acontecem.'
M: As crianças estão sempre presentes nas suas músicas. Qual sua relação com elas?
G: 'Minha relação com as crianças é ótima, principalmente porque eu sou meio moleque, meio criança. Tenho um filho - Daniel, 10 anos - somos muito amigos e eu aprendo muitas coisas com ele. Devido a essa relação forte com as crianças, estou pensando em fazer um trabalho em teatro; um musical provavelmente.'
M: O que é 'Caminhos do Coração'?
G: 'É vida, é sentimento, é meu momento de calma, é mais vida. 'Caminhos o Coração' é uma espécie de sucedâneo do 'Coisa Mais Maior de Grande, Pessoa'. 'Caminhos do Coração' foi um disco que eu não estava a fim de fazer, a minha situação emocional no momento - acabei de me separar da minha mulher. Depois achei que eu não deveria esconder esse momento que estou vivendo; então, entrei no estúdio e fiz o disco, que não tem muita ordem como nos anteriores; não foi proposital, aconteceu de sair assim. 'Caminhos do Coração' é vida mesmo, 'Maravida' tem vida, 'Felicidade' tem vida, 'Ser, Fazer, Acontecer' tem vida. A música que dá nome ao disco é muito importante pra mim. É muito do que eu vivi e viverei; é uma coisa de muito que andar por aí e cada vez com maior profundidade.' "
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