Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Tim Maia:"Aqui no Brasil Ninguém Sabe Cantar" (Revista Bizz - 1985)


 A revista Bizz nº 3, de outubro de 1985 trazia uma matéria com Tim Maia. A matéria, assinada por Antonio Carlos Miguel, dá uma panorâmica na carreira de Tim, e traz depoimentos do mesmo. Segue abaixo a transcrição:

"Qualquer que seja a onda, Tim Maia está aí, sempre nas paradas. Agora é a vez de 'Leva', uma das faixas de seu novo álbum editado pela RCA.

Aos 42 anos, Sebastião Rodrigues Maia está na estrada desde 1957, quando formou o grupo The Sputiniks, que contava com também com ilustres desconhecidos, Erasmo e Roberto Carlos. É Tim Maia quem lembra: 'Só que eu nunca fui da Jovem Guarda e quando eu chegava perto diziam: 'Ih, lá vem o Tião Maconheiro'. E saía todo mundo fora. Mas, graças a Deus, esta caretice está terminando. O Erasmo, eu ensinei a tocar violão e o Jorge Ben era meu fã. O Roberto Carlos também passou pela minha escolinha quando veio lá de Cachoeiro do Itapemirim. Ele cantava como Tito Madi e o João Gilberto.

Quando a Jovem Guarda estourou, Tim Maia estava longe. Ele passou cinco anos nos Estados Unidos, na década de 60. E, se já curtia o rock'n roll básico, voltou impregnado de soul music. Em 1970, veio o primeiro sucesso - através de Elis Regina que gravou a música 'These Are the Songs'. Na sequência, irresistíveis 'soul-sambas-canções' como 'Primavera', 'Azul da Cor do Mar', 'Gostava Tanto de Você' e o forró 'Coroné Antônio Bento' conquistaram o Brasil.

Tim ficou parado dois anos, de 74 a 76, ligado à religião Universo em Desencanto. E voltou livre de qualquer crença ou ideologia. Desde então, tem entrado e saído de gravadoras, mas seu público o acompanha. Ele tem curtido e dá força ao rock que invadiu a MPB: 'os bossanoveiros estão grilados agora, e vão grilar ainda mais com essa rapaziada nova, este pessoal doidão aí... RPM, Ultraje, Cinema a Dois... Esses sim é que vão arrepiar. Nós, eu, Erasmo, Roberto, Gil, Caetano, só começamos, mas agora é que é pra valer...'

Elogiado por sua visceral participação em 'Chega de Mágoa', Tim não vê muita vantagem nisso: 'Aqui ninguém sabe cantar. Tem que chamar um negrão americano e levar às gravadoras para ensinar toda essa gente. Mas o lance do Nordeste foi legal, pela ajuda e ter unido todos nós. O artista brasileiro tá muito pomposo, tem que ter mais coleguismo, união e  mais inteligência'.

Tim vem tocando com a banda Vitória Régia (também o nome de  sua gravadora) nas periferias do Rio e São Paulo: 'Minha banda é como a minha família, uma família danada, de pretos, mulatos, sararás, miolos, nego-aço... Meus shows são para black aqui, black ali, em clubes humildes, pro povo mesmo. Nunca ataquei em Canecão, Palace, mas gostaria de fazer um Parque Lage (no Rio), por exemplo. Nunca fui convidado, o pessoal tem o maior medo de me contratar. Fica essa fama de irresponsável, mas eu sou tão irresponsável que tenho uma gravadora e uma editora'."


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