Palavras Domesticadas

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domingo, 28 de fevereiro de 2021

Yes - O Som Que Leva Ao Delírio (Revista Pop - 1975)


 Em 1975 o rock progressivo vivia seu auge, e a banda Yes era um dos seus nomes mais representativos. A banda havia trocado de tecladista, tendo o suíço Patrick Moraz ocupado a vaga deixada por Rick Wakeman, que passara a seguir carreira-solo, tendo, inclusive, naquele ano realizado shows muito concorridos no Brasil. A revista Pop de dezembro daquele ano publicou uma matéria sobre o Yes, que trazia um texto de apresentação: "Muito imitado no mundo inteiro, dono de sucesso indiscutível há vários anos, o Yes é um dos grupos mais importantes do chamado rock progressivo. De volta à estrada, depois de um recesso muito produtivo, o conjunto está em sua melhor fase, levando o público ao delírio em seus shows impecáveis, emocionantes e perfeitos." Segue abaixo a matéria:

"Quando o Yes voltou a se apresentar ao vivo, este ano, depois de um longo período de ausência, a primeira sensação da moçada foi de alívio. Afinal, desde a substituição do eloquente Rick Wakeman pelo pouco conhecido Patrick Moraz nos teclados do grupo, o Yes lançou um bom disco, provou que os teclados estavam em boas mãos, mas logo saiu de cena. Na verdade, os cinco carinhas se recolheram para ensaiar e levar às últimas consequências aquela que é uma das características do Yes: apresentar ao vivo exatamente o som conseguido em disco. E nisso Steve Howe (guitarra), Chris Square (baixo), Alan White (bateria), Jon Anderson (vocal) e Patrick Moraz (teclados) são rigorosos. Cada música, cada trecho, cada harmonia é estudada exaustivamente, e os ensaios são como uma guerra.

O Yes com a formação da época

Mas é uma guerra pacífica onde os cinco têm o mesmo objetivo: conseguir o melhor som, obter um resultado perfeito, transmitir a emoção mais nobre. Por isso, tudo é decidido em grupo, através de papos que começam na casa de campo de um deles ou num quarto de hotel e se desenvolvem através de longas horas de estúdio. A partir de uma proposta qualquer, todos descrevem suas emoções e dizem como imaginam o resultado final. Todos participam de tudo, o carinha da guitarra dá palpite no trabalho do baixista, este sugere uma frase aos teclados, e assim por diante. O trabalho só é dado como pronto quando não há mais possibilidade de reparos, quando todos concordam com tudo, quando o som está perfeito.

Foi esse som perfeito nos mínimos detalhes que o Yes apresentou no Festival de Reading (Inglaterra), este ano. E não só aliviou os ansiosos fãs: levou-os ao delírio total. E também a crítica, há muito tempo de olho na crise de perspectivas do grupo, acabou concordando que o conjunto cresceu muito a partir da entrada de Moraz. 'Ele está perfeitamente integrado em toda a transação do Yes', disseram, 'e revelou-se um músico muito criativo e de grande sensibilidade. Ao contrário de Wakeman, que sempre procurou brilhar mais do que todos os outros músicos juntos, Moraz permanece num plano de participação mais consciente, voltado para a música como uma manifestação total de emoções, raciocínio e sensibilidade.' E o próprio Moraz reconhece essa integração: 'Seria fácil e cômodo tocar como um louco para aparecer, para brilhar. Difícil é funcionar como uma parte de um todo perfeito...'

Com o sucesso de público e crítica conseguido no Festival de Reading, os próprios caras do Yes acabaram contagiados pelo entusiasmo. Steve Howe, bebendo seu infalível suco de laranja com vodka falou: 'Foi realmente emocionante. A gente estava meio tenso, imaginando como o público reagiria... Mas tudo foi muito bem, o som saiu perfeito e eu acho que demos o recado com muito jeito.' Jon Anderson, pouco depois, completava: 'O grupo está em sua melhor forma. E o público sentiu isso. Esse aplauso delirante não é à toa. Agora é sair para a estrada, em excursão, e espalhar o delírio pelo mundo.'

Mas, de todos os cinco, o yesman mais entusiasmado é Patrick Moraz. Quando esteve no Brasil, antes desse show ao vivo com o grupo, ele dizia estar consciente de suas condições: 'Afinal, eu sempre adorei tocar com o Yes. Quando o outro tecladista saiu, só fiquei em casa esperando que eles me chamassem. E eles me chamaram. Em poucos minutos estávamos tratando de contratos e essas coisas.' Agora, está ainda mais eufórico: 'Tem gente que fala que nosso rock sinfônico é pretensioso. Mas basta olhar para esta moçada que vem nos assistir, para sacar que os estamos tocando. Nós levamos emoções sublimes para eles. Porque encaramos a música como uma coisa sublime.' "



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