Nos anos 70 não era muito comum acontecer no Brasil shows internacionais de grandes bandas ou artistas que estivessem no auge de suas carreiras. Por isso a presença por aqui do grande astro Alice Cooper, que fazia um grande sucesso, foi cercada de grande expectativa. Os shows provocaram muito tumulto por onde passaram, e uma matéria especial da revista Bizz em fevereiro de 2001 intitulada "O dia em que o Brasil perdeu a inocência", e assinada por Celso Pucci, discorre sobre aquela turnê:
"Pode parecer incrível para uma geração de roqueiros que se formou com a MTV, acabou de assistir à maratona do Rock In Rio e continua avançando via internet. Que está acostumada - ao menos nas grandes capitais - a ter à disposição shows internacionais quase semanais, discos importados que acabaram de sair do forno, fartura de publicações nacionais e gringas, informações mil por mídias ao quadrado. Mas houve um tempo em que os horizontes do rock'n roll eram extremamente estreitos e limitados no Brasil, cada parco empreendimento no setor era tratado - e com razão - como a salvação da lavoura.
Assim eram programas de rádio e TV apresentados pelo saudoso DJ Big Boy, o Caleidoscópio, espaço alternativo que Jacques conduzia nas madrugadas da América AM (SP), o Sábado Som - comandado por Nelson Motta na Globo, que na estreia apresentou o Pink Floyd tocando 'Echoes', nas ruínas de Pompeia - e revistas como a Rolling Stone brasileira, Bondinho, Pop e Rock: A História e a Glória. Raras moscas brancas sobrevoando o pântano da desinformação roqueira no início dos anos 70.
A situação era ainda pior em relação a shows: desde aquela época, a cada mês eram anunciadas vindas como os Rolling Stones (que só apareceram na década de de 90) e a do já citado Floyd. porém nada se concretizava. Quem diria que Alice Cooper - equivalente naqueles tempos anticristo ao que Marilyn Mason representa para a garotada atual - iria quebrar esse tabu?
O artista iria aportar aqui na turnê do recém-lançado Billion Dolar Babies (1973) com toda a parafernália visual, que ia desde tubos gigantes de pasta de dentes e bonecas decapitadas em cena até os os seus notórios malabarismos com uma cobra e a fama de bebum incorrigível. Não era bafo: no início de 1974, o circo de horrores do rock'n roll desembarcou em São Paulo para se apresentar no enorme pavilhão de exposições do Anhembi, com som deplorável e superlotação. O resultado era previsível: tumulto na entrada, repressão policial e, pior, o pessoal da turma do 'gargarejo' sendo esmagado contra as grades de proteção diante do palco em um fatídico episódio qui culminou em dezenas de feridos.
Uma mãozinha amiga acudindo |
Claro que tinha que ir nessa fuzarca, mas acabei presenciando um massacre. Um monte de gente prensada contra o alambrado e um corre-corre que gerou um pânico em um local originalmente planejado para a farra. O próprio Cooper deu sua versão para o que aconteceu naquela noite, em uma entrevista para a Pop, de maio de 1974: 'Vi todo mundo se esmagando e fiquei sem saber o que fazer. Parei de cantar para acalmar o pessoal. Afinal, tudo o que faço no palco não passa de encenação. O sangue é de katchup e nunca sacrifiquei animais em cena...'
Foi trágico, mas ficou como um espetáculo marcante. Mesmo abruptamente interrompido pelos incidentes na plateia, este foi o primeiro grande show de um rockstar em território brasileiro. Antes de Alice, apenas Santana - em proporções bem menores - havia se apresentado por aqui em 1971 e 1972. Depois, começaram a vir nomes como Rick Wakeman, Genesis, Joe Cocker, mas sem provocar o mesmo frisson.
Os anos 80 trariam muito mais atrações de peso, a começar por Kiss e Queen, passando por The Police (que tocou em 1982 no Maracanãzinho, no Rio, quando ainda era pouco conhecido no Brasil) e expoentes da new wave como PIL, Siouxsie & The Banshees, Echo & The Bunnymen, The Cure, Nick Cave & The Bad Seeds. Tudo isso somado ao primeiro Rock In Rio, em 1985, que se tornaria o primeiro megaevento brasileiro do gênero, impulsionando a emergente cena local - não à toa, foi nessa onda que Bizz chegou às bancas pela primeira vez.
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