Keith Richards é um sobrevivente do rock. Não é à toa que há muitos memes na internet fazendo piadas sobre sua sobrevivência nesse mundo, dizendo, por exemplo, que devemos pensar no futuro e no mundo que iremos deixar para Keith Richards. Seu envolvimento com as drogas, principalmente a heroína, quase o levou desse mundo algumas vezes, e até um acidente grave, ao cair do alto de um coqueiro, também fez o stone encarar de frente a morte, e passar por ela. A revista Roll nº 11 (1984) trazia uma matéria sobre Richards, assinada por Aldo Meolla, publicada quando Richards tinha 40 anos, e fala de uma batalha vencida contra a heroína, por isso o título "Longa Estadia no Inferno", e também a chamada de capa, que diz: "Keith Richards - Uma longa odisseia do Stone chega ao seu final. Segue abaixo a primeira parte da matéria, dividida em duas:
"Keith Richards, o relapso e displicente Rolling Stone, emerge de uma odisseia de quinze anos para uma nova vida. A temporada no inferno de Keith - leia-se 15 anos de envolvimento com heroína - chegou ao fim. E Richards fez um troca-troca em sua vida: uma nova mulher, uma nova dentição, e até sangue novo. Essa e outras histórias - a primeira música que compôs com Mick; a criação de 'Satisfaction'; a morte de Brian Jones - estão aqui relatadas, provando que, aos 40 anos, o guitarrista dos Stones ainda é uma fantástica e super-lapidada pedra rolante.
Em toda a história do rock - e já se vão 30 anos desde que Bill Halley sacudiu o mundo com seu 'Rock Around The Clock' - poucas figuras encarnaram tão visceralmente este misto de rebeldia e talento que é ser 'um artista do rock' quanto Keith Richards. Foi ele, um dos primeiros músicos na Inglaterra a captar os fundamentos do rock lançados pelo mestre Chuck Berry nos EUA. Richards magnetizou o rythm'n blues e se tornou o maior 'Homem Riff' de seu país.
Digam o que quiserem, os Stones em 1984 são essencialmente o que eles eram há 20 anos - uma 'banda de duas guitarras', cujo magnetismo dos efeitos instrumentais nunca proveio de um truque banal ou de um solista egocêntrico. Não é por acaso que o mais volátil, inseguro - até perigoso - papel entre eles tinha sido sempre aquele de guitarrista líder. Ele matou Brian Jones; poderia ter liquidado Mick Taylor, se ele sabidamente não tivesse optado por cair fora. Ronnie Wood sobrevive nessa posição arriscada, mais por uma questão de temperamento do que propriamente em função de seu talento.
O som dos Stones é o som dos acordes. São os acordes - que só Keith Richards sabe levar com tal demoníaca elegância - que lançam a canção no cérebro antes que Mick Jagger tenha sussurrado uma única palavra.
Há alguns meses, Bill Wyman, o mais quieto e comportado dos Stones, deu um depoimento sobre Richards, falando com um incrível respeito sobre os vinte anos em que estiveram juntos nos palcos. 'Eu realmente o admiro pelo que ele está fazendo, disse Wyman. 'Quinze anos de heroína e ele conseguiu cair fora'. Você tem que estar amando', concluía Wyman.
Amor, para o último fora-da-lei autêntico do rock'n roll, veio na figura de Patti Hansen, uma modelo e atriz que tinha apenas nove anos quando 'Satisfaction' estava no topo do hit-parede americano, e com quem Keith se casou em dezembro último. A nova Sra Richards não encontrou uma situação normal em sua nova casa. Junto com Keith, mora seu filho, Marlon, de 14 anos. Além dele, há a presença de Anita Pallemberg, mãe de Marlon e companheira de Keith durante uma odisseia com a heroína. E, além deles, há Mick Jagger. Nenhuma mulher até hoje conseguiu estar entre Mick e Keith, cuja união é tão indestrutível quanto é implausível.
Guitarras, e a cobiça por elas, estão entre as primeiras memórias de Keith. Ele nasceu - assim como Mick - em Dartford, Kent, um inexpressivo subúrbio de Londres. Naquele tempo, Joe e Eva Jagger moravam há algumas quadras de Bert e Doris Richards. Mick, aos 7 anos, conheceu Keith, então com 6, na Wentworth Country Primary School, em 1950. Mick relembra que perguntou a Keith o que ele queria ser quando crescesse: 'Ele disse que queria ser um cowboy, como Roy Rogers, e tocar uma guitarra. Eu não era tão impressionado por Roy Rogers, mas o lance sobre a guitarra realmente me interessou', lembra Jagger. Pouco tempo depois de se conhecerem, os Richards se mudaram. Os dois não iriam se ver novamente nos próximos dez anos. Mick iria prosseguir nos estudos e se tornar um típico inglês classe-média. Richards, expulso várias vezes da escola, se tornaria um 'teddy-boy', um daqueles garotões que ficavam na esquina de uma rua paquerando gatas e exibindo um ousado topete - enfim, um rebelde... ainda sem causa.
Guitarrista desde os onze anos - sua mãe lhe deu a primeira guitarra - Keith foi introduzido no autêntico blues por colegas de rua. Na época que contava 17 anos, ele já tinha uma banda e tocava músicas de Little Walter e Big Bill Broonzy, pioneiros do blues. Foi de um desses colegas que Keith conseguiu sua primeira guitarra elétrica, trocada por uma pilha de discos, numa transação feita no banheiro da escola.
Jagger e Richards |
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