Em sua edição nº 16, de 1975, a revista Rock, a História e a Glória trazia em seu suplemento Jornal de Música uma matéria com Wagner Tiso. Na ocasião Tiso ainda não havia gravado seu primeiro disco. Era um prestigiado músico e arranjador. A matéria assinada por Okky de Souza, traz bastantes informações sobre o início da carreira de Wagner Tiso e Milton Nascimento (já que estão interligadas). A matéria tem como título "Eles não tem a antena que a gente tem":
"Talvez seja difícil falar de uma 'nova geração de arranjadores brasileiros'. Mas pode-se falar de Wagner Tiso. Enquanto a primeira expressão sugere um certo vazio, pela lamentável falta de nomes de destaque, o trabalho de Wagner Tiso tem uma vitalidade e importância que, no mínimo, poderiam encerrar um movimento musical em si mesmo. Aliás, não é por outro motivo que Milton Nascimento, atualmente, vem sendo considerado uma personalidade inteiramente desligada de qualquer contexto musical brasileiro. Em tempo de vacas magras e emagrecidas à força, o trabalho de Milton e de seu arranjador e tecladista Wagner Tiso não se enquadra em nenhuma corrente ou tendência, não precisa e não acredita em filiações culturais, ou políticas, só é fiel à sua própria força criativa.
Estabelecer uma relação entre os trabalhos de Wagner Tiso e Milton Nascimento é inevitável. A relação existe desde os tempos de Minas Gerais, quando os dois faziam parte do grupo The W Boys, que tinha todos os seus membros começados em W, pelo menos teoricamente: Wesley, Wanderley, Waine, Wagner (Tiso) e Wiler, que não era outro senão Milton Nascimento com o nome estrategicamente mudado, bem ao gosto da época. The W Boys foi formado logo depois que Milton e Wagner chegaram a Alfenas, vindos de Três Pontas. Milton era o crooner do grupo e o repertório, além de clássicos da época como Êxodus, Summertime e Blues In The Night, era formado basicamente de sucessos de Angela Maria, como Babalu e Frenesi. Segundo Wagner, as vocalizações de Milton ainda sofrem forte influência de Angela Maria. 'Reparem bem' - ele aconselha. The W Boys, formado em 1961, chegou a fazer uma carreira brilhante, excursionando pelo sul de Minas Gerais.
Dissolvido o W Boys, Milton e Wagner foram para Belo Horizonte, uma etapa natural. Lá chegando, tiveram que se adaptar ao gênero da moda, sem o qual não sobreviveriam: o jazz. Um pouco antes da explosão da Bossa-Nova, eles convidaram o baterista Paulinho Braga e formaram um trio, que se completava com Wagner no piano e Milton Nascimento no baixo. Em 1964, Wagner Tiso veio para o Rio de Janeiro, antecipando-se ao parceiro Milton, que só chegaria em 1968, para a consagração primeira e definitiva, no 3º Festival Internacional da Canção Popular. Chegando ao Rio, Wagner Tiso formou, a princípio, um hepteto, que logo se transformou em quarteto e depois em trio. Do hepteto, fazia parte Edson Machado, o maior baterista do Brasil, um dos instrumentistas mais importantes no processo de personalização da Bossa-Nova. O Quarteto Paulo Moura, pelas características pessoais que lhe imprimia o gênio dos metais Paulo Moura, um dos poucos músicos a participar com Wagner Tiso, hoje em dia, de um possível movimento de 'nova geração de arranjadores brasileiros'. Os outros músicos do quarteto eram Luís Alves no baixo e Robertinho na bateria. Com a saída de Paulo Moura, Wagner Tiso resolveu manter a formação de trio. Entre façanhas menores, o trio chegou a acompanhar Maysa, Cauby Peixoto e Ivon Curi em apresentações diversas.
Em 1967, no FIC, Milton Nascimento era revelado como um dos grandes talentos na MPB. Apesar da falta de sensibilidade da alguns membros do famigerado júri, Milton era a única abertura real em nossa música, naquele festival: o som de Minas Gerais, um Estado, até então, com pouca ou nenhuma contribuição à consciência musical brasileira. Milton representava a consagração da toada mineira como gênero brasileiro, um fato que ainda não recebeu a devida importância dos raros estudiosos de nossa cultura popular. É interessante lembrar que, hoje em dia, quando a música latino-americana começa a ser estudada como uma entidade em separado, com importância surpreendente, no repertório dos grupos que realizam esse tipo de trabalho.
Passado o Festival da Canção, Milton Nascimento era uma estrela em potencial, cujo grau de grandeza dependeria de suas realizações posteriores. Gravado o compacto com Travessia e Morro Velho, as duas concorrentes do Festival, o próximo passo eram as apresentações em teatro. Para os espetáculos, Wagner Tiso se cercou de alguns músicos de confiança: os dois antigos companheiros, Luis Alves e Robertinho, Zé Rodrix, Frederiko, e Tavito. Nascia o Som Imaginário, que teve o nome tirado de um cartaz que anunciava o show. De lá pra cá, a trajetória do Som Imaginário, ainda que interrompida por diversas vezes,, é uma das mais brilhantes da música progressiva brasileira. Seus discos sempre instigaram a imaginação da crítica especializada, criando controvérsias interessantes. O primeiro deles, chamado Som Imaginário, está hoje fora de catálogo, e é considerado peça de colecionadores.
Não paro de ler sobre música,rs.
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