A revista Música era um ótimo veículo de crítica e análise musical. Trazia bons colaboradores, e matérias e entrevistas que davam uma visão do panorama musical brasileiro e mundial. Dentre os colaboradores posso citar Júlio Barroso, um grande conhecedor de música. Além de jornalista, foi também discotecário (ou DJ), e mais tarde, artista de palco quando criou e fez parte da Gang 90 & Absurdetes, um das bandas mais criativas do rock nacional dos anos 80. Nessa matéria da edição nº 21 da revista (1978), Júlio fala sobre a black music brasileira e o som swingado que se fazia por aqui. Aborda artistas como Carlos Dafé (foto acima), Lady Zu, Cassiano, Banda Black Rio, Gérson King Combo, além de alguns nomes menos conhecidos. Segue abaixo a transcrição da matéria:
"Durante 1977 com a explosão definitiva do Black-Rio, os jovens negros do subúrbio ascenderam para um pouco mais perto do sol, expressando através da música, dança e costumes as características internacionais da cultura negra.
Assim, pioneiros como Cassiano, o genial compositor paraibano, Tim Maia, o fabuloso performer, Carlos Dafé, Gérson Combo e tantos outros vieram pela primeira vez ao centro de gravitação opiniosa da MPB, recebendo por parte da crítica especializada uma atenção mais considerada.
Cassiano |
Lady Zu |
Dom Charles, regente, arranjador e tecladista, que já trabalhou com Cassiano, Roberto Carlos, e Jorge Ben, agora se lança em parceria com Nelson Motta por uma trilha de hits iniciados com a canção 'Com sabor' que será gravada por Lady Zu, a jovem paulista consagrada por sua interpretação em 'A Noite Vai Chegar'. Dom Charles é ainda o autor de alguns dos mais incrementados arranjos no elepê superlindo das 'Frenéticas'. Seu projeto é a formação de uma big banda dançante atuando de montão e com força no circuito de bailes do Rio.
Carlos Dafé, morador do Quitungo, conjunto refavelal da Penha, tem atuado no circuito noturno como cantor, tocando guitarra, baixo e teclados há 10 anos. Dafé possui um trabalho de composição muito bonito, que agora chegou ao alcance do grande público com seu excelente disco de estreia. Sua voz de profundo feeling natural detona canções altamente swingadas. Sua mais recente parceria é com Nelson Motta, já tendo duas belas canções produzidas, levando jeito de autênticos hits, 'Escorpião' e 'Criança Maravilha'. as duas melodias já estão em mãos de Gal Costa que irá gravá-las. Carlos Dafé começa a preparar seu segundo elepê em breve e tem se apresentado constantemente no circuito da zona norte do Rio.
A Banda Black Rio, após a maravilhosa estreia em disco, e o injustamente malogrado Baile Bicho Show, sofreu alterações na formação de seu pessoal. O tecladista Cristóvão Bastos retornou às suas origens, o grupo de Paulinho da Viola, sendo substituído por Jorjão. O baixista Jamil Joanes partiu para um trabalho solo e como instrumentista dos grupos de Wagner Tiso e Nivaldo Ornelas, cedendo o passe na Black Rio para Valtencir, baixista funk por excelência. O resto da rapaziada prepara o retorno da orquestra maravilha para breve.
Hyldon |
Gérson Combo separou-se da Banda União Black, e grava o seu segundo elepê, com seus novos músicos. Em apresentação ao vivo, Gérson continua sendo assessorado por suas maravilhosas bailarinas negras de cabelo platinado. A União Black, um dos mais integrados grupos de swing, continua na estrada, fazendo a cabeça da rapaziada no circuito black da ZN do Rio.
Os discípulos de Tim Maia, Hyldon e Robson Jorge, estão contratados pela CBS, onde juntamente com Cláudia Telles e Lincoln Olivetti, fazem o grupo de swing da Casa.
Novos valores, como Célio José, do Estácio; Tureko, da Rocinha; Toninho Café, Mineiro: Bida Nascimento, excelente contrabaixista, criador da Banda Funk do Dr. Beltrão; (que atua com o pessoal da Nuvem Cigana, em bailes-shows), Arnaldo Brandão e Vinicius Cantuária, que definitivamente preparam o supergrupo 'Asfalto', formam um grupo bastante diversificado de músicos, compositores e cantores, ligados ao balanço negro, alguns de influências regionais como Toninho Café, outros ligados ao swing eletrônico urbano, como Vinicius e Arnaldo ou o afro-jazz de Bida. Todos, embora em áreas diferentes, são representantes desta maravilha herdada da Mãe África, a civilização dos tambores.
É gente nova prometendo um 78 cheio de surpresas. E, é claro, 78 será o ano de Luiz Melodia, ou, como se diria, viva o Rio de Janeiro, sol, praia, montanha, a terra do balanço afro-tupi que veio das estrelas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário