Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Cat Stevens - Revista Rock Espetacular Vol. 3 (1977)


 A revista Rock Espetacular foi um projeto para contar a história do rock em três fascículos, que circularam de dezembro de 76 a fevereiro de 77. Os principais astros e bandas de rock eram destacados em textos biográficos. O terceiro volume, entre outros é destacado Cat Stevens, que anos depois se converteria para o islamismo, e praticamente abandonaria a carreira, lançando trabalhos esporádicos, mas fora do estilo que o consagrou. Segue abaixo o texto sobre Stevens:

"Em outubro de 1966, um avulso fez um sucesso razoável nas paradas inglesas: a música I Love My Dog, e o cantor e compositor se chamava Cat Stevens e tinha apenas 17 anos. O avulso seguinte, Matthew And Son, foi um sucesso de verdade e, mais que isso, chamou a atenção de todos, crítica e público, para o talento de seu autor, a firmeza e delicadeza de sua melodia e a sensibilidade de sua letra, coisas raras nos frequentadores habituais das paradas.

Cat gravou um álbum, foi eleito por um jornal como 'Revelação de 1968' e, quando parecia prestes a se tornar uma estrela, caiu doente com tuberculose. Dois anos se passaram até que ele tivesse condições de voltar a trabalhar. E a cena musical que ele encontrou ao voltar, em 1970, era bastante diferente daquela do início de sua carreira, intensamente impregnada de psicodelismo. Agora havia rock pauleira e rock clássico, mas existia também a corrente doce-amarga liderada por James Taylor, a geração dos cantores-compositores. E isso, num certo sentido, ajudava o retorno de Cat, mas dificultava também: ele podia passar a ser apenas um entre muitos.

Mas, mais uma vez, o seu talento brilhou acima do esperado. Cat voltou com força total no LP Mona Bone Jakon - que muitos acham, por seu despojamento, o melhor de sua carreira - e estabeleceu seu lugar como artista único, de voz inconfundível e estilo pessoal de compor.

Esse estilo seria desenvolvido e firmado nos três discos seguintes: Tea For The Tillerman, Teaser And The Firecat e Catch Bull At Four. Desses três, talvez Teaser seja o mais representativo do estilo - Cat Stevens, com as guitarras acústicas bem presentes procurando e tecendo ritmos novos e a voz marcante de Cat ondulando ao sabor das emoções.

O álbum seguinte, Foreigner, marcou uma nova etapa na vida de Cat. O disco foi muito mal recebido pela crítica, que achou o desempenho de Cat 'forçado' e 'pouco autêntico'. Os fãs também estranharam a substituição do violão e da guitarra pelo piano. Alguns anos depois, Cat também manifestaria seu desagrado por esse disco, não pelas ideias em si, mas pela pressa e desleixo em sua execução. Mas foi exatamente esse descontentamento geral que fez nascer um novo Cat, não mais acomodado ao seu ambiente de cantores-compositores, mas inquieto, eternamente em busca de novas formas.

Foi essa inquietação que o trouxe, entre outras coisas, ao Brasil, onde suas temporadas de férias se tornaram cada vez maiores e mais frequentes. Curioso e bastante informado sobre música brasileira, Cat acabou contratando o percussionista Chico Batera para integrar sua banda de apoio, e deixou que seu trabalho se impregnasse de ritmos e vibrações brasileiras.

Uma atmosfera mais relaxada aparece no LP de 74, Buddah And The Chocolate Box, mas o ambiente brasileiro só aparecerá por completo no álbum seguinte, Numbers, inteiramente composto no Brasil. É um disco conceitual, quase uma suíte, contando a história de um planeta que fabrica números e vive em torno deles, e das modificações que ocorrem quando aparece um forasteiro: o zero.
Simples até a ingenuidade - como ele mesmo tinha previsto ao dizer 'quero começar complexo e acabar simples' - mas vigoroso e imaginativo em seu talento, Cat Stevens ultrapassa as fronteiras do rock doce-amargo como uma das carreiras mais duráveis da cena musical inglesa."


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