Roberto Menescal foi um dos criadores da Bossa Nova. Participou ativamente das reuniões musicais que aconteciam no apartamento de Nara Leão, onde os principais nomes do movimento participavam de noitadas musicais, e dali surgiam parcerias e nasceram várias músicas que ser tornaram clássicas, algumas de sua autoria. Mais tarde Menescal deixaria um pouco de lado sua carreira de músico para se dedicar a seu trabalho de produtor musical da gravadora Phillips/Polygram. Mas vez por outra Menescal voltava a tocar e se apresentar, e também a gravar discos. A Revista do CD nº 11 (fevereiro/1992) trazia uma matéria sobre mais um CD que o músico estava lançando, em texto assinado por Tárik de Souza:
"Ele foi um dos artífices da bossa nova a bordo de um punhado de clássicos de lavra própria e um violão a tiracolo, além de um conjunto de instrumental que formou exclusivamente para servir ao movimento. 'Cada grupo estava pensando muito individualmente, tocando só sua música, e achei que havia uma brecha para uma formação maior que os trios da moda, cujo objetivo fosse acompanhar o artista.' Assim nasceu o conjunto Roberto Menescal, conforme ele mesmo descreve numa entrevista para a reedição de seu disco da Elenco, A Bossa Nova de Roberto Menescal. Gravado em 1964, com músicos da estirpe de Eumir Deodato (piano) e Ugo Marotta (vibrafone) tocando standards de época, como Samba de Verão, Aruanda, Só Tinha de Ser com Você, e Adriana. A Nova Bossa volta ao mercado no próximo mês em CD da segunda leva de relançamento da Elenco.
Mas Menescal, com 54 anos e um nome de produtor e diretor artístico (da Polygram) firmado depois da bossa, não vai ficar na saudade. Depois de trabalhar em dupla com cantores como Nara Leão (de quem foi colega de infância; ambos capixabas criados em Copacabana) e Leila Pinheiro, ele reconstrói seu célebre conjunto e 22 anos depois volta a assinar um disco como band-leader. É claro que em duas décadas muita coisa mudou, inclusive a concepção do grupo, agora com duas cantoras, Josi e Cristiane, que não chegam a conferir ao resultado sonoro a marca Sérgio Mendes, celebrizada a partir do Brasil 66. 'Quero retrabalhar as coisas velhas misturando com novidades.'
Menescal e Nara Leão |
Ditos e Feitos, o CD deste recomeço, a partir da faixa-título, exibe um cardápio pragmático de quem acostumou seu público à cozinha ligeira - sem entupi-lo com as calorias do fast food. Ele engendra uma pop-bossa de classe, que lubrifica dançarinos e homenageia ouvidos mais acurados com ricas concepções harmônicas e eventual espaço para solos de gente como Fernando Merlino (teclados), Jacaré (baixo) e ele próprio no violão e guitarra, bem calçados pela bateria de Rubinho e percussão de Reginaldo.
Sem preconceito, Menescal faz releituras de clássicos pessoais (O Barquinho acoplado a Você, Telefone e o pré-ecológico A Morte de um Deus de Sal, agora em embalagem mais naturalista) e alheios (Anos Dourados), inserindo pitadas pop de teclados high-tec aqui e ali. Nada que sanitize o produto final a ponto de pasteurizá-lo a um nível Jean Michel Jarre. Ele confeita com swing o Bye Bye Brasil de quebrada funk (e mais adiante bossa nova latinizada), que escreveu com Chico Buarque. Ícones do romantismos feminino, as canções Tetê (sucesso na voz de Sylvia Telles) e Vagamente (míssil de lançamento de Wanda Sá) reaparecem em versões em inglês num torpedo direto para os mercados externos, também visados pelo disco.
Na época da Bossa Nova - anos 60 |
Lembro bem dessa Revista do CD,comprei apenas um número,na minha cidade não tinha banca de jornal.
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