Zé Keti (1921-1999) foi um sambista que fez história, e deixou sua marca na MPB. Compositor inspirado de sambas e marchas de carnaval, fazia parte da ala de compositores da Portela, e sempre será lembrado por sambas antológicos, como "A Voz do Morro", "Opinião" e "Diz que Fui por Aí", além da marcha-rancho "Máscara Negra", que até hoje até tocada nos carnavais.
Em 1998, um ano antes de falecer, Zé Keti recebeu uma bela e merecida homenagem, ao ter seu nome lembrado na festa do "Prêmio Shell", uma importante festa, que reunia grandes nomes de nossa música numa premiação dos destaques do ano em várias categorias. Em sua edição de de 04/10/99 o jornal O Globo trazia uma boa matéria com o compositor, que iniciava com o seguinte texto do jornalista João Máximo:
"Zé Keti foi uma das atrações da festa de 70 anos de Nelson Pereira dos Santos, terça-feira passada, no Teatro Municipal de Niterói. Muito emocionado, mas firme, subiu ao palco para cantar 'A Voz do Morro', samba que - graças ao sucesso do filme 'Rio 40 Graus', de Nelson, e do mesmo samba como tema principal, do próprio Zé Keti - uniu os dois para sempre.
O movimento serviu de trailer. Ou melhor, de teste para a voz e o coração de Zé Keti, que no dia 24 de novembro vai subir a outro palco, o do Canecão, para reviver o mesmo 'A Voz do Morro', 'Máscara Negra', 'Opinião' e 'Diz que Fui por Aí', seus maiores sucessos. Será o grand finale da noite de entrega do Prêmio Shell deste ano ao compositor que dois outros mestres da matéria - Paulinho da Viola e Élton Medeiros - consideram dono do mais inconfundível estilo de samba. Zé Keti inclui-se entre os que melhor cantaram os morros cariocas, sua gente, seu cotidiano, suas tragédias.
Até a grande noite, os testes se sucedem. Pressão alta, o coração volta e meia lhe pregando sustos, a memória claudicando, Zé Keti, como um craque às vésperas da decisão, concentra-se para o show. Concentra-se e treina. A festa de aniversário de Nelson, a sua própria (faz 77 anos no próximo domingo), uma ou outra reunião familiar em que revive velhos sambas, tudo faz parte dos preparativos. Sob os cuidados da filha Geisa e da acompanhante Jane, ele está de volta à casa de Inhaúma, num dos blocos do Conjunto Residencial Cidade do Som."
Num box que faz parte da matéria, com título de "Uma revelação dos anos 50 segue brilhando nos 60", o jornalista João Máximo faz um resumo da carreira de Zé Keti, destacando a frase "Nem a inveja derrotou 'Máscara Negra' ".
" Os filmes de Nelson Pereira dos Santos - Rio 40 Graus, do qual é 'A Voz do Morro' e 'Rio Zona Norte', que tornou conhecido 'Malvadeza Durão' - projetaram o nome de Zé Keti como a mais importante revelação de sambista daqueles tempos. Estávamos nos anos 50, com o samba rigorosamente em baixa. Tempos depois, a bossa nova representando nova ameaça para o samba tradicional. Zé Keti voltou à cena com mais força. Em parte porque seus sambas, com tiradas sociais, serviam aos intelectuais que se opunham ao regime militar, em parte porque tinham ao mesmo tempo, qualidade e apelo popular. Estávamos nos anos 60, tempos do 'Opinião' (show que ele fez com Nara Leão e João do Vale) e das primeiras canções de protesto.
Zé Keti experimentou, no auge do sucesso, muita admiração e alguma inveja. Admiração dos intelectuais e também dos sambistas que aprenderam com ele que a bossa velha era forte o bastante para disputar com a nova um lugar nas paradas. Lembremos apenas que, até então, Cartola, Nelson Cavaquinho, Élton Medeiros, Paulinho da Viola, Candeia, Ney Lopes, Carlos Cachaça e tantos mais ainda não tinham gravado um disco.
Os invejosos tentaram destruí-lo. E mais de uma vez. Quando do espetacular sucesso de 'Máscara Negra', um dos últimos clássicos do carnaval brasileiro, houve quem inventasse ter ele passado para trás um parceiro. Pior foi o jornalista-compositor que, tendo uma marcha concorrendo com 'Máscara Negra', foi às rádios pedir aos programadores que não tocassem a de Zé Keti e sim a sua. Nenhum motivo estético o movia: o jornalista-compositor simplesmente argumentava que um 'crioulo comunista' não devia tocar no rádio. Claro que ninguém lhe deu ouvidos: 'Máscara Negra' era tão bonita que superava qualquer preconceito.
Zé Keti seguiu assim, impondo-se pela beleza de suas músicas. Enquanto teve força e fôlego foi construindo a obra que lhe vale agora um prêmio em tudo e por tudo justo."
Até a grande noite, os testes se sucedem. Pressão alta, o coração volta e meia lhe pregando sustos, a memória claudicando, Zé Keti, como um craque às vésperas da decisão, concentra-se para o show. Concentra-se e treina. A festa de aniversário de Nelson, a sua própria (faz 77 anos no próximo domingo), uma ou outra reunião familiar em que revive velhos sambas, tudo faz parte dos preparativos. Sob os cuidados da filha Geisa e da acompanhante Jane, ele está de volta à casa de Inhaúma, num dos blocos do Conjunto Residencial Cidade do Som."
Zé Keti com Cartola |
" Os filmes de Nelson Pereira dos Santos - Rio 40 Graus, do qual é 'A Voz do Morro' e 'Rio Zona Norte', que tornou conhecido 'Malvadeza Durão' - projetaram o nome de Zé Keti como a mais importante revelação de sambista daqueles tempos. Estávamos nos anos 50, com o samba rigorosamente em baixa. Tempos depois, a bossa nova representando nova ameaça para o samba tradicional. Zé Keti voltou à cena com mais força. Em parte porque seus sambas, com tiradas sociais, serviam aos intelectuais que se opunham ao regime militar, em parte porque tinham ao mesmo tempo, qualidade e apelo popular. Estávamos nos anos 60, tempos do 'Opinião' (show que ele fez com Nara Leão e João do Vale) e das primeiras canções de protesto.
Zé Keti experimentou, no auge do sucesso, muita admiração e alguma inveja. Admiração dos intelectuais e também dos sambistas que aprenderam com ele que a bossa velha era forte o bastante para disputar com a nova um lugar nas paradas. Lembremos apenas que, até então, Cartola, Nelson Cavaquinho, Élton Medeiros, Paulinho da Viola, Candeia, Ney Lopes, Carlos Cachaça e tantos mais ainda não tinham gravado um disco.
Os invejosos tentaram destruí-lo. E mais de uma vez. Quando do espetacular sucesso de 'Máscara Negra', um dos últimos clássicos do carnaval brasileiro, houve quem inventasse ter ele passado para trás um parceiro. Pior foi o jornalista-compositor que, tendo uma marcha concorrendo com 'Máscara Negra', foi às rádios pedir aos programadores que não tocassem a de Zé Keti e sim a sua. Nenhum motivo estético o movia: o jornalista-compositor simplesmente argumentava que um 'crioulo comunista' não devia tocar no rádio. Claro que ninguém lhe deu ouvidos: 'Máscara Negra' era tão bonita que superava qualquer preconceito.
Zé Keti seguiu assim, impondo-se pela beleza de suas músicas. Enquanto teve força e fôlego foi construindo a obra que lhe vale agora um prêmio em tudo e por tudo justo."
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