O maestro e arranjador Rogério Duprat (1932-2006) foi uma figura fundamental para que a Tropicália alcançasse o patamar em que chegou, não só no Brasil como internacionalmente. Seus arranjos para as composições tropicalistas deram um sabor especial àquelas músicas inovadoras, que só alguém que tivesse a sensibilidade e o alcance de entender as propostas dos baianos, que fundiam o rock, a bossa nova, a música dita cafona, e demais experimentalismos, poderia acrescentar tanta coisa como ele acrescentou.
Em 1980, a revista Música, em seu nº 44 trazia uma matéria com o grande maestro, assinada por Carole Chidiac, e intitulada "O polirítmico Rogério Duprat":
"Saudosismo ou não, já faz tempo que o tropicalismo veio para derrubar muitos 'ismos' musicais no Brasil. Quase que consegue. Antes disso, trataram de passar um visto em muitos passaportes pelaí. Mas, para quem entendeu, ficou uma lição digna, em meio a tanta falta de dignidade, que, para variar, acabou mais uma vez imperando nesse varonil Brasil.
Mas prova de genialidade, foi também o que não faltou e a lembrança de um nome como Rogério Duprat só traz bons fluidos. Bendito seja o arranjo de 'Domingo no Parque' deste inovador carioca nascido há 48 anos.
Hoje, Rogério Duprat prefere a paz de morar fora do perímetro urbano, num pequeno sítio, e suas atividades musicais se limitam em dirigir duas produtoras fonográficas: 'Pauta' e 'Vice-Versa', ambas em São Paulo.
Foi com Calisto Corazza que Duprat estudou violoncelo, instrumento que tem até hoje a predileção do maestro. Aos 21 anos de idade ele já fazia parte da Orquestra Sinfônica de São Paulo, e aos 23, passou para a Orquestra Sinfônica Municipal. Ato contínuo foi nada menos que violoncelista, fundador e diretor da Orquestra de Câmara de São Paulo, quando compôs noturnos, sonatas, etc.
Os anos 60 marcaram suas atividades na música popular já que compôs, desta feita, música para teatro, cinema e televisão, integrando também o movimento Música Nova. Foi à Europa estudar com Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen durante um ano. Seu interesse pela música experimental fez com que se juntasse a Damiano Cozzela, quando fizeram música com computador. Isso tudo, provando que seu conhecimento musical vai de erudito, passa pelo popular e chega ao experimental, coisa que no mínimo, representa total falta de 'falsos pudores' para com a forma de se fazer música, que sempre será universal, como ela mesma.
Ao lado de Caetano e Gil esteve como diretor do programa que se propunha a mostrar o tropicalismo e só poderia mesmo chamar-se 'Divino Maravilhoso'. Pouco depois, de volta à Europa, se apresentou como arranjador e regente no Midem, em Cannes, e voltou a trabalhar com Damiano Cozella, a quem considera seu grande mestre.
Hoje em dia, embora atento a tudo (ou ao pouco?) de música que se faz no Brasil, Duprat opta mais pela tranquilidade e não tem vontade nenhuma de ficar expondo opiniões, ainda menos posições, o que é muito pior. Sua obra musical está aí, para quem quiser constatar, registrada em nove LPs, além de ter assinado a trilha musical de mais de trinta filmes, que lhe valeram vários prêmios. E isto é tudo. E é muito. Porque quem nasceu pra Rogério Duprat não pode (nem deve) querer continuar a bater numa tecla inaudível a longa distância. E enquanto isso, ele atua. Mudo."
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