Palavras Domesticadas

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terça-feira, 12 de maio de 2015

Big Boy - Revista Rock, a História e a Glória (1974) - 1ª Parte

Umas das figuras mais importantes na difusão do rock no Brasil nos anos 60 e 70 foi o radialista, DJ e jornalista Big Boy. Criador de um estilo todo próprio de falar ao microfone, com seu bordão: "Hello crazy people, Big Boy rides again", Big Boy tinha uma legião de ouvintes nos dois programas diários que apresentava na rádio, além de uma participação, também diária, no telejornal Hoje, da Globo. Também escrevia em jornais e revistas, e promovia bailes ao som de muito rock, e levava multidões onde quer que fosse - algo meio difícil de se imaginar hoje.
Big Boy, infelizmente nos deixou muito cedo, com apenas 33 anos, em 1977, de infarto, após um ataque de asma num hotel de São Paulo. Em novembro de 1974, no primeiro número da revista Rock, a História e a Glória, Big Boy é entrevistado para uma seção chamada "O Rock e Eu", onde sempre alguém com uma forte ligação com o rock era destacado. Ninguém melhor do que ele para estrear a seção, que abaixo transcrevo:
"O disc-jockey Big Boy é mesmo um garotão, quer dizer, Big Boy, o personagem que vive e encarna quase 24 horas por dia. Na rádio (Mundial, Rio) tem dois programas diários - 'Big Boy' e 'Ritmos de Boate'. Ao vivo, aparece no salão de clube que quiser promover seu 'Baile da Pesada', hoje principalmente espalhado em sete a oito apresentações mensais, todas com mais de duas mil pessoas, todas custando 5 e dez cruzeiros o ingresso ('Às vezes fazemos de graça às garotas pra incrementar a frequência').
Mas há outro Big Boy, o Newton Duarte, 31 anos, gordo, agitado, olhos fundos, fala quase tão rápida e atropelada quanto o personagem. Este faz constante ponte entre a Alemanha ('a boate Fabrique, de Frankfurt é que divulga o rock mais promissor do mundo, atualmente') e as casa noturnas do Harlem, de ambiente tão violento, que Newton só entra com especial pistolão de seu amigo, o cantor de soul James Brown. Newton Duarte é, e não é fã de Big Boy. Reconhece que é obrigado a tocar 'muita música comercial' para garantir a audiência de seus programas ('Atualmente, no Rio, só perco para a 'Ave Maria', às seis da tarde, do Júlio Louzada'). Mas, quando um desavisado mais exigente critica o Big Boy, Newton pergunta o que acha da seleção musical da rádio Eldorado FM (Rio), repleta de Pink Floyd, The Who e Emerson. Lake and Palmer. 'Dessa eu gosto', costuma ser a resposta que envaidece o disc-jockey. Também é Newton Duarte quem escolhe a programação da Eldorado FM.
Big Boy e Ademir Lemos - outro promotor de bailes nos anos 70
Antes de tudo, Big Boy, tanto quanto Newton, dispensa vaidades. Confessa-se um 'bicão' obstinado, desde o começo da carreira. Foi de frequentar diariamente os corredores da rádio Tamoio (discos importados debaixo do braço, trazidos por um amigo americano que trabalhava em aviação, Douglas Robert, conseguiu um lugar de programador na estação.Assíduo das rodas do rádio da década de 60, Big Boy foi levado junto com o locutor Humberto Reis, para a nova rádio Mundial, planejada pelo jornalista Reinaldo Jardim. O tempo da estação era dividido em em programinhas que se alternavam, falando de música francesa, italiana, romântica, turbulenta, cada um de 20 minutos. 'Big Boy', seleção de discos feita por Newton Duarte, era o horário que devia ser ouvido pelo garotão típico da época (estamos no meio da década de 60), o não careta, o que estava atualizado com  as internacionais. Só que era apresentado pela voz impostada de Humberto Reis, o de 'Músicas na Passarela', da Tamoio, e depois, já decadente, dos júris de TV. Newton Duarte queixava-se daquela voz dura e formal do seu programa, dizendo o nome, e Reinaldo Jardim nem se perturbou com as reclamações; -'Eu criei o personagem Big Boy baseado exatamente em você. Quem deve apresentar o programa é você mesmo.' "

(continua)

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