Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Eric Clapton - Série Gênios do Rock Revista Ele Ela (1974) - 2ª Parte

"Mais tarde, os Yardbirds contariam com Jeff Beck na guitarra-líder e com Jimmy Page, primeiro tocando baixo, e depois na segunda guitarra-líder. A turbulência e o egocentrismo de duas estrelas (Page e Beck) cortariam em apenas seis meses a vida deste potencialmente supergrupo. O Led Zeppelin formou-se depois e continua fortíssimo. A reputação de Eric, portanto, já fora estabelecida e em abril de 65 ele entrava para o Bluebreakers de John Mayall, cujos grupos tinham incluído nomes quentes do blues britânico, convidara Clapton para se unir a ele trabalhando nos vocais e na guitarra-líder. Assim, nos quinze meses subsequentes Eric passou da etapa de aclamação do público a uma verdadeira lenda, surgida a partir dos pubs enfumaçados e clubes de blues dos subúrbios ingleses. Ele se transformou no heroi da guitarra - ficou bastante claro que Clapton não era meramente o membro competente de um grupo, mas uma estrela capaz de inspirar o seu próprio culto. Seus fãs logo inventaram um slogan à altura do seu ídolo: Let God play a solo (Deixem Deus tocar um solo).
O Bluebrakers era, sem dúvida, o que havia de melhor no gênero e a cuca de Eric, desde os primeiros dias de sua relação apaixonada e religiosa com a  guitarra, estava cheia de Robert Johnson, Erlind Boy Fuller, Skip James, Chuck Berry, Bo Diddley, B.B. King e Son House. Chegara a hora de desenterrar toda a vibração que partia dos seus dedos compridos e macios. Apesar da forma purista com que a linguagem simples do blues era tratada, o Bluebrackers tomara um rumo suficientemente rígido para que Clapton  se frustrasse e, em meados de 1966, partisse novamente atrás de seus sonhos. Antes de deixar o purista John Mayall, Clapton gravara três faixas para a marca Elektra, como E. Clapton and the Power House, que incluía Ben Palmer (no piano), Jack Bruce (no baixo), Steve Winwood (órgão), Paul Jones (gaita) e Pete York (bateria). A experiência de contato com novos músicos fora enriquecedora e Clapton percebeu a possibilidade de novas trilhas para seu espírito criativo. 'Até tocar com Mayall o blues era o único tipo de música e eu não gostava de mais nada.'
A oportunidade de realizar o sonho de todo músico em possuir um supergrupo surgiu em julho de 66, logo depois de sua saída do Bluesbrakers. Ginger Baker, que já fora baterista do Alexis's Corner Blues inc. e no Graham Bond Organization, sugeria agora a formação de um novo trio. Eles eram ambos músicos dos músicos, assim como Jack Bruce, que completou o grupo na guitarra-baixo. Bruce trabalhara com Ginger Baker no Grahan Bond Organization, e cada um deles sabia da excepcional performance dos companheiros. Portanto, não havia porque não dar à banda um nome mais do que adequado: Cream (Creme). A conjunção dos três talentos fez do Cream um inacreditável supergrupo que iria influenciar  toda uma geração de músicos. Eles foram lançados no Twisted Weel, em Manchester e tocaram ao vivo pela primeira vez no festival de jazz & blues de 1966, diante de dez mil fãs alucinados, encharcados de suor e chuva. O sucesso foi imediato e o Cream logo abandonaria o estilo dos primeiros concertos, partindo para um trabalho que manifestasse o improviso criativo de cada um. Este caminho, integrado com as habilidades inesgotáveis do grupo, fez a música pop avançar e amadurecer. No período de dois anos, a fama de Cream ultrapassara os domínios de sua majestade e eles gravaram: Fresh Cream e Disraeli Gears (em 1967) e Wheels of Fire (1968), sob o selo ATCO Records. Uma série de clássicos da música pop surgiria das mãos destes três gênios do rock - Sunshine of Your Love, Strange Brew, White Room, Teles of Brave Ulysses etc... No final de 1968, quando o trio se desfez por causa de insatisfação pessoal e musical, tinham se estabelecido como o mais importante grupo desde os Beatles, e seu sucesso estava assegurado no mundo inteiro, tanto nas apresentações ao vivo, quanto gravando. É Clapton quem conta como as coisas começaram a ir mal com o Cream: 'Depois do Filmore (1967), fizemos uma excursão de cinco meses. Tocávamos quase todas as noites e aquilo me deixou exausto. Uma noite eu parei de tocar na metade de um número, e meus colegas não notaram. Fiquei ali olhando, em pé, e os caras tocaram a música até o fim, como se nada houvesse acontecido. Que droga, eu pensei. Você vê, o Cream era originalmente um trio de blues, como Buddy Guy, o guitarrista com seção rítmica. Eu queria ser Buddy Guy, o guitarrista com uma boa seção de ritmo. Outra ideia sobre o Cream era transar coisas estranhas e absurdas no palco. A canção Water Papper, eu creio que fazia parte deste tipo de atitude. Fizemos um som no Marquee e pusemos um gorila no palco.. Havia também gelo seco. Sem sentido, sem propósito... só loucura.' Fora disto havia uma constante guerrinha entre Jack e Ginger, porque um adorava o som do outro, mas não se suportavam como pessoas. Clapton costumava ser o mediador, mas já estava cansado de sê-lo, e isto ajudou a entornar o caldo."
(continua)                                                                                      

Nenhum comentário:

Postar um comentário