Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Eric Clapton - Série Gênios do Rock Revista Ele Ela (1974) - 1ª Parte

Em 1974 a revista masculina Ele Ela publicava uma série de matérias que tinha por título "Gênios do Rock", e o nono músico destacado foi Eric Clapton, que vinha de um longo período de afastamento, fazendo tratamento contra o uso de heroína, e estava lançando o ótimo álbum  "461 Ocean Boulevard". A introdução da matéria, escrita por Márcia Mattos, trazia o seguinte texto:
"Certo dia ele leu em algum lugar que o rock tinha nascido do blues. E resolveu pesquisar por conta própria para saber se era verdade. O resultado foi o desenvolvimento de um estilo incrível, que levou o público a dizer 'Eric é Deus' ou chamá-lo de 'Eletric Eric'. Sem nunca assumir o estrelismo, Eric Clapton se tornou um dos maiores guitarristas do mundo inteiro."
Abaixo a primeira parte da matéria:
"Robert Stigwood, famoso empresário, anunciou historicamente numa festa, em abril do ano passado: 'O velho Mão Lenta está de volta.' Eric Clapton que já foi chamado de Deus, estava saindo de um pesado isolamento de três anos de silêncio, interrompidos apenas por dois concertos beneficentes e rumores de vício em heroína. Agora, com seu novo álbum 461 Ocean Boulevard e uma excursão bem sucedida, Clapton parece que voltou para ficar. Mão Lenta (Slowhand) era o irônico apelido de Clapton, hoje com 29 anos, quando seu estilo fluido, com a espontaneidade que a lingua do blues oferecia, começou a chamar a atenção geral em 64 com os Yardbirds.
Eric, como a maioria das estrelas do fechado clube de milionários do rock, aos 8 anos já ganhava sua primeira guitarra (de plástico), mas alguém se sentou em cima dela, destruindo-a. Nosso heroi só voltaria a tentar música na adolescência, quando se desapontou com seu curso na Escola Kingston  de Arte. Começou a aprender violão acústico, que convencera seus pais a comprar. 'Na hora do recreio eu punha discos o tempo todo. Muddy Waters, Big Bill Broonzy... só blues. Naquela época, eu li na capa de um disco algo como: O rock'n roll tem suas raízes no blues, e coisas desse tipo. Então eu achei que tinha que descobrir aquilo por mim mesmo.'
 Seu estilo sofreu as primeiras influências marcantes quando ele entrou em contato com o blues negro: 'Comprei um disco de Leadbelly. Fiquei ligadíssimo. Eu nunca tinha ouvido nada igual. Entrei na jogada do blues pelas mãos de Son House e Robert Johnson.'
Com um passado completamente invejável, tendo percorrido inúmeros grupos e tocado com  a nata do rock, Eric não é o que se chamaria de uma estrela. Seus olhos tímidos, o corte de cabelo sempre variando (dizem que seus solos são como seu rosto: mudando sempre), o perfil suave e atento, esconde uma energia infinita, a sensibilidade e a pureza do seu talento musical. Através dos anos, o prestígio de Clapton firmou-se e ele passou a ser aclamado nos quatro cantos do mundo, apesar de sua modéstia em não gostar nem mesmo de ser tido como líder dos grupos em que tocou. Em 1969, a revista especializada Melody Maker declarou-o 'maior músico do mundo'. Em 1970 foi a vez da Guitar Player anunciá-lo como o 'melhor guitarrista do mundo'. Ele foi chamado de 'rei dos guitarristas de blues', e o Music Express falou de seu trabalho com o grupo Cream: 'É o tipo de som a partir do qual o mito aparece.' O maior elogio, porém, nasceu do público - numa estação do metrô londrino escreveram em 1965: 'Clapton is God' (Clapton é Deus'), e a frase se espalhou pelos muros da Inglaterra. Apesar disso tudo, ele sempre foi, fora da música, um anônimo completo. Mesmo no palco, tem adotado uma série de disfarces para proteger sua individualidade. Numa noite ele pode aparecer com um terno sofisticado, e na na outra com um velho jeans  desbotado.
Eric largou a escola e trabalhou durante algum tempo ajudando o pai - um pedreiro - antes de entrar para seu primeiro grupo. The Roosters era o nome e várias vezes contou com Paul Jones e Tom McGuiness do Manfred Mann's e Brian Jones dos Rolling Stones. Quando o grupo se dissolveu Eric se uniu à turma de Liverpool, Casey Jones and the Engineers, mas a união foi breve, pois o som de Casey possuía muito comercialismo e caía nos mesmos clichês dos seguidores dos Beatles. As raízes do menino pobre que cresceu nos becos escuros de Surrey, levavam-no muito mais para os braços tristes e solitários do blues, do que para o repeteco do yeah-yeah-yeah estridente.
Eric se uniu então aos Yardbirds, em outubro de 1963. Costumavam tocar no Crawdaddy Club em Richmond, onde os Rolling Stones começaram seus dias de glória. Tocavam rock e blues e quando resolveram entrar no terreno pop comercial, Eric fez as malas e se mandou, depois de gravar um dos grandes sucessos da época: For You Love. É ele quem diz: 'Somente depois que estive com os Yardbirds por uns dezoito meses é que comecei a levar minha música em termos sérios. Percebi que era aquilo mesmo que eu queria pelo resto de minha vida... então era melhor que eu fizesse a coisa direito... estava sempre querendo subir mais um degrau e quase nunca satisfeito com o meu modo de tocar.' Tony McPhee, do The Groundhoghs, recorda estes tempos: 'Eu me lembro dos Yardbirds logo depois que Eric entrou. Ele costumava usar pedal de distorção de uma maneira incrível. O efeito era impressionante, o seu potencial já era óbvio.' "
(continua)

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