Palavras Domesticadas

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sábado, 23 de maio de 2015

Eric Clapton - Série Gênios do Rock Revista Ele Ela (1974) - 3ª Parte

" Com o Cream, a música pop se desenvolvera, do mesmo modo com que Dylan influenciara muitos letristas. Ao lado de Jimi Hendrix - cujo nome está ligado ao próprio crescimento do rock nos anos sessenta - Eric estava sempre um ou dois degraus acima de seu público e de seus contemporâneos. Isto trouxe alguns problemas - ele sempre tocava para pessoas que queriam que ele olhasse para trás, para as músicas que o público ouvira e amara, ao invés de perceber progresso e mudança dos solos que excitavam Clapton. Havia vezes em que uma multidão gritando pelo seu número favorito, parecia uma multidão gritando por sangue em uma tourada. Daí ele preferir atualmente tocar em pequenos clubes como vos velhos tempos: 'Nós não queremos mais ser grandes de modo algum!...'
Ao sair do Cream, Eric voltou a Surrey onde nasceu, mas logo formaria outro grupo na tentativa (que mais tarde se frustrou) de recuperar o espírito do Cream. O grupo era o Blind Faith (Fé Cega), e contava, além de Ginger Baker, com os talentos de Rick Grech (baixista do ex-Family) e Stevie Winwood (vocais e teclados). Stevie fora do Manfred Mann's e depois formara o Traffic, uma das melhores bandas da era do flower power inglês.  O Blind Faith gravou um álbum belíssimo (hoje uma raridade para os aficionados), e realizou a seguir uma tournée milionária pelos Estados Unidos. Clapton aproveitou uma folga e voou para Toronto com John Lennon, solando num concerto que a Aplle Records gravou com a Plastic Ono Band.
Infortunadamente , o potencial do grupo nem bem começara a ser usado, quando resolveram se dissolver - apesar do sucesso aparecer desde o início, quando eles tocaram num concerto grátis no Hide Park, Londres, para 36 mil pessoas. Na excursão pelos EUA, um grupo pouco conhecido, acompanhava o Blind Faith com sucesso: Delaney and Bonnie. Eric gostou tanto deles que os levou para a Inglaterra, para uma tournée que trazia George Harrison de volta após três anos. Delaney and Bonnie e seus músicos foram usados no primeiro álbum solo de Eric, que financiaria a excursão deles pela Europa e Estados Unidos.
Clapton refere-se a esta temporada lembrando que: '... o que acontecia era que a gente ensaiava pouco, a gente se conhecia pouco. Eu ia para os grandes concertos e descia do palco tremendo como uma folha, pois eu sentia que novamente eu deixaria o público deprimido. Comecei uma grande amizade com Delaney enquanto o meu relacionamento com o Blind Faith pifava. Eu percebera que o Blind Faith não dava mais pé. Eu queria ser o guitarrista-líder com Delaney porque eles estavam tocando música soul.'
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 Foi esta a primeira vez que Clapton se lançou como líder de um grupo, com Bobby Whitlock (órgão/vacais), Jim Gordon (bateria) e Carl Radle (baixo). A primeira apresentação ocorrerá no concerto das Liberdades Civis do Dr. Spock. O novo nome do grupo era Drek and the Dominoes. O público recebeu muito bem a volta de Eric e mais uma vez as entradas para os shows se esgotaram rapidamente e foram vendidos milhões de discos. No verão viajaram pelas principais cidades inglesas, e no outono percorreram os EUA, lançando um álbum duplo vibrante e sensível (Why Love Has To Be So Sad, Presence of Lord, Got To Get Better In a Little While e outras). Duane Allman (do Allman Brothers Band) impressionara Eric e foi convidado a tocar com o Derek nas sessões do Layla, em outubro de 70. Layla era o pseudônimo dado por Eric ao seu grande amor não correspondido Pat (ex-senhora George Harrison), hoje sua companheira.
Quando os Dominoes se separaram, Eric se retirou voluntariamente para seu sítio em Surrey. Sua ausência gerou rumores que ele estava viciado, que estava morrendo ou até que já morrera. Depois das mortes súbitas de Janis Joplin e Jimi Hendrix, a ele coube o bizarro e necrófilo título: Próximo Mais Provável a Morrer. Qualquer coisa que Eric tenha feito em sua carreira, ele nunca se comprometeu por causa de modismos, nem alterou seus padrões em benefício da massificação do rock. Ao contrário, ele escolheu fazer música do seu jeito, da sua cabeça. Quando outros artistas contemporâneos, tendem a ser copistas - o som de Eric tem a originalidade e a autenticidade que o tornavam inigualável.
Em agosto de 71, saindo do isolamento, ele tocou no concerto pelas vítimas de Bangladesh, sem dúvida o grande acontecimento daquele ano, contara com estrelas do primeiro plano (Leon Russel, Billy Preston, Klaus Voorman, Ringo Starr e  outros). O Velho Mão Lenta só voltaria a abandonar sua solidão em janeiro de 73, no Rainbow Theater de Londres , ao lado de Pete Townshend, Ronnie Wood, Stevie Winwood, Jim Capaldi e mais algumas feras do mundo pop. O resultado pode ser ouvido no álbum Eric Clapton Rainbow Concert. Mais uma vez, após três anos de silêncio virtual, Eletric Eric (como o chamam no Village de Nova Iorque) voltou em triunfo com o álbum 461 Ocean Boulevard, tocando com Yvonne Elliman (do Hair e Jesus Cristo Superstar) , Carl Radlle (baixo), Jamie Oldaker (bateria), George Terry (contrabaixo) e o produtor Tom Dowd. O compacto I Shot the Sheriff explodiu na praça e duas excursões, uma à Europa e  outra aos EUA, fizeram enorme sucesso. Ele diz de sua última fase: 'Eu quero estar aqui, agora, acontecendo. Voltei cheio de fé. É claro que não sei o que virá depois. Mas sempre que eu ponho meu novo álbum na vitrola e começo a pensar que é ótimo, eu ponho Stevie Wonder logo depois para mostrar a mim mesmo que há coisas melhores. Eu acho ele incrível, sem contar a predileção natural que tenho por cantores. Nunca compro um disco por causa da guitarra-líder, mas pela voz do cara.' A admiração de Eric por cantores como Ray Charles e Stevie Wonder se explica, provavelmente, por sua timidez e medo de cantar. Só agora seu talento vocal começa a ser utilizado.
Suas músicas mudaram pouco, mas a velha magia de seus solos permanece intacta. Não há mais o frenético rock dos primeiros dias, os solos longos e emotivos, embora seu estilo de tocar continue cheio de malícia. De qualquer modo, na maior parte do álbum percebe-se um novo estilo e um novo Eric Clapton a ser ouvido.. Ele podia ter voltado e tocado dentro de seus padrões antigos, mas ao invés disto, fez o mais difícil, trouxe algo novo. Ele pode agora parecer menos com Deus (Clapton é Deus?!?), porém seu disco prova que ainda é o melhor guitarrista por aí. Ainda quer seja delicioso olhar para trás e lembrar as glórias do passado, é o futuro que  importa agora. Pois Eric Clapton é um gigante do rock para sempre."

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