"Em São Bento e Garanhuns, cresceu ouvindo os coquistas na feira. Em Recife, teve a sorte de 'morar na Rua Palmares, onde no carnaval passava todo o quilombo da cultura pernambucana'. Conheceu maracatus, caboclinhos. Era feio gostar, assim como não era de bom tom ouvir Luiz Gonzaga. Ele gostou e foi acumulando o repertório que hoje sabe de memória. Avô do mangue bit, seus frevos e maracatus já tinham o que chama de atitude rock - a prova é que, no Rock in Rio II, seu show foi escolhido o melhor de todos pelo júri JB, competindo com Prince. 'Chico trabalhava em cima do mesmo maracatu, mas com outra referência, o funk, compara ele.
A família não o queria músico. Preferiam advogado. Foi estudante de direito, cobrador judicial e até trabalhou na sucursal pernambucana do Jornal do Brasil. Em 1969, escreveu Papagaio do Futuro, aquela em que prometia ir danado pra Catende (*). Inscreveu a música no Festival Internacional da Canção. Era um embolada, e Alceu foi para o subúrbio de Olaria, no Rio, à procura de Jackson do Pandeiro. Jackson estava no ostracismo. 'Ele se sentia que os cabeludos, o movimento da Jovem Guarda, tinham desempregado ele'. Quando viu o cabeludo Alceu na porta, Jackson fechou a cara. 'Queria que o senhor cantasse comigo no festival', disse Alceu, antes de atacar com 'Estou montado no futuro indicativo/Já não corro mais perigo/E nada tenho a declarar'. 'Isso e a embolada de 2001', aprovou Jackson, que mais tarde iria excursionar em shows com o cantor.
Alceu e Jackson do Pandeiro |
Outro encontro importante foi Luiz Gonzaga. Já o conhecia do alto-falante da feira, da radiola do avô, da rádio de Garanhuns. Conhece todas as suas músicas pela introdução.'Jackson era como um tio boêmio. Luiz era mais articulado', compara, imitando a voz profunda do Rei do Baião. Ritmo que, aliás, ele garante ser parente do blues. Luiz Gonzaga soa como Ray Charles, prova Alceu cantando duas canções. Para demonstrar isto, Alceu sonha em fazer uma 'ponte entre o São Francisco e o Mississipi', organizando o projeto de intercâmbio cultural Blues-Baião.
Estudioso da invasão holandesa de Pernambuco, Alceu já agendou para setembro de 1998 o Mauricefest, um festival para lembrar a ocupação e sua herança cultural. O bairro do Recife, antigo reduto judeu, vai sediar cavalhadas e exposições e ter ruas rebatizadas com os nomes dos belgas, dos franceses e dos alemães - estrangeiros que também fizeram parte da ofensiva flamenga. 'Acharam meu sobrenome numa sinagoga em Amsterdã', conta Alceu.
É só um dos projetos deste pernambucano arretado, que já chegou a vender 800 mil discos com Cavalo de Pau. Recentemente, andou cedendo aos convites para ser ator que o acompanham desde que fez o papel título de A Noite do Espantalho, de Sérgio Ricardo. 'Fui convidado até para fazer o Corisco em Corisco e Dadá', conta ele, que topou ser Lampião num especial da TV Manchete. Mas seu tempo é mesmo para a música. Alceu já tem guardadas as canções do disco Mourisco, um álbum em que todas as melodias exploram a herança musical moura trazida ao Brasil por portugueses e espanhois. Em Sol e Chuva, onde seus sucessos ganharam novos arranjos, ele também gravou quatro inéditas, para mostrar que não está parado. A partir do dia 17, entra em estado de show pelos 15 anos de temporada. 'Acordo artista, tomo café artista e me visto artista. É uma maratona' "
(*) Aqui a jornalista fez uma confusão. Papagaio do Futuro participou do Festival Internacional da Canção de 1972 e não de 1969, e a letra não falava em "ir danado pra Catende". A música Vou Danado pra Catende participou de outro festival, o Abertura, em 1975.
Pois é,todos erram,rs.
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