Em 1992 Milton Nascimento fez uma grande turnê pelos EUA. Uma boa matéria com entrevista foi escrita pela jornalista Aura Pinheiro, direto de Releigh, Carolina do Norte, e reproduzida pelo jornal Folha da Manhã:
"Milton Nascimento está encerrando a mais longa (e talvez completa) turnê de um cantor brasileiro pelos Estados Unidos.
- Planos, Milton Nascimento?
- Vou gravar um novo disco. Vou trabalhar também com trilhas sonoras para balés e teatros.
Aos 50 anos, 36 de carreira, o menino de Três Pontas continua mais disposto do que nunca. Ele acaba de percorrer 19 cidades americanas, mas foi em Releigh - capital da Carolina do Norte, o verde estado dos pinheiros - que decidiu ficar mais tempo.
- Por quê, Milton?
- Isso aqui parece Minas Gerais.
Trazido do aeroporto pela associação local de brasileiros, Milton foi para um bar contar casos, e depois ganhou uma festa promovida por mineiros, paulistas e fluminenses:
- Estou, na verdade, fazendo uma espécie de retrospecto. Os shows aqui nos States mostram as diversas fases de minha carreira. Nesta hora e meia, canto também músicas da turnê do ano passado, basicamente o meu LP Txai no exterior.
- Viagem boa?
- Muito boa. Cada cidade tem uma coisa diferente.
- O lugar mais diferente.
- Marquete, no Michigan. Imagina que no show todo havia um único brasileiro. Isso era uma prova de que o público foi lá para me ouvir sem me conhecer. Realmente foi uma coisa fantástica, diferente.
Na maioria das cidades, porém, Milton é apresentado como cantor de jazz. Ele reage:
- Não gosto de ser rotulado. Canto jazz também, mas isso não me define. Aliás, sou mesmo é um músico eclético. E uma prova disso é meu envolvimento com artistas de tendências bem diferentes.
Nos dedos, ele vai lembrando:
- Trabalhei com Peter Gabriel, Tracy Chapman, Sting, Paul Simon, James Taylor, Sarah Vaughan... Em novembro do ano passado, por exemplo, participei de um festival de música na Venezuela, cantei com Pablo Milanés, Mercedes Sosa e Soledad Bravo. No dia seguinte, cantei na Apoteose (Rio) com Paul Simon.
Em Releigh, Milton Nascimento cantou para 700 pessoas no Stewart Theatre, da NC State University. A maioria esmagadora era de americanos. Então Milton abriu o show com músicas do Txai. No meio da apresentação, no entanto, os americanos foram contagiados pelos 50 brasileiros presentes e um desajeitado swing foi crescendo no embalo de 'Maria, Maria' e depois tudo virou emoção com 'Coração de Estudante':
- Não entendo uma palavra do que diz, mas o importante é o feeling que ele transmite com suas músicas belíssimas - diz um locutor de rádio local ao apresentar Milton Nascimento para o público.
Milton ficou num hotel médio perto da Universidade. Como o show era à noite, de dia não se fez de rogado e saiu em campo, ou melhor, saiu a passear pelas bucólicas ruas de Raleigh e posou para fotos mil entre as folhas vermelhas do outono americano que tingem o chão da Carolina do Norte. Como nem toda noite é noite de show, foi a butecos de estudantes mas rejeitou a cerveja feita no próprio bar porque seu lema é rejeitar qualquer bebida alcólica. Então, bebeu água.
No quarto do hotel recebeu uma brasileira que tem programa de música do Brasil em uma rádio local. E contou (pela milésima vez) que é filho de empregada doméstica, sua mãe morreu quando ele tinha um ano, nasceu no Rio. Criou-se em Três Pontas, começou cantando em bailes quando tinha 13 anos e levou ouvintes a enxugarem os olhos quando relembrou, a voz mansa que todos conhecem:
- Fui adotado pela família que tinha minha mãe como empregada. Fui uma adoção muito complicada, principalmente porque estava sendo adotado por pessoas brancas. Hoje encaro essa adoção como uma dádiva de Deus. Quando vejo essas crianças pobres todas abandonadas no Brasil, penso porque é que outras pessoas não fazem como fizeram comigo? Há, na certa, mil Milton Nascimento entre eles.
Política, Milton, e a política brasileira?
- Acho que os políticos brasileiros deveriam ter o mesmo amor que o povo tem pela terra - responde ele.
- Você pensa em morar fora do Brasil? - uma pergunta que todo brasileiro faz (e se faz) quando está no exterior. Milton nem pestaneja:
- Não saio do Brasil nem a pau."
No quarto do hotel recebeu uma brasileira que tem programa de música do Brasil em uma rádio local. E contou (pela milésima vez) que é filho de empregada doméstica, sua mãe morreu quando ele tinha um ano, nasceu no Rio. Criou-se em Três Pontas, começou cantando em bailes quando tinha 13 anos e levou ouvintes a enxugarem os olhos quando relembrou, a voz mansa que todos conhecem:
- Fui adotado pela família que tinha minha mãe como empregada. Fui uma adoção muito complicada, principalmente porque estava sendo adotado por pessoas brancas. Hoje encaro essa adoção como uma dádiva de Deus. Quando vejo essas crianças pobres todas abandonadas no Brasil, penso porque é que outras pessoas não fazem como fizeram comigo? Há, na certa, mil Milton Nascimento entre eles.
Política, Milton, e a política brasileira?
- Acho que os políticos brasileiros deveriam ter o mesmo amor que o povo tem pela terra - responde ele.
- Você pensa em morar fora do Brasil? - uma pergunta que todo brasileiro faz (e se faz) quando está no exterior. Milton nem pestaneja:
- Não saio do Brasil nem a pau."
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