Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Jimi Hendrix, o Mito Continua Vivo - Revista Manchete (1974) - 1ª Parte

"Selvagem, livre, agressivo, indecifrável, fazendo de sua música um símbolo da revolta negra, Jimi Hendrix, mesmo sem o pretender, tornou-se um dos maiores ídolos do seu tempo. Quase quatro anos após sua morte, em Londres, um documentário sobre ele, em exibição nos Estados Unidos, e o álbum duplo com algumas composições mais importantes, lançado há pouco no Brasil, vêm mostrar que tanto ele como seu blues espacial continuam vivos. Seus admiradores vão desde adolescentes delirantes, que vibravam diante de sua incrível coreografia, até os críticos de música popular, para os quais Jimi Hendrix não foi apenas um instrumentista de gênio, mas o homem que canonizou a guitarra."
Esse é o texto de apresentação de uma matéria sobre Jimi Hendrix, publicada na revista Manchete em 1974, numa série chamada "Ídolos da Juventude", da qual Hendrix foi o terceiro astro destacado. A matéria não vem assinada, e traz muitas fotos e um bom resumo da carreira do guitarrista. Eis a matéria:
"Meio magro, meio índio, James Marshall Hendrix, o pequeno Jimi que corria descalço pelas ruas se Seattle, sua cidade natal, era um menino diferente dos outros: tinha poucos amigos, vivia quase sempre fechado em si mesmo e passava horas e horas em frente ao espelho, guitarra em punho, tentando imitar os primeiros ídolos do rock'n roll.
Meio negro, meio índio, James Marshall Hendrix, o grande Jimi Hendrix que conquistou o mundo com sua música, foi também um homem diferente dos outros: muitos amigos, expansivo, sempre de guitarra em punho, mas tão ou mais indecifrável do que aquele estranho menino de Seattle.
De certo modo, poucas pessoas terão conhecido bem Jimi Hendrix, um dos maiores ídolos do seu tempo. Dave Anderson, um dos poucos amigos de infância, diz ter tentado, sem êxito, decifrá-lo:
- Hoje sei que os dois Jimi, o menino triste de Seattle e o homem aparentemente alegre que morreu em Londres, eram exatamente a mesma pessoa. Havia, dentro de cada um deles, algo que os unia.
Danny Howell, outro amigo de infância, diz:
- Jimi sempre foi uma criatura marginalizada. Em criança, quando vivíamos numa comunidade negra, ele fazia questão de dizer que tinha sangue cherokee. Mais tarde, quando já era aceito no meio dos brancos,  orgulhava-se de ser negro e lutava pelos direitos do negro. Para mim, Jimi foi, conscientemente, um rebelde em tudo, inclusive da música.
O rebelde Jimi nasceu a 27 de novembro de 1942, numa família pobre e numerosa. Desde cedo teve de  trabalhar - vendendo jornais, ajudando o pai, fazendo mil e um biscates - e mesmo assim pôde completar o primário e o ginásio. Seu interesse pela música foi despertado por volta dos treze, quatorze anos, quando Elvis Presley, Little Richard, Bill Halley e  outros viviam o auge da febre do rock'n roll. Embora, nesta mesma época, o pai tenha lhe dado de presente uma guitarra, ninguém acreditou que ele levasse a música muito a sério. Nem mesmo os que o viam, todos os dias, ensaiando diante do espelho os requebros de Elvis e seus seguidores. É Howell, ainda, quem lembra:
- Jimi, nesse ponto, não me parecia muito diferente de dezenas de meninos de nossa idade que tentavam aprender guitarra.
 No ginásio, os colegas não viam nele nem o rapaz inteligente que era, nem o músico excepcional que acabaria sendo. Um terceiro amigo, Herbert Price Junior, lembra como Jimi era no colégio:
- Nós que o conhecíamos desde pequeno, sabíamos que era um cara superinteligente, brilhante mesmo. Os colegas de ginásio, porém, não tiveram tempo de perceber isso, porque, como aluno, Jimi foi apenas medíocre, pouco interessado nas matérias do curso.
Depois de passar dois anos no Exército, servindo numa corporação do Mississipi, Jimi decidiu entregar-se de corpo e alma à música. Em 1964, já se apresentava em conjuntos como os de Wilson Picket, Jackie Wilson, Ike & Tina Turner, sempre como acompanhante. Em seguida, tocou com Joey Dee e Little Richard, um de seus ídolos de infância. Em 1965, teve oportunidade de gravar um elepê, acompanhando os Isley Brothers. No ano seguinte, já como solista, cantava e tocava no Go Go, bar do Greewich Village, quando Chas Chandler o descobriu.
Não era preciso ter uma bola de cristal para saber que Jimi e aquela guitarra iriam longe. Descobri isso na primeira vez que o vi e ouvi no Go Go. Imediatamente, propus-lhe ser seu agente. Lembro-me que Jimi relutou muito até concordar. Uma semana depois, voávamos para Londres, onde eu o juntei ao conjunto inglês The Animals.
(continua)

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