Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Big Boy - Revista Rock, a História e a Glória (1974) - 2ª Parte

"Trêmulo e amedrontado, ainda a meio caminho, Newton Boy, ou Big Duarte, o ex-professor de Geografia , diplomado na Faculdade Nacional de Filosofia, sentiu a reponsabilidade, quando encostou a boca a primeira vez, no microfone. 'A voz saiu empostada, cara, igual a dos outros locutores da rádio.' Aos poucos, foi tomando o programa de assalto. No estilo Chacrinha, versão juventude, fez do sonoplasta, outro personagem (o 'Dr. Silvana', tirado das histórias do Capitão Marvel), destacando sintomaticamente, na era do rock, a figura do técnico de som. Ele mesmo, Big Boy, sacado por Reinaldo Jardim, era um reflexo da situação do Brasil diante do rock: o meio era a mensagem.
Formado nas audições diárias do programa 'Hora da Broadway', da rádio Metropolitana, do Rio, fanático pela audição de Your Make Believe Ball Room, apresentado por Waldir Finoti (programas em enormes disco de cera, que vinham exportados pela série 'A Voz da América'), Big Boy consolidou estilo.  De novo aconteceu numa cena em que fazia o insistente papel de 'bicão': depois de quatro dias na neve, na frente da gravadora Apple em Londres, conseguiu encontrar-se com Paul McCartney, isso em 1967, e a partir daí, figurar na lista mundial de disc-jockeys que recebiam as novidades dos Beatles um dia antes do lançamento oficial. Tocou 'Sgt. Pepper's' quando o célebre LP ainda não havia chegado às lojas londrinas, ganhou prestígio e estourou em audiência. Seu programa passou a dar um acesso à informação de rock tão rápido quanto qualquer ouvinte americano ou londrino. Hoje Big Boy recebe tonéis de compactos e LPs de gravadoras normais ou piratas, selos que às vezes desaparecem após o primeiro lançamento. Disso vivem seu programa e ele - agora casado, pai, morador das Laranjeiras, ex-filhinho de papai, bicão aposentado, 'hello crazy people, Big Boy pela Mundial é show musical'.
 Uma firma de publicidade, a j.P.S.. cuida de vender e promover o 'Baile da Pesada', atualmente uma firma como outra qualquer, com 15 funcionários especializados, técnico de som, montador, iluminador, chofer e um locutor entra para esquentar, preparando o público antes do astro, Mr. Big Boy. Responsável pela parte dos clip-films (filmes feitos pelos artistas internacionais para divulgar suas gravações novas) dos programas de TV 'Fantástico' e 'Sábado Som', ele não abre mão do improviso em suas apresentações no rádio. Pega uma pilha de compactos, fitas, encara o microfone, enrola a voz e cria slogans, inventa apelidos, regula impacto e clima. Big Boy poderia estar falando direto do Cavern Club, onde um dia reinaram os Beatles, título e assunto exclusivo de seu programa dos sábados, há anos. 'Não consigo acabar com ele, toda vez que ameaço chovem cartas de protesto (*).
Entre zona norte e zona sul, os repertórios do 'Baile da Pesada' sintomaticamente variam, constata. Big Newton Duarte Boy. No Monte Líbano, da Lagoa, no Rio, onde chegou a arrecadar  9 mil cruzeiros numa noite de clube superlotado e quebrado, o rock vai de Emerson, Lake & Palmer, muito Beatles e Rolling Stones. Ai dele (que nunca programa antecipado, vai sempre colocando os discos conforme a reação dos dançarinos) se tocar isso em Rocha Miranda, Olaria, Padre Miguel, Ramos. 'Começam a vaiar. Igual nos Estados Unidos, eles querem é soul, e mesmo assim James Brown. Não aceitam música branca, mais lenta, sem a bateria marcada. O negro é muito plástico, gosta de ver seu próprio corpo dançando. Cada baile desses tem seus expoentes, locais, os cobras que todos rodeiam para depois copiar os passos. E só querem soul, talvez pela batida ser picadinha, igual a samba'.
E porque Big Boy, Ritmos de Boate, o Baile da Pesada, não tocam a música feita no Brasil? Questão de imagem, irreversível?
'É, cara. Infelizmente acho que sim. Eles não aceitariam'  "

(*) Mesmo depois da morte de Big Boy, o programa Cavern Club continuou sendo apresentado ainda durante um bom tempo na rádio Mundial, aos sábados às 18h.

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