Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Titãs - O Melhor Show de 86 (Revista Zorra)

Em 1986 vivíamos o auge do sucesso do rock brasileiro dos anos 80, e naquele ano especialmente, os Titãs passariam a figurar entre as mais importantes bandas brasileiras daquele segmento, após o lançamento de seu terceiro álbum, Cabeça Dinossauro, que significou uma virada na sonoridade da banda, sendo um dos discos mais aclamados daquele período. Na ocasião, a revista Zorra nº 2, especializada em rock brasileiro, traz uma matéria sobre um show dos Titãs no Projeto SP, assinada por Fabian Chacur e intitulada O Melhor Show de 86:
"No dia 24 de agosto de 86, os Titãs iniciavam a sua temporada do lançamento do LP Cabeça Dinossauro, no Projeto SP. Após uma turnê de mais de 3 meses por todo o Brasil, e também depois de conseguir vencer o bloqueio das FMs em relação ao seu  álbum, a banda conseguiu o que para muitos parecia impossível: um disco de ouro com o seu LP mais radical. Para comemorar tal façanha, fizeram um novo show onde a temporada se iniciou, no dia 10/12/86, uma quarta-feira. Apesar do dia não ser dos mais propícios, no meio da semana, as dependências do Projeto SP estavam completamente tomadas por uma plateia composta por fãs entusiastas e que demonstravam uma vibração e um carinho pela banda simplesmente incríveis. Outro ponto a destacar: a diversidade deste mesmo público, composto desde punks radicais até intelectuais e curtidores de MPB, provando que a qualidade realmente une as facções mais diversas.
Os Titãs deram uma lição daquelas à mídia. Enquanto muitos grupos se sujeitam aos ditames da moda, eles não titubearam em assumir uma proposta extremamente radical, abordando temas considerados tabu por muitos, tais como igrejas, políticos, família e outros, com uma roupagem musical agressiva e que vai do punk ao funk, sempre de forma extremamente bem acabada. As rádios boicotaram de início as músicas deste álbum, mas o público merece os parabéns por tal façanha.
Um certo crítico diz para quem quiser ouvir que 'Os Titãs Não Tocam nos Discos'. Pura inveja. Quem já assistiu a banda nos shows, em especial no Projeto SP, pode sentir músicas excelentes e com uma garra de acabar com qualquer possível dúvida. Nando (baixo) e Charles (bateria) formam provavelmente a melhor cozinha do rock nacional, precisa e versátil. Nando canta os reggaes da banda com muito swing, além de encarnar a revolta na agressiva 'Igreja'. Charles estraçalha nas baquetas, além de se utilizar de bateria eletrônica na música 'O Que', onde ele faz percussão de forma impecável. A dupla de guitarristas, Marcelo Fromer e Tony Belotto também merecem todo o destaque. Belotto toca barbaridades, com garra e uma presença de palco simplesmente arrasadora, com seus pulos.
Que banda, no mundo, pode se orgulhar de poder cantar com 5 ótimos vocalistas? De Nando, eu já falei. Vamos então, aos outros. Arnaldo Antunes assume o papel do jovem que 'a televisão deixou muito burro demais', e dá conta do recado. Branco Mello faz o tipo 'boyzinho', e também bota pra quebrar. Sérgio Brito, que também toca teclados, surpreende por seu poder de controle sobre a plateia. No bis da música 'Polícia', ele conseguiu fazer a plateia cantar a música com ele sem acompanhamento da banda, a capella! Sua garra  e vibração também são incríveis. Paulo Miklos é seguramente o melhor dos 4, embora por pouco, e se mostra completamente possesso na interpretação da visceral 'Bichos Escrotos'. As músicas eram executadas em blocos, onde cada um dos vocalistas cantava uma sequência, sendo Branco o coringa. A iluminação teve um destaque todo especial, iluminando a banda também de baixo para cima, um recurso que há muito não se usava em shows no Brasil, e que se mostrou de excelente utilidade. Duas piras, uma de cada lado da bateria, exalavam vapores e criavam um clima visual exótico.
A plateia literalmente enlouqueceu desde a primeira música, a que deu nome ao álbum da banda, 'Cabeça Dinossauro'. Além das canções deste álbum, a banda tocou os melhores de seus 2 álbuns anteriores, e propositadamente deixou de tocar os seus antigos hits bregas, tais como 'Sonífera Ilha' e 'Insensível' (graças a Deus!). Como diria o bom Ezequiel Neves, a banda 'não nos deixou sentados de jeito nenhum'. Quando vocês ouviram falar de show com 8 (eu disse 8!) músicas no bis? A plateia simplesmente não deixava o grupo sair do palco! Portanto, queiram desculpar os fãs do RPM, cujo show também foi excelente, mas pra mim não há discussão: o melhor show de rock em 86 foi o dos Titãs, que eu considero a nossa melhor banda, já com nível internacional. Podem escrever: se houver o tal de Rock in Rio II, os Titãs serão seguramente um dos destaques, e darão pau em muita banda de nome dos Estados Unidos e Inglaterra. Valeu, garotos! Que em 87 vocês consigam manter todo esse pique!"

Um comentário:

  1. Nossa, que legal encontrar uma cópia de digital de uma resenha feita por mim há 36 anos! Muito obrigado por publicá-la com o devido crédito, serei eternamente grato!

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