A contribuição de Caetano Veloso para a música brasileira, e mais amplamente falando, para a cultura brasileira de uma forma geral é inegável. Por isso seu nome sempre é lembrado ao se falar da cena musical brasileira, a partir dos anos 60, quando ele surgiu, até os dias atuais. Assim, uma coleção voltada aos grandes mestres de nossa música, chamada Os Grandes da MPB, e que saía em fascículos em bancas de jornais nos anos 90, teve um número dedicado a Caetano. Dele extraí esse texto, assinado por Francisco Rodrigues:
"Uns dez anos depois do estouro da Bossa Nova, a estão chamada vanguardista música brasileira, que servia de trilha para filmes de sucesso, conhecidos e premiados no exterior, como Orfeu Negro, de Marcel Camus, e Um Homem... Uma Mulher, de Claude Lelouch, começava a invadir terras americanas e europeias e a música feita no Brasil - e para os brasileiros - não conhecia novos horizontes. Foi em meio a esse panorama, muito influenciado por João Gilberto e Tom Jobim, mas querendo ampliar as perspectivas e mesclar o gênero já estabelecido com motivos que vinham do Nordeste, sem com isso cair no regionalismo puro e simples, e as novas experimentações harmônicas e eletrônicas, que surgiram os baianos.
Caetano Veloso e Gilberto Gil eram como líderes dessa renovação, que contava ainda com o compositor Tom Zé, os poetas Torquato Neto e Capinam e as vozes ímpares de Gal Costa e Nara Leão (Maria Bethânia, irmã de Caetano e que viera para o Rio substituir Nara no musical Opinião, corria por fora, cantando na noite e se chegando mais perto do povão, que adorava os sambas de Noel Rosa, e as canções românticas, tipo dor-de-cotovelo, mais próprias de um público noturno), embalados pelas guitarras e irreverência do grupo Os Mutantes e as orquestrações de Rogério Duprat.
Alegria, Alegria, considerado o estopim do movimento baiano, conseguiu um quarto lugar no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record/São Paulo, enquanto o Ponteio de Edu Lobo, o Domingo no Parque de Gilberto Gil e a Roda Viva de Chico Buarque ganhavam os três primeiros lugares. Era ainda 1967. O grande estouro do Tropicalismo aconteceria no ano seguinte, a partir do álbum que levava, justamente, o nome de Tropicália.
Era, ao mesmo tempo que um trabalho de vanguarda, uma manifestação que procurava exorcizar, fazendo dele a base de sua manifestação, o mau gosto, o kitsch, a geleia geral (título de uma das músicas do disco, de Gil e Torquato) que o Brasil representava naquele momento.
'O poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira
No calor, girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
Ê bumba iêiê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi...'
Junto dos motivos de inspiração folclórica haviam também canções com temas-limite, como 'Coração Materno' de Vicente Celestino (nada mais trágico e mais cômico), o bolero 'Lindonéia', inspirado por uma pintura de Rubens Gerschman, a balada 'Baby', que viraria um grande sucesso popular nas paradas na voz de Gal Costa, e até uma revisitação atualizada a um chachacha antigo, 'Las Tres Carabelas'.
Foi um marco e um grande início de renovação para a nossa música popular, que desembocaria em dezenas de novos artistas e de novos gêneros e de novas sonoridades, e como deve ser, novas experimentações.
Como Caetano e Gil dizem em 'Cinema Novo', do álbum Tropicália 2, de 1993, que comemorava os 25 anos da Tropicália:
'Quer ser velho, de novo eterno,
Quero ser novo de novo'. "
Nenhum comentário:
Postar um comentário