Marianne Faithfull foi uma presença marcante na cena do rock dos anos 60, fazendo parte especificamente da história dos Rolling Stones, por sua proximidade com a banda, principalmente com Mick Jagger, com quem teve um conturbado relacionamento. Mas seria injusto atribuir somente a esse envolvimento sua passagem pelo mundo do rock, afinal teve uma boa, embora efêmera carreira como cantora e atriz. Por isso Marianne foi lembrada na revista Bizz nº 79, de fevereiro de 1992, na seção Jukebox, em texto escrito por René Ferri:
"Ela é um caso raro na música pop. Uma artista que, mesmo com uma produção bissexta, é o tempo todo fascinante - jamais caindo no esquecimento, nunca saindo do foco da atenção do público e da crítica.
Há muito, desde os anos 60, sua voz perdeu o frescor e o encantador vibrato, para ganhar um registro rouco, gutural, fantasmagórico, cada vez mais acentuado. Como cantora e personalidade, Marianne é uma das mais interessantes do seu tempo. E note-se, ela surgiu na fervilhante Londres dos anos 60, a das grandes revelações que transformaram a história da música popular ocidental.
Desde seu aparecimento, Marianne só fez chocar, começando por sua descendência nobre: seu tio-bisavô foi o infame Leopold Von Sacher-Masoch. Sua mãe é baronesa do ex-império austro-húngaro.
Uma aristocrata decadente no meio da escumalha noveau riche do rock causou impacto: primeiro estupefação e deslumbramento, depois uma perseguição abjeta movida pela morbidez de certa imprensa rancorosa e cheia de preconceitos.
No auge do sucesso trocou a música pelo teatro sério. Autêntica liberal, facilitou a imagem de anjo caído e libertina impingida pela opinião conservadora.
Como intérprete, começou gravando originalmente o hit "As Tears Go By", dos Rolling Stones, e prosseguiu estabelecendo colaborações com Andrew Oldhan, Jackie DeShannon e Paul McCartney (fez a primeira cover de Yestarday).
Gravou "Scarborough Fair" e "Spanish Is A Loving Tongue" antes de, respectivamente Simon & Garfunkel e Bob Dylan. E ainda várias canções de Donovan, antes de ficarem famosas na voz do autor. Sua "Sister Morphine" antecedeu a dos Stones em três anos.
Uma série de crises - culminando em tentativa de suicídio - e o uso de drogas praticamente encerraram sua carreira no início dos anos 70. Depois fez várias tentativas frustradas de voltar, já recuperada do ciclo das drogas pesadas, mas acumulando um fascínio doentio pela morte. Só fomos assistir a seu verdadeiro ressurgimento em 79, com o incrível LP Broken English, um dos mais ousados e melhores discos já concebidos. A temática, passando por terrorismo, autodestruição, pornografia explícita e suicídio, pregou um susto em todo mundo e fez com que Marianne voltasse ao sucesso.
Doze anos e apenas quatro álbuns depois, espera-se que a qualquer momento ela reapareça e, de novo, nos encante. Lá fora, pelo menos, a espera pode ser atenuada com o vídeo Blazin' Away (de sua última turnê, em 89/90) e a recém-lançada biografia As Tears Go By.
Cada disco seu tem algo forte, chocante, novo ou surpreendente. Tem sido assim desde seu primeiro single, e lá se vão mais de 25 anos!
Definitivamente, Marianne Faithfull é única."
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