Palavras Domesticadas

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domingo, 12 de julho de 2020

Roger Waters Fala do Cream

A revista Rolling Stone lançou um número especial intitulado Os 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos. Nessa revista um artista consagrado escrevia um texto sobre um outro astro ou banda que ele admira ou influenciou em sua carreira. Dentre os artistas que deram seu depoimento, Roger Waters, do Pink Floyd escreveu um texto sobre o power-trio Cream, que marcou uma geração de músicos durante os dois anos (1966 a 1968) em que esteve em atividade. No texto ele fala de um show que ele assistiu do Cream, antes de formar o Pink Floyd, e como a banda marcou a sua vida, e aquele show específico ficou em sua memória. É um testemunho de fã, antes de tudo. Segue abaixo o texto de Waters:
"Eu estava no terceiro ano de estudo em um lugar de Londres chamado Regent Street Polytechnic School of Architecture, que foi onde conheci Nick Mason e Rick Wright. No final de cada período acontecia um show e naquela vez tivemos o Cream - em um pequeno hall onde eu havia certa vez interpretado Happy Loman em Morte de um Caixeiro Viajante, o que na verdade não vem ao caso. A cortina se abriu e os três começaram a tocar 'Crossroads'. Eu nunca tinha visto algo assim antes. Eu estava simplesmente atordoado pela quantidade de equipamento que eles tinham: pela bateria de bumbo duplo de Ginger Baker, pelos amplificadores Marshall 4 por 12 de Jack Bruce e por todas as coisas que Eric Clapton tinha. Era uma visão maravilhosa e um som explosivo.
Depois de dois terços do set, um deles disse: 'Gostaríamos de convidar um americano amigo nosso ao palco'. Era Jimi Hendrix, e esta foi a primeira noite em que tocou na Inglaterra. Ele veio e fez todas aquelas coisas hoje famosas, como tocar com os dentes. Aquele ingresso custou uma libra ou algo assim. Pode ter sido a melhor compra que fiz na vida. Depois disso, o Pink Floyd começou sua carreira profissional, e a gente encontrava o Cream na estrada. Eles afetaram tanta gente - Jimmy Page deve ter visto o Cream e pensado: 'Cacete, acho que vou fazer isso também', e assim montado o Led Zeppelin. Junto com os Beatles, eles deram a nós todos que estávamos começando no negócio naquela época algo em que aspirar e que não era exatamente pop, mas ainda era popular.
Lembro que Ginger Baker era insano naquele tempo e tenho certeza de que ainda é. Ele acertava a bateria mais forte do que qualquer um que tenha visto, com a possível exceção de Keith Moon. E Ginger batia em um estilo rítmico que era todo seu e extraordinário. De Eric Clapton não precisamos nem falar - é óbvio o quão incrível ele é. E então há Jack Bruce -  e provavelmente o baixista mais abençoado musicalmente que já existiu.
O Cream foi inovador dentro do contexto de toda aquela música vindo da costa oeste dos Estados Unidos na época, de bandas como Doors e Love. Além de ser uma grande banda de blues, o Cream mandava realmente bem em inúmeros outros estilos.
Há músicas em todos os álbuns do Cream que ainda me espantam até hoje, como 'Crossroads', 'Sunshine of Your Love', 'White Room' e 'I Feel Free'. Eles estavam tentando compor material que fosse verdadeiramente progressivo e original. E conseguiram."

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