A morte prematura de Elis Regina, em janeiro de 1992 causou uma comoção nacional. Considerada por muitos, e com razão, como a melhor cantora do Brasil, Elis era uma mulher de grande fibra e forte personalidade. Dona de uma inteligência brilhante, suas entrevistas encantavam tanto quanto seu canto.
Por ocasião de sua morte, a revista Amiga editou uma revista especial sobre Elis, uma edição histórica trazendo matéria jornalística sobre sua morte, além de muitas fotos, depoimentos, entrevistas, etc. A revista ainda trazia trechos de sua última entrevista, realizada poucos dias antes de sua morte, para o programa Jogo da Verdade, da TV Cultura. A matéria trazia uma chamada, com uma frase dita por Elis na entrevista: "Eu não entendo e talvez vá morrer sem entender as pessoas".
Um texto introdutório dizia: "Toda vivacidade que demonstrava como cantora, Elis Regina não tinha em seu interior. Ultimamente, seus olhos revelavam muita depressão. Isto ficou patente em sua última entrevista, gravada no dia 4 deste mês, para o programa Jogo da Verdade, levado ao ar três dias depois. Entre suas mágoas, muitas queixas sobre a profissão. Da vida, uma certeza: 'Eu queria morrer.' "
Abaixo, os trechos selecionados pela revista de sua última entrevista:
"Qual a faceta que estou mostrando para você? A de uma profissional de música e ponto final. Porque bem poucas pessoas vão conhecer minha casa. Sou Elis Regina de Carvalho Costa, que poucas pessoas vão morrer conhecendo!"
"A minha missão é cantar, é dar alô. Dizer para as pessoas umas coisas que elas não sabem e aprender outras que não sei."
"Eu cantei nas Olimpíadas do Exército, das quais o pessoal da Globo também participou. Foram todos obrigados. E você vai dizer que não? Eu tinha exemplos muito recentes de pessoas que disseram não e se lascaram. Então eu disse sim."
"Aos poucos arregalei os meus olhos e vi que não sou apenas um passarinho que sabe cantar muito bem porque lhe deram alpiste na hora certa."
"Acho que, de certa forma, as pessoas tinham até razão em não se aproximar de mim, porque eu exalava intranquilidade."
"Jamais procurei refúgio em divãs de analistas. Para me fazer a cabeça, prefiro um cabeleireiro ou uma roupa nova."
"Não posso perder tempo em ser uma gaúcha, quando preciso ser uma brasileira, quando sou parte de um mundo, quem sabe com a possibilidade de ajudar a fazer com que as pessoas melhorem."
"De excelentes cantoras o Brasil e o mundo andam cheios. A mim não interessa ser uma boa cantora a mais. Quero usar o dom que a mãe natureza me deu para diminuir, com ele, a angústia de alguém. Essa ideia é que pode dar sentido ao meu trabalho. E é por isso que cultivo essa ideia com carinho todo dia."
"Hoje em dia ninguém tem amigos sem medo."
"O livre-arbítrio existe. E foi através dele que eu acabei com toda aquela minha vida e recomecei, sem raiva, sem ódio de ninguém."
"Sou espírita. Há espíritas e espíritas. O importante é que você entenda que vem para cá se lascar mesmo, que é para ficar mais legal, porque você precisa se acrescentar, você tem coisas a dizer, porque tem compromissos assumidos antes com as organizações que tomam conta disso tudo. E depois você vai ter que prestar contas."
"Casar não é difícil. difícil é descasar, porque além de tudo, a Justiça é machista. Minha cabeça virou esbórnia. Decidi não levar mais nada a sério a não ser a febre do menino."
"Aprendi que a vida é feita de dois lados Você precisa conhecer o lado torto para conhecer o lado bonito."
"Agora só me faltam carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim. Viver é ótimo!"
"Eu não entendo e talvez vá morrer sem entender as pessoas."
"Todos nós somos profundamente inibidos. O lado suicida é cultivado talvez porque a gente seja um pouco masoquista. A gente é tão masoquista que escolhe uma carreira de marginal, uma profissão que não existe."
"Em termos de absoluta verdade, não posso negligenciar o que me foi rico na vida. Cantar não é trabalho; é devoção e sacerdócio. E ser artista foi o que me deixou de pé. Foi para isso que eu vim. Filho é tão forte quanto. O resto é resto..'
"No final o que me vai sobrar no palco e cantar. Como Edith Piaf."
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