Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 8 de junho de 2016

A Contracultura e o Movimento Hippie - Utopia dos Anos 60 (2ª Parte)

"Ken Kesey, escritor consagrado, autor de Um Estranho no Ninho, juntou-se ao grupo Grateful Dead, de Jerry Garcia, do qual era mentor espiritual e porta-voz, para realizar testes coletivos de expansão de consciência através de música e estímulos sensoriais e visuais. Eram viagens induzidas de LSD para plateias em shows, festas ao ar livre e para quem pintasse no caminho do velho ônibus lisérgico de Kesey.
Plateias dançavam em êxtase por horas, cabeça feita pela música do Dead e pelo Sunshine Califórnia, o mais puro ácido lisérgico da época. Isso quando LSD não era ilegal. Na ilegalidade, o que a polícia poderia fazer? Prender 10.000, 15.000 pessoas de uma vez?
De Los Angeles surgiam bandas como Buffalo Springfield, Love, The Byrds e The Doors, de Jim Morrison.
Uma onda de conflitos raciais estourava nas grandes metrópoles americanas. Incêndios, saques e mortes. Tropas de soldados tentam conter as revoltas.
Bem longe dali, uma outra tropa participava do Monterey Pop Festival, perto de Frisco. Cerca de 50.000 jovens celebram três dias de 'Música, Paz, Flower Power e Amor'. Sem incidentes. Matriz dos festivais de rock e dois anos antes de Woodstock, apresentou mais de 30 bandas, futuras estrelas que, com poucas exceções, tocaram de graça a troco de despesas e acomodação. Performances à parte, no mínimo três são antológicas: Janis arrasa, deixa de ser apenas a vocalista da banda, nasce uma estrela: Hendrix e Pete Townshend , líder e guitarrista do The Who, discordam da ordem de apresentação e fazem shows incendiários. Jimi concorda em tocar antes e rouba a cena, ateando fogo na guitarra enquanto simula sexo com o instrumento. Sem alternativa, o Who dá o sangue e destroi, literalmente, todos os instrumentos.
Musicalmente, no entanto, 1967 seria um ano Beatle por excelência. Enquanto finalizam o novo álbum, eles participaram de um programa de TV, na primeira transmissão via satélite da história.
 Nada menos que 200 milhões de pessoas assistem à première de All You Needs is Love. Bem ao estilo hippie, com namoradas e convidados ilustres sentados no chão, fazendo o coro final da canção. Entre eles Mick Jagger e Keith Richards. E, após quase um ano em estúdio (um recorde!), lançam a obra-prima, Sgt. Peppers and Lonely Hearts Club Band, a ponte entre a música pop e a arte contemporânea. Na capa do LP, 85 personagens do milênio. E Sgt. Peppers realizou a proeza: num ano de safra musical classe A: ofusca, sem piedade, a todos os outros.
Em Washington, um negro assume pela primeira vez a Suprema Corte. O mesmo assessor jurídico que acabara com a segregação legal nas escolas e nos ônibus. Vitória pequena perto das perdas que o movimento negro ainda sofreria.
A escalada contra a guerra não para. Em outubro 50.000 manifestantes cercam o Pentágono e avançam contra o cordão de policiais. Mais de 250 são presos, incluindo o escritor Norman Mailer. Em outubro, ao fechar um centro de alistamento militar, mais pessoas são detidas. Entre elas, o doutor Benjamin Spock, famoso pediatra e o poeta Allen Ginsberg.
O líder  vietnamita Ho Chi Min envia telegrama cínico aos manifestantes: 'Nós venceremos. E vocês também'. Mas o fim da guerra estava bem longe.
Nos últimos meses de 1967, o movimento começa a ser absorvido pelo sistema de consumo americano, os próprios hippies bloqueiam a intersecção das ruas Haight com Ashbury e decretam seu fim.
Queimados retratos de seus ícones máximos, jogam fora seus colares e debandam. Há um êxodo para as comunidades rurais que vivem da terra.
Mas muita coisa mudaria antes de Woodstock, em agosto de 1969. O homem conquistaria a Lua. A mesma Lua que brilhara nas noites quentes do Verão do Amor em São Francisco."


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