"Em 1984, 'The girl from Ipanema' voltou às paradas americanas numa onda nostálgica, e a carreira de Astrud foi revivida. Na Inglaterra, grupos como Sade, Everything But The Girl e Matt Bianco faziam um pop de embalagem acústica, no que foi batizado no Brasil de new bossa e os discos da cantora brasileira estiveram entre as referências para esse período. Entre 1986 e 1990, o violonista Romero Lubambo, outro brasileiro radicado em Nova York, a acompanhou em excursões por Japão, Europa e EUA. Lubambo conta que a cantora fascinava os públicos mais diferentes.
- Havia os fãs do tempo da bossa nova que continuavam fiéis, mas era impressionante ver a quantidade de jovens na plateia. Nessa época ela estava querendo mudar um pouco o estilo, cantar ritmos diferentes, acrescentar suas próprias composições. O público gostava mesmo assim, mas no fim ela não podia sair do palco se não cantasse 'Garota de Ipanema' - diz Lubambo.
O lado compositora de Astrud é ainda mais desconhecido no Brasil. O baterista Duduka Fonseca, que excursionou com ela por toda a década de 80 e participou das sessões de gravação do álbum com a orquestra de James Last, acredita que algumas de suas composições não deveriam passar despercebidas.
- 'Champagne an caviar', 'Forgive me' e 'Flora', uma homenagem a Flora Purim, são muito bonitas - assegura. - E percebi que o pessoal de 20 anos que ia aos shows na Europa já cantava as músicas do disco mais recente.
Entre esses admiradores de gerações posteriores estão o popstar francês Etienne Daho, que a chamou para um dueto em 'Les bords de seine', no disco 'Eden', de 1997, e George Michael, com quem gravou 'Desafinado' (Tom Jobim e Newton Mendonça) para o tributo beneficente 'Red Hot + Rio', em 1996, que reuniu ainda entre seus encontros a dupla Marisa Monte e David Byrne e um trio formado pela cantora de Cabo Verde Cesaria Evora, Caetano Veloso e o pianista japonês Ryuchi Sakamoto. a versão de Astrud e do cantor inglês para 'Desafinado' também foi incluída na coletânea de sucessos de Michael lançada ano passado. Béco Dranoff, produtor-executivo da Red Hot Organization, conta que a participação de Astrud foi uma sugestão do inglês.
Astrud e João Gilberto, nos anos 60 |
- Evidentemente Astrud sempre esteve no topo da lista das pessoas que convidaríamos para o disco, pois as suas gravações com Stan Getz foram a grande virada da música brasileira no exterior - conta Dranoff. - Mas quando contactamos Michael, que estava terminando o álbum 'Older', dedicado a Tom Jobim, ele imediatamente nos respondeu com um fax dizendo que queria convidar Astrud. Eles gravaram juntos em Londres, e ela o ajudou com o português. Pelo que sei, ainda se mantém em contato.
Só é pena que a timidez de Astrud dificulte que hoje, ela colha os muitos louros que lhe são devidos.
- Todo músico quer essa entrada que Astrud tem - diz Lubambo. - Mas acho que para ela isso já é normal, ela faz sucesso desde muito nova. Não liga mais. "
A matéria também trazia um texto sobre Astrud, assinado por Antonio Carlos Miguel, com o título "Ecos de uma pequena voz":
"A voz, pequena, mas certa, no momento e lugar certos, garantiram a Astrud Gilberto a fama e uma carreira internacional. Ela podia até então não ter pretensões como cantora mas ninguém se casa com João Gilberto impunemente. Os anos ao lado do obsessivo cantor e violonista deixaram marcas profundas e devem ter funcionado mais do que décadas gastas numa escola de canto. Ainda mais num contexto como o da bossa nova. O que explica o fato de Astrud não ter tido dificuldades ao ser intimada a participar de 'Getz/Gilberto'.
Desse lance do acaso nasceu uma cantora, e um estilo imitado mundo a fora - Gracinha Leporace no grupo de Sérgio Mendes, Ana Maria Valle com Marcos Valle. Mesmo que Astrud volta e meia desse suas desafinadas nos discos que gravou a seguir. E também que, no Brasil, existissem dezenas de outras cantoras bem mais talentosas, em diversos e até antagônicos estilos. De Sylvia Telles a Maysa, de Elis a Gal, passando por Nana, Bethânia e Clara Nunes.
Para entender a arte desse enigma, o disco 'Getz/Gilberto' é fundamental. Outra pedida, também gravado, em 1966, pelo selo Verve, é 'A certain smile, a certain sadness', embalado pelo suíngue do organista Walter Wanderley. Mais recente, o dueto com George Michael, de 1996, mostra que Astrud não perdeu a forma, nem seu charme, discretamente desafinado. "
A matéria também trazia um texto sobre Astrud, assinado por Antonio Carlos Miguel, com o título "Ecos de uma pequena voz":
"A voz, pequena, mas certa, no momento e lugar certos, garantiram a Astrud Gilberto a fama e uma carreira internacional. Ela podia até então não ter pretensões como cantora mas ninguém se casa com João Gilberto impunemente. Os anos ao lado do obsessivo cantor e violonista deixaram marcas profundas e devem ter funcionado mais do que décadas gastas numa escola de canto. Ainda mais num contexto como o da bossa nova. O que explica o fato de Astrud não ter tido dificuldades ao ser intimada a participar de 'Getz/Gilberto'.
Desse lance do acaso nasceu uma cantora, e um estilo imitado mundo a fora - Gracinha Leporace no grupo de Sérgio Mendes, Ana Maria Valle com Marcos Valle. Mesmo que Astrud volta e meia desse suas desafinadas nos discos que gravou a seguir. E também que, no Brasil, existissem dezenas de outras cantoras bem mais talentosas, em diversos e até antagônicos estilos. De Sylvia Telles a Maysa, de Elis a Gal, passando por Nana, Bethânia e Clara Nunes.
Para entender a arte desse enigma, o disco 'Getz/Gilberto' é fundamental. Outra pedida, também gravado, em 1966, pelo selo Verve, é 'A certain smile, a certain sadness', embalado pelo suíngue do organista Walter Wanderley. Mais recente, o dueto com George Michael, de 1996, mostra que Astrud não perdeu a forma, nem seu charme, discretamente desafinado. "
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