Em seu número de estreia (novembro de 1996), a revista musical Ziriguidum trazia uma matéria com a cantora e compositora Joyce, assinada por Alberto Feitosa Neto, e intitulada "Minhas cartas para o Brasil":
" Joyce estava com saudades do público brasileiro. E a recíproca era verdadeira. Depois de dez anos sem lançar um disco de músicas inéditas no país, a EMI brinda com o festejado CD Ilha Brasil.
Os anos noventa mostram a arte de Joyce mais refinada do que nunca, sem deixar de lado a força e a inteligência, duas marcas registradas. Para grande parte do público, a imagem de Joyce ainda era daquela menina cantando Clareana ao lado das filhas, proclamada ídolo dos bichos-grilo com canções como Monsieur Binot e Mistérios. Longe de rasgar sutiãs em praça pública e bem antes da deliciosa Outras Mulheres, a bandeira feminista havia sido levantada em Feminina.
Herdeira direta da bossa nova, sua carreira no exterior - em especial Inglaterra, EUA e Japão - já lhe rendeu felizes temporadas nos mais badalados clubes de jazz e blues e inúmeros hits nas pistas de dança mais descoladas da Europa.
Foi um esperto DJ inglês que descobriu maravilhas como Aldeia de Ogum (do LP Feminina, 1980) e Taxi Driver (do CD americano Language and Love, 1991). Provou que poderiam cair bem nas pistas de dança e transformou Joyce em cult entre aqueles adolescentes. 'No ano passado a gente fez uma experiência dessa aqui no Rio, tocando músicas brasileiras para dançar e trouxe esse DJ, que estava realizando um sonho. Mas ele quase apanhou. As pessoas queriam Madonna e Michael Jackson e ele não entendeu nada, ficou arrasado', ri do incidente, dizendo não acreditar que sua música conquiste as pistas de dança tupiniquins. 'Falta ver a música brasileira como digna de ser dançada, curtida', completa.
O disco novo chega com uma carga especial de saudade. São cartas ao Brasil. Cartas que ela guardou por longos anos sem lançar um trabalho inédito. 'Gravar no exterior para mim é muito fácil, mas eu queria que esse disco fosse feito em um estúdio daqui, para, depois, mandar para o mundo inteiro', explica.
Nas lojas japonesas dois meses antes do lançamento brasileiro, Ilha Brasil abre o valioso baú de músicas inéditas da cantora. Todas as faixas levam a marca pessoal e intransferível de Joyce, com parceiros como Paulo César Pinheiro, Maurício Maestro, Edu Lobo e Léa Freire.
A doce poesia de Paraíso contrasta com o samba-rap-desfile Rodando a Baiana, nas palavras da própria Joyce, 'um esporro em alguém'. Das imagens cinematográficas dessa faixa sai o primeiro video-clip do CD.
A força de sua poesia e de sua música é bem mostrada logo na primeira faixa: Samba da Zona. A bela e suava Havana-me vem de contraponto. O delicioso arranjo com um leve sabor bossa nova é da própria Joyce ao lado do Quarteto Livre, grupo idealizado a formado para acompanhar a cantora em shows e discos. Ao lado do parceiro de vinte anos, Tutty Moreno (bateria e percussão), conta com Mozar Terra (piano), Teco Cardoso (sopros) e Sizão Machado (baixo). O encontro foi tão feliz e proveitoso, que o Quarteto já prepara seus voos mais altos com apresentações solo e, em meio a outros compromissos o breve lançamento de um CD próprio.
No palco do elegante Teatro do Leblon (Rio), Joyce apresentou as músicas de Ilha Brasil em um show irretocável. Repertório, banda, luz, figurinos, direção e, no centro, a cantora em um momento muito feliz. Tudo funcionando perfeitamente, que conseguiu derramar algumas lágrimas de Caetano Veloso.
Mostrando grande segurança, Joyce dispensa a banda na hora de relembrar antigos sucessos. O clássico momento 'um banquinho, um violão' ganha em Joyce uma defensora em potencial. Para quem faz cara feia para o estilo, pensando em cantores de pouco talento que se escondem atrás da bossa nova acreditando que estão escondendo seus desafinos - quando na verdade estão os deixando ainda mais evidentes - é ácida, sem perder o humor: 'Pode ser bom, depende de quem toca', é taxativa.
Joyce é uma das grandes riquezas do Brasil. É tempo de aproveitar Joyce enquanto americanos, europeus e japoneses não reclamem saudades."
No palco do elegante Teatro do Leblon (Rio), Joyce apresentou as músicas de Ilha Brasil em um show irretocável. Repertório, banda, luz, figurinos, direção e, no centro, a cantora em um momento muito feliz. Tudo funcionando perfeitamente, que conseguiu derramar algumas lágrimas de Caetano Veloso.
Mostrando grande segurança, Joyce dispensa a banda na hora de relembrar antigos sucessos. O clássico momento 'um banquinho, um violão' ganha em Joyce uma defensora em potencial. Para quem faz cara feia para o estilo, pensando em cantores de pouco talento que se escondem atrás da bossa nova acreditando que estão escondendo seus desafinos - quando na verdade estão os deixando ainda mais evidentes - é ácida, sem perder o humor: 'Pode ser bom, depende de quem toca', é taxativa.
Joyce é uma das grandes riquezas do Brasil. É tempo de aproveitar Joyce enquanto americanos, europeus e japoneses não reclamem saudades."
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