Desde os anos 60 Naná Vasconcelos encanta o mundo musical com sua forma de tocar percussão, e criar climas muitas vezes inimagináveis. Músico de fama internacional, já tendo tocado com alguns dos melhores músicos do mundo, Naná nunca se distanciou de sua alma brasileira.
Em sua edição nº 26 (abril/maio de 1995), a revista Qualis trazia uma ótima matéria e entrevista com Naná, assinada por Sérgio Barbo:
"O pernambucano Juvenal de Hollanda Vasconcelos é considerado o maior percussionista do mundo. Provavelmente você nunca ouviu falar neste nome, mas certamente sob o epíteto de Naná Vasconcelos você conhece esse instrumentista brasileiro que já foi escolhido durante seis anos consecutivos como o melhor do mundo pela revista especializada Down Beat. A sua capacidade é comprovada pela enorme e variada lista de artistas que já tocaram com ele: Ornette Coleman, Don Cherry, Keith Jarreth, Jean Luc Ponty, Pat Metheny, Paul Simon, Talking Heads, Debbie Harry, Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte e Meninos de Rua são alguns dos nomes.
A mesma Down Beat foi obrigada a criar a categoria percussionista, até então inexistente, por causa da inventividade de Naná e outros músicos brasileiros como Airto Moreira, que agitaram o hemisfério norte com seus talentos na virada dos anos 60 para os 70. Criador de um estilo pessoal, utilizando voz e instrumentos brasileiros para atingir objetivos sonoros, ele transformou a percussão em harmonia. A música de Naná causou um certo estranhamento a princípio - principalmente nos estrangeiros, que acharam esquisito aqueles instrumentos exóticos - mas que logo se transformou em admiração. Seu talento singular e as experiências sonoras chamaram a atenção de muita gente e desde então ele é intensamente requisitado por inúmeros artistas, o que o possibilitou desfrutar de um ecletismo tão grande que o faz passear por diversos gêneros sem o menor constrangimento como jazz, MPB, rock, blues, salsa, ritmos africanos e música indiana. Como se vê, Naná Vasconcelos tem um gosto amplo e mente aberta. Uma sugestiva frase de uma canção de seu último álbum, 'Uma Tarde no Norte', já fala sobre esses limites: 'O meu chapéu é o alto do céu'.
Morando nos Estados Unidos desde os anos 70, e depois de duas décadas de reconhecimento internacional, Naná é um legítimo cidadão do mundo que mantém suas raízes originais, e que por isso está retomando contato maior com o Brasil, iniciado há quase três anos quando encantou plateias com o show O Bater do Coração. Ano passado ele participou do 2º Heineken Concerts, em abril, capitaneando (a melhor noite e) uma banda que teve como integrantes gente como Don Cherry (pai da cantora Neneh Cherry e um dos expoentes do free jazz na década de 60), Vernon Reid (ex-guitarrista do Living Colour) o feríssima baixista Arthur Maia e Marçalzinho, na percussão, Bo Stewart na tuba, entre outros. Durante os meses de agosto e dezembro em Salvador e em São Paulo, Naná criou o projeto ABC Musical que promoveu a interação musical de crianças com o folclore brasileiro e que contou com a participação das Orquestras Sinfônicas de cada cidade. Por último, lançou seu terceiro disco no país (O décimo-quarto de sua carreira), Contando Estórias - Story Telling (Velas), cujas músicas já puderam ser apreciadas nos citados shows.
Nascido há cinquenta anos atrás em Recife, as coisas aconteceram naturalmente na vida deste pernambucano iluminado. Foi iniciado musicalmente aos 12 anos, quando ganhou um instrumento do pai, e aos 14 anos já tocava bateria em orquestra profissional. 'Eu tinha autorização do juizado de menores para tocar em bailes e no cabaré , mas não podia descer do palco.
Em 65, foi para o Rio tocar em um festival, quando conheceu Milton Nascimento e participou dos primeiros discos dele. Em 69, o argentino Gato Barbieri, de passagem pelo Brasil, convidou Naná para tocar com ele, levando-o primeiro para a Argentina e depois para os Estados Unidos. Lá ele entrou de cara no disputadíssimo circuito de jazz internacional: 'Eu caí no meio da panela de músicos experientes e renomados e os quais admirava', conta ele. Aos poucos foi ficando muito conhecido e de lá foi para a França, onde morou alguns anos e trabalhou com terapia infantil em um sanatório para crianças excepcionais, utilizando berimbau e outros recursos percussivos, e que acabou servindo como protótipo para seu posterior projeto educacional com crianças brasileiras."
(continua)
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