Arnaldo elogia os investimentos na cultura para afastar os jovens do crime, feitos pelo AfroReggae, no Rio; e pelo Projeto Axé, na Bahia:
- O resgate de jovens através da cultura dá resultados magníficos. Cria auto-estima, leva o jovem a se sentir parte do mundo. Levas as pessoas a querer dar um jeito na casa, na vida, nas relações afetivas.
A originalidade que o Brasil tem a oferecer ao mundo, segundo ele, só aparece através da música popular.
- A música popular é responsável por dar uma cara dessa originalidade brasileira ao mundo. Ela já tem um reconhecimento considerável. Esse valor que a música brasileira tem é uma parte dessa representatividade que o Brasil poderá conquistar.
Quando Arnaldo Antunes fala em música popular, ele se refere a qualquer gênero musical. Gosta de música, daí seu afastamento dos Titãs para ampliar para além do rock a diversidade de sua produção:
- Todos os gêneros musicais têm coisas interessantes, acho estranho você se ligar a um só tipo de música. Saí dos Titãs um pouco pelo desejo de mostrar uma diversidade que não caberia numa banda de rock. O samba, o rock, o funk e o reggae são minhas quatro paixões. Mas cada vez mais fico querendo ouvir coisas diferentes, de outros lugares do mundo.
Arnaldo diz que nunca elegeu um gênero para recusar outros:
- Nunca tive essa coisa sectária de algumas pessoas do rock. Eu acompanho um monte de gente: Lenine, Pedro Luís, Lobão, da minha geração. Sou muito curioso, muitos são meus parceiros. Paralamas, Titãs, Frejat, Barão. Tem uma galera que continua produzindo e há as novas gerações, como Nação Zumbi, Mundo Livre, Marcelo D2, Moreno, Domênico e Kassim, Adriana Calcanhoto. Gosto de muita coisa. Com Marisa Monte e Carlinhos Brown compomos compulsivamente, como fazia com os Titãs. E, de antes, Caetano, Gil, Chico, Luiz Melodia, Paulinho da Viola. Os tempos convivem, as gerações convivem.
E, agora, vai para o carnaval!
- Gosto de carnaval, mas depende do estado de espírito. Às vezes quero fugir do carnaval. Este ano, estou carnaval - diz, rindo, o sambista que faz requebrar até os personagens do Cartoon Network. É dele a trilha carnavalesca que bota todo mundo pra sambar nas vinhetas do canal.
'Qualquer' é apenas um dos trabalhos que Arnaldo está lançando de uma só fornada. Além do CD e do show, o poeta reuniu na coletânea 'Como é que chama o nome disso' (Publifolha) poemas de sua dezena de livros, letras de música, inéditos, entrevistas. E o desenhista ilustra o livro de frases que reuniu de seu caçula, Tomé, 'Frases do Tomé aos 3 anos' (Editora Alegoria)
- São frases que têm densidade poética - orgulha-se sorridente - Fiz com o Tomé o contrário do que fiz com a mais velha, em 1992, quando ela, aos 3 anos, ilustrou um livro meu de prosa poética inspirada na maneira da criança falar e de fazer associações inusitadas e revelar coisas óbvias. O olhar infantil é revelador de coisas que a gente não está vendo, porque tem o primitivo preservado, o instinto.
Se o jeito pai babão de falar dos filhos, é comum a qualquer pai, Arnaldo Antunes parece incomum no desejo pelo reconhecimento dos seus:
- São meus primeiros ouvintes, meus primeiros leitores. A gente fica querendo ter orgulho dos filhos, mas quer também que eles se orgulhem da gente. Quero que se orgulhem de mim e acho que estou conseguindo - diz ele, que teve quatro filhos com a ex-mulher Zaba Moreau: Rosa, de 18 anos; Celeste, de 15; Brás, de 9; e Tomé, que fará 5.
Do poetinha caçula, Arnaldo não cansa de citar as melhores frases:
- Por exemplo, 'a bola só tem curvas'; 'o lobo mau é malvado porque não tem amigos, só tem um amigo que é o lobisomem'; 'o Papai Noel não nasceu de uma barriga, foi feito numa fábrica'; 'sabia que se Deus morrer, todo mundo morre?' O livro acaba quando ele faz quatro anos e diz: 'Agora eu tenho 4 anos, um monte de 4 anos, um milhão de 4 anos'.
Parte dessa suavidade que Arnaldo Antunes quer enfatizar em seu novo trabalho vem, sem dúvida, da relação especial que tem com os filhos. A música 'Saiba', gravada também por Adriana Partimpim, sugiu quando ele botava Tomé pra dormir na rede. Vem daí 'todo mundo já foi neném, Bush e Saddan Hessein'. Mas isso, segundo ele, não significa que esteja julgando ou absolvendo as atrocidades de um ou de outro:
- Essa música fala do primitivismo, de uma natureza humana que nos iguala. Todo mundo nasceu e todo mundo vai morrer. É a única coisa que nos iguala. Era originalmente uma canção de ninar e tem essa doçura. Talvez por isso dê essa impressão de acolher todos os seres humanos, além do bem e do mal.
A suavidade é a intenção atual:
- Eu retirei a percussão para que esse tratamento instrumental evidenciasse uma interpretação mais serena, para que as canções aparecessem com maior clareza, mais suavidade. Eu acho que as letras das canções nunca estiveram tão em evidência.
Apesar da ênfase nas letras em português, ele tem certeza de que 'Qualquer' pode ir para qualquer lugar.
- A canção transcende as letras. Sempre ouvi música em inglês sem entender as palavras e gostava. A intenção que é dada no canto expressa bastante significado. - diz.
O cenário em preto e branco embala o conceito do show: é um vídeo de média-metragem com imagens e fotos feito pela fotógrafa e artista plástica Márcia Xavier, de 39 anos, namorada de Arnaldo há dois.
- O vídeo não conta uma história, dialoga com a música - diz ela.
Para Márcia Xavier, Arnaldo tem o domínio da modernidade, com seu traço multifacetado, fluido em todos os canais. Para Arnaldo, lidar com diferentes linguagens sempre foi algo natural, espontâneo:
- Nunca me senti muito especializado. Qualquer artista de música popular já tem um pouco essa necessidade de lidar com várias linguagens. Tem a letra, o show, o cenário, o videoclipe, a capa do disco.
Para a namorada, o ponto mais forte é, acima de tudo, 'aquela voz':
- Aquele tom de voz é muito maravilhoso. Acho que é o que mexe aquela coisa dentro doida."
- São frases que têm densidade poética - orgulha-se sorridente - Fiz com o Tomé o contrário do que fiz com a mais velha, em 1992, quando ela, aos 3 anos, ilustrou um livro meu de prosa poética inspirada na maneira da criança falar e de fazer associações inusitadas e revelar coisas óbvias. O olhar infantil é revelador de coisas que a gente não está vendo, porque tem o primitivo preservado, o instinto.
Se o jeito pai babão de falar dos filhos, é comum a qualquer pai, Arnaldo Antunes parece incomum no desejo pelo reconhecimento dos seus:
- São meus primeiros ouvintes, meus primeiros leitores. A gente fica querendo ter orgulho dos filhos, mas quer também que eles se orgulhem da gente. Quero que se orgulhem de mim e acho que estou conseguindo - diz ele, que teve quatro filhos com a ex-mulher Zaba Moreau: Rosa, de 18 anos; Celeste, de 15; Brás, de 9; e Tomé, que fará 5.
Do poetinha caçula, Arnaldo não cansa de citar as melhores frases:
- Por exemplo, 'a bola só tem curvas'; 'o lobo mau é malvado porque não tem amigos, só tem um amigo que é o lobisomem'; 'o Papai Noel não nasceu de uma barriga, foi feito numa fábrica'; 'sabia que se Deus morrer, todo mundo morre?' O livro acaba quando ele faz quatro anos e diz: 'Agora eu tenho 4 anos, um monte de 4 anos, um milhão de 4 anos'.
Parte dessa suavidade que Arnaldo Antunes quer enfatizar em seu novo trabalho vem, sem dúvida, da relação especial que tem com os filhos. A música 'Saiba', gravada também por Adriana Partimpim, sugiu quando ele botava Tomé pra dormir na rede. Vem daí 'todo mundo já foi neném, Bush e Saddan Hessein'. Mas isso, segundo ele, não significa que esteja julgando ou absolvendo as atrocidades de um ou de outro:
- Essa música fala do primitivismo, de uma natureza humana que nos iguala. Todo mundo nasceu e todo mundo vai morrer. É a única coisa que nos iguala. Era originalmente uma canção de ninar e tem essa doçura. Talvez por isso dê essa impressão de acolher todos os seres humanos, além do bem e do mal.
A suavidade é a intenção atual:
- Eu retirei a percussão para que esse tratamento instrumental evidenciasse uma interpretação mais serena, para que as canções aparecessem com maior clareza, mais suavidade. Eu acho que as letras das canções nunca estiveram tão em evidência.
Apesar da ênfase nas letras em português, ele tem certeza de que 'Qualquer' pode ir para qualquer lugar.
- A canção transcende as letras. Sempre ouvi música em inglês sem entender as palavras e gostava. A intenção que é dada no canto expressa bastante significado. - diz.
O cenário em preto e branco embala o conceito do show: é um vídeo de média-metragem com imagens e fotos feito pela fotógrafa e artista plástica Márcia Xavier, de 39 anos, namorada de Arnaldo há dois.
- O vídeo não conta uma história, dialoga com a música - diz ela.
Para Márcia Xavier, Arnaldo tem o domínio da modernidade, com seu traço multifacetado, fluido em todos os canais. Para Arnaldo, lidar com diferentes linguagens sempre foi algo natural, espontâneo:
- Nunca me senti muito especializado. Qualquer artista de música popular já tem um pouco essa necessidade de lidar com várias linguagens. Tem a letra, o show, o cenário, o videoclipe, a capa do disco.
Para a namorada, o ponto mais forte é, acima de tudo, 'aquela voz':
- Aquele tom de voz é muito maravilhoso. Acho que é o que mexe aquela coisa dentro doida."
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