Elton Medeiros é um dos sambistas mais importantes do país, embora não tenha a popularidade de vários de seus colegas e parceiros. Falando em parceiros, podemos citar Paulinho da Viola, Cartola, Tom Zé, Zé Kéti e muitos outros. Em 04/02/2001 o jornal O Globo trazia uma matéria com Elton, assinada por João Pimentel, em que ele faz críticas ao rumo que o samba, as escolas e os desfiles estavam tomando, e suas misturas nem sempre bem acabadas. Segue abaixo a matéria:
"Elton Medeiros não faz questão de ser querido por todos, mas dispensa o rótulo de mal-humorado. Para ele, quem não entende de um assunto deve ficar calado e se esforçar para aprender. Na saída do show da Velha Guarda da Império Serrano, que encerrou o ciclo de homenagens a Zé Kéti, com sua direção, há duas semanas, em meio a uma série de sambas-enredos Elton irritou-se com uma moça que pedia insistentemente por 'Máscara Negra'. 'Minha filha, a Império é uma escola de samba, não de marcha', disparou. Mas, ao falar de seu novo CD, ainda sem nome, em fase final de produção, não esconde o orgulho dos parceiros.
- O meu último disco individual, o 'Mais Feliz', do início de 97, foi o meu trabalho mais infeliz. Não pelos músicos e pelo produto, que ficou ótimo, mas pela relação com a gravadora, que não honrou seus compromissos - conta Elton, criticando a Rob Digital. - Quando resolvi realizar este disco, reuni os parceiros novos e antigos.
Uma pequena olhada no escrete que Elton reuniu mostra o que vem por aí. O disco tem arranjos de Cristóvão Bastos, do bandolinista Afonso Machado - que também assina a direção musical - de Chico Moreira e Maurício Carrilho. As participações de Zezé Gonzaga ('Recato'), Regina Werneck ('Valsa Breve'), Pena Branca ('Minha Boiada') e Paulinho da Viola (na inédita 'Samba do Meu Drama'), diferentemente de sugerir uma mistura confusa, ressalta as qualidades do compositor, que não se prende ao samba tradicional, mas passeia tranquilamente por todas as suas variações.
Autor de clássicos como 'Recomeçar', com Paulinho da Viola, o sambista, um exímio melodista, diz que não toca nenhum instrumento e nem precisa, 'pois a música está na cabeça e no coração'.
Com autoridade, Elton critica a deformação não apenas das escolas, mas da cultura geral. Para ele é preciso entender os fundamentos, o alicerce de qualquer cultura, para querer modificá-la.
- Toda cultura tem seus fundamentos para atender a uma necessidade. Seja ela religiosa, hierárquica ou comportamental. Eu acredito que a cultura não seja estática, mas ela tem que ter um termômetro para reciclar, alguém que tenha estes fundamentos.
Para ilustrar sua tese, lembra de um encontro recente, com uma antropóloga, irmã de uma amiga, que perguntou qual era sua opinião sobre o Jongo da Serrinha. Depois de dizer a ela que respeitava Darcy (considerando um dos últimos mestres do ritmo), Elton contou que havia visto uma apresentação do grupo em que os outros instrumentos, como o clarinete e a flauta, misturavam-se aos tambores originais.
- Eu disse a ela que não era uma questão de gostar, que o jongo é tocado por tambores. Ela disse que era para melhorar um pouquinho. As pessoas transformam as coisas de tal forma que hoje todo mundo é pai de santo, macumbeiro e sambista.
Um abraço emocionado no parceiro Paulinho da Viola |
Fundador da Tupy de Brás de Pina, da Aprendizes de Lucas e da Quilombo, Elton Medeiros, mais que um crítico, é um personagem da transformação na concepção e na história das escolas de samba. Filho de um dançarino dos antigos ranchos, origem e modelo das primeiras agremiações, ele se emociona ao lembrar dos terreiros onde os sambas eram ensaiados.
- As pastoras tinham um caderno e eram acompanhadas por um regional que parecia estar fazendo uma serenata. O silêncio do restante era absoluto. Era um ritual. A gente queria cantar mas o diretor de harmonia segurava - lembra. Todo mundo sabia pelo olhar. O prazer de cantar era geral. Quando eu vivi isso pela primeira vez com um samba meu eu quase chorei. Isso não volta mais, não tenho ilusão.
E a falta de ilusão é a de um compositor que viveu um tempo em que para se entrar para uma escola era necessário antes saber tocar e construir os instrumentos.
- Também não tinha esta função de letrista. Era preciso saber compor letra e melodia para se juntar aos compositores mais antigos.
Sobre o Carnaval de hoje, Elton tem apenas críticas a fazer. Para ele, a transformação foi tamanha que as escolas se descaracterizaram completamente.
- Hoje em dia, o Carnaval se presta a um tipo de informação que não é cultural. Se eu entrar em um campo de futebol eu sou preso. O jogador entra na avenida, não sabe sambar, não canta, e é aplaudido - reclama. - Hoje em dia, o que existe é um grande baile de má qualidade."
- As pastoras tinham um caderno e eram acompanhadas por um regional que parecia estar fazendo uma serenata. O silêncio do restante era absoluto. Era um ritual. A gente queria cantar mas o diretor de harmonia segurava - lembra. Todo mundo sabia pelo olhar. O prazer de cantar era geral. Quando eu vivi isso pela primeira vez com um samba meu eu quase chorei. Isso não volta mais, não tenho ilusão.
E a falta de ilusão é a de um compositor que viveu um tempo em que para se entrar para uma escola era necessário antes saber tocar e construir os instrumentos.
- Também não tinha esta função de letrista. Era preciso saber compor letra e melodia para se juntar aos compositores mais antigos.
Sobre o Carnaval de hoje, Elton tem apenas críticas a fazer. Para ele, a transformação foi tamanha que as escolas se descaracterizaram completamente.
- Hoje em dia, o Carnaval se presta a um tipo de informação que não é cultural. Se eu entrar em um campo de futebol eu sou preso. O jogador entra na avenida, não sabe sambar, não canta, e é aplaudido - reclama. - Hoje em dia, o que existe é um grande baile de má qualidade."
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