Em 1983, o jornal Nossa Música nº 10, que era produzido em Belo Horizonte, fez uma matéria com Geraldo Azevedo, assinada por Paulo Parreiras, que reproduzo abaixo;
" Fez parte de um quarteto que acompanhava Vandré lá pelo final dos anos 60. Fez direção musical e um papel no 'A Noite do Espantalho' de Sérgio Ricardo. Foi preso duas vezes, uma em 69, logo depois do AI 5 e outra em 75, no 'governo' Geisel. É projetista, mas só se esconde da música sob este disfarce quando a barra pesa, como em 75. Já fez diversas novelas na Globo. E conseguiu levantar uma polêmica enorme em cima de um termo que designa o talvez segundo ritmo na preferência do povo, o forró. Resumidamente, taí Geraldo Azevedo, um cantor e compositor que a maioria só conhece pelas trilhas da novela das seis.
Apesar de se considerar fortemente influenciado por Minas, não só pelos banhos no São Francisco lá no Nordeste mas também pelos músicos mineiros, ele só tinha vindo aqui uma vez. Nove anos atrás, junto com Erasto Vasconcelos, irmão do Naná, Geraldo fez um show no SENAC e outros pelo interior. E esta volta, como ele diz, foi a realização de um sonho antigo, de trazer pra cá um lado mais profissional seu. Afinal, a primeira pessoa do 'ramo' que conheceu quando desceu do Nordeste foi Milton Nascimento, no Rio, que o levou a conhecer os mineiros todos, principalmente Toninho Horta, que ele acha muito identificado com o Nordeste, e Nivaldo Ornelas, que raramente deixa de participar com um solo em seus discos.
E voltou a Belo Horizonte com 'For all' para todos, o trabalho mais polêmico até hoje. O forró talvez seja o ritmo brasileiro mais forte culturalmente, depois do samba. E de repente estava aí Geraldo Azevedo dizendo que a palavra forró vinha do termo inglês 'for all', para todos. Se queria polêmica, conseguiu. Ninguém, pseudo-intelectuais ou os maiores entendidos da cultura popular como Gilberto Freyre e Câmara Cascudo, deixou de tomar partido, a favor ou contra a ideia. Ideia que ele julgava polêmica, mas nem tanto. Porque o que queria mesmo era chamar a atenção para as influências existentes em nossa cultura. E depois disso haja descobertas de influências. O próprio termo com que alguns contestavam a ideia, ou seja, forrobodó, que depois seria abreviado para forró, possivelmente é de origem africana.
Mas até chegar no 'for all', Geraldo teve muita batalha. No Recife já transava música, transou música depois que desceu pro Rio, só parando nas épocas em que a situação piorava, como nas duas vezes em que foi preso. Mas nunca com a intensidade e a entrega de uns quatro anos pra cá. Quando foi que realmente se assumiu, fez cinema com Sérgio Ricardo, fez novelas na Globo, fez um disco com Alceu... Aliás, foi desse encontro com Alceu Valença que pintou um pique pra música, Alceu lhe devolveu uma energia que ele tinha perdido. E apesar dele não considerar muito bom o disco, tanto por imaturidade deles quanto pela gravadora (a Copacabana nesta época produzia Agnaldo Rayol, Martinha, etc), foi aí o ponto em que começou a se preocupar mais com o outro lado da música, com sua projeção. Antes, música era apenas arte.
E por este outro lado da música, o - digamos - mais comercial, Geraldo Azevedo soube caminhar muito bem. Seu relacionamento com a Globo, por exemplo, já vem de longo tempo, tanto participando da TV em si mesma, como no caso das novelas, quanto utilizando-a na divulgação de suas músicas, incorporadas às trilhas sonoras globais. E faz isso sem o menor medo de concessões. Porque, para ele, a televisão serve apenas como divulgadora de um produto. O produto mesmo é o disco, e é nele que há o risco de concessão. A TV, ou seja, o relacionamento da TV com o músico é uma consequência do trabalho em disco. Se o músico conseguiu se manter inteiro no mercado do disco, não vai ser a TV que o forçará a concessões. Quem tiver qualidades sobreviverá, independente de ter se 'globalizado' ou não.
E ele vê poucos sobreviventes, atuais ou futuros, nos músicos de hoje. Por estarem se afastando culturalmente de suas raízes, por se renderem facilmente às influências ou exigências do mercado, poucos estão fazendo um trabalho duradouro. Como foi o caso da Blitz: como veio passou, meteoricamente. A única coisa com que Geraldo Azevedo concorda nisto tudo é a alegria, a redescoberta da alegria nas músicas. Que de mau humor nossa situação atual já está cheia, não é preciso que isso seja cantado nos rádios pra que tenhamos consciência da crise por que passamos. "
Mas até chegar no 'for all', Geraldo teve muita batalha. No Recife já transava música, transou música depois que desceu pro Rio, só parando nas épocas em que a situação piorava, como nas duas vezes em que foi preso. Mas nunca com a intensidade e a entrega de uns quatro anos pra cá. Quando foi que realmente se assumiu, fez cinema com Sérgio Ricardo, fez novelas na Globo, fez um disco com Alceu... Aliás, foi desse encontro com Alceu Valença que pintou um pique pra música, Alceu lhe devolveu uma energia que ele tinha perdido. E apesar dele não considerar muito bom o disco, tanto por imaturidade deles quanto pela gravadora (a Copacabana nesta época produzia Agnaldo Rayol, Martinha, etc), foi aí o ponto em que começou a se preocupar mais com o outro lado da música, com sua projeção. Antes, música era apenas arte.
E por este outro lado da música, o - digamos - mais comercial, Geraldo Azevedo soube caminhar muito bem. Seu relacionamento com a Globo, por exemplo, já vem de longo tempo, tanto participando da TV em si mesma, como no caso das novelas, quanto utilizando-a na divulgação de suas músicas, incorporadas às trilhas sonoras globais. E faz isso sem o menor medo de concessões. Porque, para ele, a televisão serve apenas como divulgadora de um produto. O produto mesmo é o disco, e é nele que há o risco de concessão. A TV, ou seja, o relacionamento da TV com o músico é uma consequência do trabalho em disco. Se o músico conseguiu se manter inteiro no mercado do disco, não vai ser a TV que o forçará a concessões. Quem tiver qualidades sobreviverá, independente de ter se 'globalizado' ou não.
E ele vê poucos sobreviventes, atuais ou futuros, nos músicos de hoje. Por estarem se afastando culturalmente de suas raízes, por se renderem facilmente às influências ou exigências do mercado, poucos estão fazendo um trabalho duradouro. Como foi o caso da Blitz: como veio passou, meteoricamente. A única coisa com que Geraldo Azevedo concorda nisto tudo é a alegria, a redescoberta da alegria nas músicas. Que de mau humor nossa situação atual já está cheia, não é preciso que isso seja cantado nos rádios pra que tenhamos consciência da crise por que passamos. "
Que alegria ver que o trabalho do Jornal Nossa Música ainda reverbera
ResponderExcluirConheci esse jornal em um show em Sampa e me apaixonei. Tudo que eu mais gostava de música estava lá.
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